Lie | Jachary

30

Ao acordar e, através do vidro de sua janela, conseguir observar a água da chuva caindo e escorrendo pela rua, Zachary agradeceu.

Ele gosta de dias chuvosos por vários motivos, mas hoje se resumia ao fato de que não teria de enfrentar a escola ou tudo que estivesse relacionado ao desconhecido-maníaco, que o envia coisas estranhas.
Seu plano para aquele dia de terça era ficar em seu quarto, fazendo absolutamente nada.

Conseguiu ouvir, mesmo com o ruído provocado pela chuva, a doce voz de sua mãe o chamando para o café. Ela sabia que o filho estava acordado, mas o garoto, por sua vez, não demonstrava muito entusiasmo com a ideia de descer as escadas e também não estava com fome.

Ontem, após chegar da escola, o garoto de bochechas rosadas se trancou em seu quarto e chorou muito mais do que havia chorado no banheiro da escola. Ele estava assustado, e com razão. Não é todo dia, e nem qualquer pessoa, que recebe algo como aquilo que o mesmo havia recebido como se fosse um presente, o que só acaba por deixar a situação mais sombria.

Quem diabos tem a coragem de enviar um coração à outra pessoa?

Por outro lado, este que (como já fora dito) ele ainda não compreendia muito bem, o rapaz ficou brevemente melhor ao receber apoio de seu vizinho, quase amigo, durante o tempo que os dois passaram no dia anterior. Jack realmente parecia preocupado com ele, e, por incrível que pareça, um sentimento de proteção tomou conta de Zach. Mas, com certeza, ele faria o mesmo com qualquer um, pensou se sentando na cama, não é como se eu fosse especial ou sei lá... Jack é bom com as pessoas e se importa com elas.

— Zach? - a voz de sua pequena irmã ecoou como um sussurro pelo quarto do mesmo, o fazendo olhar em direção à sua porta.

— Reese, o que faz acordada a essa hora? - indagou ele, enquanto observava a garotinha se aproximando de si.

— Estamos preocupados, oras...- ela disse, como se fosse óbvio, e parou em frente ao irmão. — Aí, eu achei que você iria ficar melhor se eu viesse te buscar e te desse um beijinho.

Zach sorriu verdadeiramente para a mais nova dos Herron e, apesar de ainda não estar muito disposto a descer, acabou pegando a mão que a mesma o oferecia e se levantou da cama, os dois caminhando juntos na direção das escadas em seguida.

Quando eles adentraram a cozinha, onde se encontrava a mesa farta servida com a refeição matutina, no centro do cômodo, eles se sentaram, um ao lado do outro, e sua mãe esbanjou um belo sorriso.

— Que bom que desceu, querido. - disse ela, passando geleia de framboesa em algumas torradas e, logo depois, colocando suco nos quatro copos.

— É... Acho que essa garotinha aqui consegue convencer qualquer um. - Zach apertou as bochechas de Reese. — A propósito, estou esperando meu beijinho. - brincou. A menina se inclinou um pouco para o seu lado e depositou um beijo estalado na bochecha, rosada por natureza, do mais velho.

Ryan, por sua vez, estava silencioso. Na noite anterior ele havia escutado alguns soluços vindo do quarto de seu irmão mais velho, porém, quando bateu a porta, não recebeu nenhuma resposta, tampouco fora atendido. Talvez, ele não confie em mim, ele pensou ao olhar para Zachary que ainda aparentava estar cabisbaixo, mesmo sorrindo fraco para a mãe e a irmã.

Contudo, em defesa do de bochechas rosadas, ele não se lembrava, sequer ouvira as batidas do mais novo em sua porta. Ele havia trancado tudo. E ademais estava muito imerso em seus pensamentos para querer explicar o que estava se passando, ou para perceber qualquer um que estivesse fora do cômodo naquela noite.