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Zachary Herron

Sigo sem ânimo para a sala. Segunda feira e aula de matemática, tem como ficar pior? Adentro a sala, procurando por um lugar afastado, enquanto fecho a porta. Acho um próximo a janela, no fim da sala, e me sento.

— Bom dia, alunos! - a professora diz, ao entrar, um sorriso animado nos lábios. É sempre assim. Ela chega confiante e de bem com a vida, mas aos últimos minutos de aula, com os alunos que não prestam atenção e os que adoram uma farra, ela parece contar os segundos para sair.

Eu gosto dela, mas odeio a matéria que ela aplica. De algum jeito, matemática não entra muito bem na minha cabeça.

— Okay, quero um trabalho para quinta. - ela diz, depois de colocar sua bolsa na mesa, se sentando. — Formem duplas!

Vejo todos, ou quase, chamando seus colegas para fazerem duplas, mas, como Daniel ou Corbyn não fazem essa aula comigo, não tenho ideia de com quem farei esse trabalho.

Observo que quase todos os alunos tem duplas, exceto o loiro arrogante que adora mexer comigo, Eben. Eu faço com qualquer um, menos com ele.

— Zach, já tem um parceiro? - a professora pergunta, dirigindo o olhar a mim, torço os lábios. — Eben, e você tem alguém? - ela olha agora para o loiro, que está sentado do outro lado da sala. Eu tenho que arrumar uma solução. — Acho que vocês dois pod-

— Sinto muito, professora, mas vou fazer com o Avery! - a interrompo, antes que ela me coloque com aquele imbecil.

O cacheado, que acabou de entrar na sala, apenas olha meio confuso para mim, para a professora e para os alunos, que por causa do meu tom alto tinham os olhos nele. A professora dá de ombros, enquanto noto Jack caminhando em minha direção e me surpreendendo ao se sentar na carteira à minha frente.

— Vocês deverão resolver as quinze funções juntos. Se eu descobrir, ou perceber, que algum integrante das duplas não moveu uma mão para fazer, essa pessoa receberá zero, automaticamente. - ela diz, começando a copiar as funções no quadro branco, logo, todos os alunos começam a copiar em seus cadernos.

Após chegar em casa, tomar um banho e comer algo, saio da mesma e atravesso a rua, seguindo em direção a casa de Jack. Havíamos combinado no recreio que faríamos em sua casa, pois, se meu irmão o visse na minha, não conseguiríamos fazer trabalho nenhum.

Toco a campainha, logo sendo recebido por ele. Seus cabelos estavam mais bagunçados que o normal e eu dei um meio sorriso a ele, quando o mesmo abriu mais a porta para que eu entrasse. Pelo que parece seu pai não está em casa, o que é até melhor, ele não aparenta ser muito receptivo.

— Pode se sentar...- ele diz, apontando para o sofá, enquanto pega sua bolsa, que estava sobre a mesa de centro.

Me sento e ele rapidamente se senta ao meu lado. Abrimos nossas bolsas e pegamos os cadernos. Ao abrir, me surpreendo um pouco com as funções... Eu não me lembro muito bem de como se faz...

— Eu faço oito e você as outras sete, certo?! - o cacheado questiona, se virando para mim. — O que foi? - sinto seu olhar ainda em mim.

— E-eu não me lembro como se faz isso. Foi mal!

O ouço soltar uma risada nasal. É sério que ele tá rindo de mim?

— Hey, 'tá tudo bem. - murmura baixinho e eu passo a encará-lo, ainda meio receoso, mas ele logo corta o contato visual. — Até onde você sabe fazer?

Mostro a ele. O mesmo tenta me explicar como faço para continuar a conta e, por incrível que pareça, ele conseguiu. Apesar de eu mesmo me pegar muita das vezes apreciando como ele fica diferente fazendo cálculos, consegui compreender a continuação das funções.

