Capítulo Dezoito

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Mankanshoku

A tensão na delegacia estava estranhamente palpável, Moroe parecia prestes a morder algum desavisado que se colocasse em seu caminho, depois de dobrar um turno sua irritação era normal, mas Dias e Ashido também não estavam muito longe do que Moroe exalava, o fim de semana deve ter sido mais tenso do que o de costume.

— Bom dia. – Murmurei entrando na cozinha e recebendo alguns olhares já cansados.

Mal passava das nove da manhã e a maioria deles já estava acabada.

Ouvi um "Bom dia" Resmungado baixo. Moroe se levantou da cadeira espreguiçando o corpo velho em seguida deu duas batidas na própria barriga e saiu provavelmente em direção aos banheiros. Dias fez careta chegando a mesma conclusão que eu.

— Como foi seu fim de semana? – Perguntei para Dias pegando um pouco do café fresco.

— Um porre, alguns adolescentes resolveram que era legal importunar os vizinhos e os próprios pais, quase pela cidade inteira tivemos ocorrências de som alto, brigas, destruição de patrimônio público e teve um casal infeliz que quis fazer sexo ao ar livre próximo a residência de uma senhora de idade. Acredita que os gritos dele acordaram ela? Tadinha, se assustou porque estava sozinha em casa durante a madrugada. – Ela respondeu passando a mão pelo cabelo.

Segurei uma risada.

— Moroe virou um turno e mal dá pra aguentar do tanto que ele está insuportável, brigando com todo mundo até a Mariane já levou um esporro hoje mais cedo por estar mexendo no telefone perto dele. – Dias se levantou — Vou pra casa agora, preciso dormir um pouco, virar um turno não é nada agradável, o capitão ainda não chegou mas Ira está dentro da sala dele, se precisar de alguma coisa pode ir falar com ele que ele resolve.

Ela saiu se espreguiçando um pouco, diferente de Moroe foi para a sala dos detetives buscar suas coisas antes de sair.

Ao voltar para minha mesa chequei os e-mails do capitão, alguns pedidos e uma lista de tarefas que consegui realizar pouco antes do meio dia, não pude ver Ira durante a manhã, nem ao menos consegui verificar se ele estava mesmo enfiado dentro daquela sala minúscula e se seus machucados já tinham se curado.

Na recepção começou um alvoroço que me fez querer levantar e ir ver o que estava acontecendo, mas apenas a obrigação me manteve sentada na cadeira. De onde eu estava consegui escutar apenas algumas frases soltas.

O que você acha que está fazendo? Vai me denunciar? – Uma voz masculina soou — Você só pode estar de brincadeira, eu te dei tudo o que você queria caralho, você tá maluca?

Você é um bosta. Tira essa mão sebosa de mim. – Uma mulher foi que falou dessa vez.

— Ei, ei, o que é que está acontecendo aqui? Isso é uma delegacia de polícia não a casa da mãe Joana, parem de gritar ou eu prendo todo mundo. — Foi a voz de Bruno que fez com que todos se calassem de uma vez.

Segurei minha risada quando escutei a mulher dizer "Tá vendo? Vão jogar nós dois dentro daquela cela nojenta por sua causa. "

— Não devia ficar rindo das pessoas que veem até aqui pedir ajudar, Mankanshoku. – A voz de Ira me fez pular na cadeira

— Que susto – Levei a mão ao peito sentindo meu coração disparar e meu rosto esquentar de vergonha. Ele chegou tão na surdina que eu nem escutei seus passos.

Ele me deu um meio sorriso e pude notar que seus olhos desceram levemente até meus lábios, com uma piscada esse olhar lascivo se distanciou de mim, depois do beijo que tivemos não sobrou muito tempo para falarmos sobre o que aconteceu, uma coisa atropelou a outra e até agora não tivemos uma conversa decente.

Tão rápido quanto apareceu o sorriso em seu rosto sumiu e ele pareceu farejar o ar.

— Está sentindo esse cheiro? – Ele perguntou

Contive o ímpeto de me cheirar em busca de algum fedor e busquei no ar ao meu redor alguma coisa, ao longe pude sentir cheiro de gás.

— É gás? – Perguntei notando que o cheiro ficava cada vez mais forte.

Moroe colocou a cabeça para fora da sala dos detetives fazendo uma careta.

— Que porra de cheiro é esse?

— Os chuveiros daqui ainda usam gás, acha que pode estar com um vazamento? – Perguntei vendo Ira começar a analisar as possibilidades.

— Vou verificar e também vou dar uma olhada na cozinha, ligue para os bombeiros, enquanto faz isso avise para as pessoas que vir para saírem do prédio, não dá para saber ao certo o que está acontecendo, uma faísca e teremos um grande problema.

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