Lie | Jachary

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Após correr da praça naquele domingo, dando desculpas esfarrapadas para seus irmãos curiosos, Zachary se encontrou numa situação nem um pouco agradável e totalmente incerta.

A primeira coisa que fez ao adentrar sua casa foi fechar as janelas da sala de estar o mais rápido que conseguia. Ele não queria correr o risco de ser avistado pelo garoto que o envia mensagens, tampouco queria que ele tivesse a chance de os observar dentro de sua casa. Parecia paranoico, e talvez até fosse, mas quem poderia culpá-lo?

Ele não estava bem, nem de longe. O que era para ser uma manhã legal de domingo, depois daquele seu surto de coragem do dia anterior, se tornou uma manhã mil vezes pior do que aquelas em que ele acorda cedo para uma aula de educação física.

Mas, sério, quem em sã consciência estaria totalmente calmo quando se tem um garoto, que supostamente é apaixonado por você, te enviando coisas bizarras e te perseguindo?

Na verdade, Zach não tinha certeza se estava sendo seguido, talvez o outro apenas estivesse passando pela praça naquele horário e o viu com os irmãos e as irmãs de Jack... Mas seria muita coincidência, não?

Uma péssima coincidência.

O Herron subiu para o seu quarto, recebendo um olhar preocupado de Ryan, mas que ele nem notou. Apenas fechou a porta atrás de si, fez o mesmo com a sua janela e se sentou em sua cama, se permitindo soltar o ar que ele nem tinha percebido que estava prendendo e atirando seu celular no carpete vermelho.

Ele planejava não contar a nenhum de seus amigos sobre as novas mensagens do tal garoto e de como ele sabia que o de bochechas rosadas estava no parque naquela manhã. Pelo contrário. Seus amigos haviam adotado uma rotina desde o dia em que ele recebeu aquele "presentinho" na escola, e ela consistia em perguntá-lo diariamente se ele estava bem, se o menino o tinha enviado mais alguma coisa e se ele tinha realmente certeza de que não queria denunciar o garoto. E ele estava pronto para mentir, quando eles fizessem essas perguntas para ele naquele dia.

Não o entenda mal, nem o julgue, Zach só não queria preocupar seus amigos.

Foi só uma coincidência, pensou, tentando convencer a si mesmo, ele não iria fazer nada, só me enviou umas mensagens. Só isso.

Ele sentiu a respiração desregulada e abraçou seu travesseiro, quando uma maldita lembrança passou por sua cabeça.

O sangue. O coração. A carta.

Seu coração se acelerou com tal lembrança e seus olhos ficaram marejados. Ele passou a olhar para todos os cantos do quarto, com medo de alguém vir do nada para lhe entregar algo como aquilo, também para confirmar que ninguém estava o observando naquele momento de tanta fragilidade.

Dois toques em sua porta o fizeram parar e ele dirigiu seu olhar para ela mais que imediatamente.

Não sabia o que pensar.

— Zach? - a voz de seu irmão se fez presente do outro lado da porta, um tom calmo, mas preocupado. — Está tudo bem?

Ele, com certeza, não queria que seu irmão o visse daquele jeito, então colocou seu travesseiro no lugar, respirou fundo e se levantou em direção à porta.

Estava tudo bem.

— Está, sim. - disse, ao que olhou para o mais novo, forçando um sorriso. — Mas eu realmente preciso me distrair. Quer jogar alguma coisa?

Ryan não perguntou nada, apenas sorriu para ele, e, com isso, o dia dos dois se resumiu a jogos, assistir televisão com Reese e sua mãe e, à noite, fazer uma vídeo chamada com seu pai. De vez em quando, o de bochechas rosadas se lembrava das mensagens, mas era só olhar para sua família e o sorriso de seus irmãozinhos que ele esquecia de tudo e apenas sorria.