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Após sair da casa dos Marais e dirigir por uns três quarteirões, Jack fez a curva do bairro no qual tinha vindo morar com seu pai. Ele sentiu suas pernas ficarem meio trêmulas e sua respiração, por um momento, falha, mas então se forçou a acreditar que talvez o homem esteja pronto para ouvir o que ele tinha a dizer e que sua ida até ali não tinha sido em vão. 

Desde pequeno, tudo que o cacheado queria era o apoio do pai, queria que ele o olhasse nos olhos, sorrisse, assim como fez quando sua irmã mais velha estava prestes a entrar no avião que a levaria para outro país, e dissesse aquela simples frase, mas que Jack sempre quis ouvir: siga seus sonhos. 

Ele sabia o porquê de seu pai ter sido diferente consigo, ou ao menos achava que sabia. O homem, quando Jack era mais novo, apontava suas semelhanças e fazia questão de falar para o filho sobre o quão bem sucedido ele seria se usasse de seu talento para com os esportes. Mas, na verdade, não era por isso, era por algo sobre o qual o homem nunca havia comentado, simplesmente, porque ele não gostava de se lembrar disso. E o garoto não sabia disso.

Agora, ao estacionar o carro em frente à casa do pai, Jack desce do mesmo e se dirige à porta, tocando a campainha, em seguida. Não demorou muito até que John viesse atendê-lo. Ele sorriu, ao que viu o filho, e o de cabelos encaracolados pensou naquele sorriso como um dos mais verdadeiros que o homem já guiou a si em anos.

— Que bom que veio, filho. - abriu mais a porta para que o garoto entrasse e ele o fez, se sentando no sofá de veludo preto, ainda nervoso.

— Por que me chamou? - murmurou ele, relutante, brincando com os anéis em seus dedos. 

— Porque precisamos conversar, Jack. - ele caminhou até o sofá, após fechar a porta, e se sentou de ao lado do filho. — Soube que continua treinando com o time... Como você está se sentindo ultimamente? 

— Poderia estar melhor, mas estou bem. - respondeu, simplesmente. — E continuo treinando porque não vou abandonar os garotos na fase de classificação. 

— Entendo. 

— E como você está? 

O homem ficou surpreso com a pergunta do filho, devo dizer, ele não esperava que, depois de ter sido tão rude e egoísta no último encontro dos dois, o garoto iria perguntar como ele estava. É, ele pensou, por quanto tempo eu julguei mal o meu filho? 

É agora, John! Só diga tudo o que está sentindo. 

— Estou bem também, obrigado. - sorriu fraco, mexendo-se, de forma desconfortável, no sofá, e soltando um suspiro pesado em seguida. — Sabe, Jack? Nesses dias em que você esteve fora, eu refleti bastante e pedi vários conselhos ao Timothy. Ele me fez perceber que não estou sendo um bom pai para você e também que só estou te afastando de mim, filho, exatamente como seu avô fez com que eu me afastasse dele. 

Jack engoliu em seco, naquele momento. Seu pai nunca dissera absolutamente nada sobre seus pais, tampouco os apresentou aos netos. 

E, como se conseguisse ler seus pensamentos: — Nunca contei nada sobre ele, não é? - o cacheado assentiu, fracamente, a dúvida de sua infância voltando a perturbar sua mente. — Ele lutou na guerra, seu avô, e voltou bastante diferente, segundo a minha mãe. Ele tinha uma guerra dentro dele e não estava pronto para contar nada sobre ela para ninguém. Era difícil, não só para ele, mas para eu e sua avó também. - seguiu-se uma pausa, na qual só se foi possível ouvir o som de um carro passando na rua. — Não conversávamos. Na verdade, não sei se um dia descobri uma única coisa que ele apreciava, além de charutos e cerveja. 

O mais novo percebeu que aquilo parecia ser um tanto difícil para seu pai, mas não planejava interrompê-lo, pelo menos, não agora. Afinal, se ele o chamou ali e começou a contar essas coisas, era porque queria, certo? 

Lie | JacharyOnde histórias criam vida. Descubra agora