Capítulo 3

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No outro dia acordei normalmente, como se nada houvesse, como se o dia de ontem coubesse em um sonho que eu aceitei e não iria desfazer a magia. Arrumei minha mala, ouço alguém bater na porta, era a minha Nona Norma, ela foi a minha babá, na verdade ainda acho que é, só que agora é diferente, agora ela tinha cabelos brancos e encolhido um pouco, ou tinha crescido, não sei.


- Vai tomar café querido? Preparei panquecas e você pode passar na geleia, comprei escondido da sua mãe. - Essa era a Norma, tem quase sessenta anos e ainda fazia travessuras e o possível para me mimar com doces e porcarias, coisas que minha mãe sempre me impediu de experimentar. - Fiz um lanche natural para você levar à escola e coloquei umas frutas.

- Obrigado, já estou descendo. Vou tomar café só porque quero as panquecas na geleia. - Faço um joia para ela em seguida Norma sai.

Vou ao banheiro para escovar meus dentes, me olho no espelho ainda odiando aquela imagem que refletia um ser magro camaleão que sumia em paredes brancas, apoio-me na pia e fico me perguntando como pude nascer um ser tão desprezível. Como eu fui nascer? Não acredito que odiava tanto a minha vida, acho que nunca vou conseguir me perdoar por tudo o que houve na minha vida.

Saio de casa, ajeito meu sapato e tranco o portão, meus cachorros ficam pendurados chorando implorando pela minha volta, faço carinho em ambos e sigo andando. No caminho à frente lembro-me de Will, penso em como será daqui para frente, o que eu teria que fazer agora? Paro, olho para o céu, a imaginação toma conta de mim como uma criança que tem apenas um pedaço de madeira na mão, o que eu faria com aquela madeira chamada Will? Talvez desse um beijo de bom dia... Não! Talvez seguir nosso caminho até a escola de mãos dadas... Nem pensar! Talvez um aperto de mão e um sorriso seria o ato mais normal do mundo. Ding ding ding. Minha cabeça apita, era aquilo mesmo que eu iria fazer.
Chegando perto do portão roxo, sinto meus coração acelerar, meu estômago embrulhar e aquela leve sensação de estar salivando mais que o normal, sinto um calor invadir meu corpo, o sol nem estava tão forte assim para que eu pudesse sentir as gotículas escorrem na minha testa, tentei inúmeras vezes respirar sem parecer nervoso, mas em todas as vezes que eu tentava respirar parecia uma mulher grávida entrando em trabalho de parto, por que o caminho tinha que ser tão curto e ao mesmo tempo tão longo?
Ouço um barulho e lá está ele abrindo o portão, estava usando o uniforme com uma bolsa transversal cor bege, tinha os cabelos bagunçados de alguém que tivesse acabado de levantar, mas deixou bagunçando, porque é o estilo dele, a cor morena de sua pele junto dos seus cabelos negros, apenas uma coisa para que ficasse perfeito, um pequeno detalhe. De repente ele vira na minha direção e retira seus fones de ouvido e lá estava seu toque final, seu sorriso, a única coisa que poderia ser banal para qualquer outra pessoa, era um toque pessoal que eu aprendi em tão pouco tempo a apreciar e sentir falta.

- Bom dia Caleb. - Fui andando em sua direção, tento sorrir, mas sou um pedra, é difícil sair um sorriso, ainda mais quando eu quero.

- Will...

Meu Deus, não sei o que fazer, como me comportar, será que posso beijá-lo? Será que posso tocar seu rosto? Ele vem até mim como alguém que quer abraçar, mas ao chegar perto ele apenas estende a mão para que eu possa apertá-la, olho incrédulo para cima e ele continua a sorrir. Então é assim? Só um aperto de mãos depois de tudo o que rolou ontem? Quer dizer... Daquilo que rolou?

- Dormiu bem? - Ele solta a minha mão e sinto como se tivesse arrancado algo de mim, faço que sim. - Que bom.

O caminho até a escola é ainda mais torturante, passo o caminho inteiro olhando para o rosto de Will, ele parecia estar tão normal, como se nada houvesse, será que eu estava exagerando? Talvez um beijo fosse de menos, talvez fosse apenas um beijo e nada mais, talvez estivesse levando a sério demais tudo aquilo.

Um ceu cheio de estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora