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Zachary tinha nove anos quando se apresentou pela primeira vez.

Naquela época, ele tinha suas aulas de canto há mais de um ano já e, para comemorar este fato, sua professora achou que a turma dele estava pronta para cantar em frente a um público, que consistia basicamente nos pais dos alunos e em alguns funcionários da pequena escola primária. Enquanto se preparava, ele não muito ficou nervoso, a música na ponta de sua língua como estava – tanto que até tinha tido um sonho bem estranho do sol realmente cantando a música do ato dele, ao que ele pedalava uma bicicleta vermelha.

Daniel, seu melhor e único amigo até aquele momento, diferente dele, tinha estado um tanto hesitante para cantar em frente a tantas pessoas. Ele suava frio sob o terno que usava e sua mãozinha tremia enquanto segurava um copo de água que a professora tinha lhe dado. Instantes antes de ele subir ao palco, como o bom amigo que era, Zach tinha se aproximado do Seavey e pegou a mão dele, dando um pequeno e o que ele esperava ser reconfortante aperto, desejando boa sorte e dizendo que seu amigo iria arrasar.

O Herron assistiu a apresentação do de olhos azuis do lado do palco mesmo, escondido atrás da cortina, e, ele já sabia disso porque já o ouvira cantar várias vezes antes, mas a voz de Daniel, mesmo ainda tão novo, já era incrivelmente bonita. Ele tinha muito talento, isso era óbvio. E o de bochechas rosadas foi um dos primeiros a aplaudir e sorrir para ele, que estava corado quando acabou de cantar, mas que sorria grande também.

Quando chegou seu momento de subir no palco, Zach já estava com a fantasia de sol e uns seis colegas de sua classe estavam fantasiados de nuvens. Ele sabia a responsabilidade que tinha, afinal, ele iria cantar um verdadeiro clássico de uma das bandas que mais marcaram seu lugar na história da música. Graças ao seu pai, desde muito pequeno, o mais novo sempre ouviu e adorou as músicas dos Beatles, e agora seria o momento de "honrá-los". Ok, pensando bem, ele se sentiu um pouco nervoso, sim. Isso, porém, pareceu acabar no instante em que a melodia de Here Comes The Sun ecoou por todo o salão e ele entrou, o sol, cantando aquela música que ele sabia tão bem e que era tão bonita.

Ele se lembra de terem lhe aplaudido, assim como aplaudiram Daniel e todos os seus outros colegas de turma que também tinham cantado. Se lembra de ter sorrido largamente, mesmo com alguns dentes de leite faltando em sua boca. Se lembra de ter sentido a música lhe envolver, seu coração acelerado e algo diferente vibrando em suas veias.

O caminho para a casa dos Seavey seguiu cheio de mais algumas teorias loucas sobre o que o Big Hills poderia estar planejando, risadas ecoando pelo carro de Jack e bastante música – o que, à essa altura, já não era mais nenhuma surpresa. A casa de Daniel nem era tão longe, mas, ainda assim, após a mensagem de Christina, os dois garotos pagaram pelos chás e saíram, numa mistura de euforia e curiosidade, do café, seguindo para a casa do Avery um pouco mais rápido do que o necessário para buscar o carro do mesmo.

Às vezes, durante o percurso, em meio às canções dos mais diversos estilos e enquanto o outro estava dirigindo, Zach se pegava, perdido, observando os detalhes e a beleza e suavidade no rosto de seu amigo. Era muito bom que os dois tivessem voltado a ficar confortáveis um com o outro, que eles tivessem se resolvido, e isso ainda não significava que, qualquer que fosse o momento em que se lembrasse do que aconteceu naquela noite de sábado, o Herron deixaria de ficar corado – era algo que ele simplesmente não conseguia evitar. Mas, assim como o outro, ele também tinha estado com saudades de conversar com o cacheado e de rir de suas piadas e de aproveitar da sua companhia. Afinal, antes de qualquer coisa, eles eram amigos.

Em um determinado instante em que o sinal ficou vermelho e o de bochechas rosadas se permitiu olhar para fora da janela, em sua mente vieram recordações da primeira vez que ele entrou no carro do mais velho. Diferentemente de agora, não foi algo muito agradável, visto que eles nem conversavam direito naquela época e que Jack tinha acabado de impedir que ele levasse o que ele acreditava que seria uma bela surra de Eben. Era bom, porém, ver o quanto a amizade deles tinha evoluído e como momentos como esse, o do banheiro e o do Avery no karaokê após uma briga com seu pai, mesmo que ruins, foram importantes para que sua amizade ganhasse ainda mais forma e significado e confiança.

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⏰ Última atualização: Oct 05, 2021 ⏰

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Lie | JacharyOnde histórias criam vida. Descubra agora