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Zachary Herron

Entro na aula de biologia, o professor ainda não havia chegado na sala, logo, suspiro aliviado. Não sou só eu quem está atrasado. Passo por todos os alunos até chegar a minha carteira, que era a última da sala, sendo que Corbyn, meu parceiro nessa aula, não tinha chegado também. Me sento em meu lugar, observando outros alunos entrarem e reconheço, em meio a eles, os cabelos loiros de um dos meus melhores amigos.

O garoto vem em minha direção me contando alguma de suas várias piadas, mas contém o riso até se sentar.

- Idiota! - murmuro, batendo levemente em seu ombro, e ele ainda tentava prender a risada.

Acabo por rir, um pouco alto, por causa da careta que ele estava fazendo, mas, por pura coincidência, na hora em que Eben cai de uma cadeira mais à frente. Ele me direciona um olhar estranho - eu diria até bravo -, logo, se levantando ao ver que o professor tinha entrado na sala.

- Então, alunos, me desculpem a demora. Abram os livros na página 62 e posicionem os microscópios na mesas. - o mais velho diz, enquanto pega seu livro.

Após aulas de física, estudos sociais e matérias base - como gramática e matemática -, sigo para a saída sozinho, pois Daniel não se sentiu bem pela manhã e faltou aula e a turma de Jonah e Corbyn foi liberada mais cedo por conta da professora de matemática que teve de ir ao médico.

Chego na porta e percebo três meninos vigiando a janela do diretor. Isso é sinal típico de briga por aqui. Continuo caminhando, agora descendo os quatro degraus frente da porta, ignorando ao máximo os alunos que cochichavam, até ver que um deles levou o olhar a mim.

Ando pela calçada da escola, sem dar muita importância, as mãos no bolso do moletom e o olhar no chão, mas minha paz acaba, quando sinto alguém me empurrar e minhas costas se chocarem contra chão. Olho para cima e vejo um Eben risonho e o "bolinho" de alunos formado à nossa volta.

- O que 'tá acontecendo? - questiono baixo, me levantando, e apertando com certa força as alças da minha mochila.

- Isso vai ser pra você aprender a não rir mais dos outros...- um sorriso cínico se forma em seus lábios. — Eu não queria ter que fazer isso, mas você vai se arrepender, Herron!

O maior vem em minha direção e me empurra novamente, se aproximando de mim com um olhar divertido.

- Ah, Herron, nem vai tentar revidar?! - ele solta uma risada.

- Quebra a cara dele!

Olho para o loiro com certo medo, pois, dessa vez, ele está com os punhos cerrados. Ele eleva o braço para ganhar impulso, logo, fecho meus olhos para não ver o impacto e apenas sentir.

Entretanto, nada acontece.

Ouço alguns alunos emitirem sons de surpresa e então abro meus olhos lentamente, vendo que o diretor Clarke estava ao lado de Eben e, ao olhar atrás do mais velho, meus olhos encontram os de um certo cacheado que fez o trabalho de matemática comigo ontem.

- Temos que conversar, senhor Franckewitz...- o diretor diz, enquanto o guia para dentro da unidade escolar.

- Perderam mais alguma coisa aqui? - o cacheado questiona, sem paciência, para o círculo de pessoas à nossa volta, que logo se desfaz, e os alunos voltam a agir como se nada tivesse acontecido. - Vem! Te levo em casa. - ele me encara e eu nego com a cabeça.

- Eu vou a pé.

- Ah, okay...- dá de ombros e começa a seguir em direção ao seu carro. Bufo, pois tinha achado que ele poderia insistir mais um pouco; eu acabaria cedendo. E, também, se eu for sozinho, Eben poderia me encurralar na rua e isso seria mais humilhante que apanhar na escola.

Corro na direção de seu carro e, quando o alcanço, paro para pegar um ar. Ele também para e me encara com as sobrancelhas arqueadas.

- Pode me dar uma carona? - torço os lábios e ele dá um meio sorriso, abrindo a porta do motorista, entrando no carro.

- A porta do carona 'tá aberta! - exclama, enquanto liga o automóvel, o que me faz rodar por trás do carro entrando no mesmo.

- Obrigado!

- Não foi nada. Eu estava saindo quando me disseram que ele queria te dar uma surra.

Ele põe o carro em movimento e eu me permito olhar pela janela a bela paisagem da nossa cidade. Também, como uma maneira de disfarçar a timidez.

- Valeu! - o ouço murmurar e dirijo meu olhar a ele. - Por ter chamado o Jonah ontem...- diz, como se fosse óbvio, ainda olhando estrada a frente.

- Aconteceu alguma coisa, sei lá, antes dele chegar? - questiono, meio receoso, e ele me olha, mas logo desvia.

- O que acha que aconteceria?

- Sei lá... ele brigou com você? - digo, olhando para a rua também. - Gritou com você? Não sei...

Sinto seu olhar em mim, agora que paramos no sinal, mas não me arrisco a olhá-lo, sei que, se o fizer, ele cortará o contato rapidamente.

- Esquece! Mas valeu. Não precisa se preocupar, ou sei lá o quê. Eu sei como contornar esse tipo de situação. Ele é meu pai, não me machucaria. - dito isto, o semáforo fica verde e o cacheado volta a dirigir o carro, virando a esquina de nossas casas.

Um silêncio repentino, qual já é característico de momentos que estamos juntos, se instala entre nós e nenhum dos dois, ou pelo menos eu, não faria menção em quebrá-lo. Mas estava um pouco errado.

- Talvez o Eben deixe de te perturbar por um tempo. - Jack diz, parando o carro em frente à minha casa.

Suspiro pesado.

- Tomara! - falo, descendo do veículo, logo, me viro para o outro, forçando um sorriso. - Obrigado, por me ajudar com ele, mais uma vez.

Fecho a porta do carro, antes que ele possa dizer mais alguma coisa, e sigo em direção a porta da minha casa, adentrando a mesma, em seguida. Ele não parecia muito seguro de si ao dizer que sabia contornar a situação, mas não posso forçá-lo a confiar em mim, mesmo que queira ser seu amigo.

Lie | JacharyOnde histórias criam vida. Descubra agora