Nós conseguimos! Terminamos, finalmente. - Jack exclama, antes de soltar um suspiro, dessa vez mantendo o contato visual. E, pela primeira vez, pude analisar os detalhes de seu rosto. — Quer beber alguma coisa? Sei lá, você chegou e não te ofereci nada...- se levanta.

— Não, obrigado. - digo, enquanto guardo meu material, e o vejo assentir se dirigindo a cozinha.

Ouço o barulho da porta ser aberta e, logo, o senhor que esses dias entrou na sala do diretor - o pai de Jack - adentra a casa. Ele me guia um olhar estranho ao me ver no sofá, mas prefiro ignorar e voltar a guardar minhas coisas.

— Olá - ele diz, colocando seu casaco no gancho próximo a porta.

— Oi - me levanto. 

— Você me parece familiar...- murmura e observo o cacheado sair da cozinha. — Estavam estudando?

— Herron, acho que acabamos...- o outro diz, ignorando seu pai e parando à minha frente.

Assinto e, quando estava prestes a me dirigir a porta, ouço seu pai soltar um pigarro.

— Herron? Ah, claro, nossos vizinhos. Estudei com seus pais. - o senhor diz, nostálgico.

— Interessante. 

— 'tá bom, pai. Ninguém precisa saber da sua adolescência maravilhosa. - Jack ousa dizer, revirando os olhos, enquanto eu sigo para a porta, ele atrás de mim.

— Tchau, Herron - o cacheado murmura.

— Tchau, Avery - me viro, caminhando em direção ao outro lado da rua, no caso, para minha casa.

Ao chegar na calçada me viro para olhar para fechar a porta e acabo por vê-lo ainda parado lá. Ele estava olhando diretamente para o chão e parecia nervoso.

"Jack, anda mentindo para mim? Entre! Já!", ouço a voz do seu pai e engulo seco, antes de adentrar minha casa.

Será que ele vai ficar bem?

Claro, Zach, não é como se o pai dele fosse fazer algo com ele.

Será?

Com esses pensamentos, subo rapidamente para o meu quarto e pego o telefone, discando o número de Daniel, pedindo aos céus para que ele atendesse.

"Hum... Oi, Zach. O q...?", o interrompo, antes que ele pudesse terminar.

— Pode me enviar o número do Jonah? - pergunto, mordendo meu lábio inferior.

"Sim, mas... por quê?"

— Dani, não é como se eu fosse querer ele, okay... Só, por favor, me passa o número. - tento me manter o mais calmo possível.

"Já te enviei, mas depois você vai me explicar tudo!"

— Ah, okay! Valeu!

Uns cinco minutos depois de enviar a mensagem para Jonah, observo pela janela do meu quarto e vejo o moreno chegar na casa à frente, em um táxi.

Suspiro um pouco aliviado, mesmo não entendendo o motivo da minha preocupação com o Avery mais novo. Talvez, fosse apenas porque o tom de seu pai estava um tanto bravo.

— Zach? Aconteceu algo? - a voz suave da minha mãe se pronuncia atrás de mim.

— Não, mãe, 'tá tudo bem. - digo, me virando para ela, que não parece muito convencida.

— Sabe que pode me contar as coisas, não é?! - questiona, vindo a se sentar em minha cama.

Caminho até ela e me sento ao seu lado.

— Não é nada de mais... só um colega, que eu acho que estava precisando de ajuda. - digo, simplesmente, e sinto sua mão nas minhas costas.

— Quem? Posso ajudar de alguma forma?

— O Jack...- murmuro, quase inaudível. — e não vai ser preciso. O amigo dele já foi vê-lo.

— Certeza que é só isso?

— Estudou com algum Avery? - a pergunta escapa rapidamente da minha boca.

Sinto sua mão ser tirada das minhas costas, mas ela continua sentada. Agora, suas mãos estão em suas coxas. Isso é um claro sinal de que ela está... Nervosa?!

— Hum, sim, estudei - diz, tentando soar normal. — Por que a pergunta?

— Por... curiosidade, eu acho. 

Lie | JacharyOnde histórias criam vida. Descubra agora