Capitulo 16

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Dois anos antes

Estávamos na primavera, tempo que as árvores começavam a dar frutos e as pessoas da Villa estavam animadas com o festival da colheita que seria no final do mês, a preparação para ele estava a todo o vapor. Caminhar pelas estradas e encontrar pessoas com grandes cestas cheias de frutas nas mãos se tornou uma rotina, ainda mais quando estava perto do meu aniversário, ou seja, o dia do festival seria no mesmo dia do meu aniversário de 21 anos, atingiria minha maioridade em qualquer país, mesmo já sendo de maior no Brasil desde o s dezoito. A faculdade já estava no fim e o clube de tênis já estava quase assinando um contrato comigo de professor efetivo, eu não via a hora de me sentir alguém na sociedade, a única coisa que ainda me mantinha preso às amarras eram os malditos treinos.

Passo por toda aquela bagunça e sigo para uma casa mais afastada, avisto Matheo de longe com os braços cruzados e me encarando sem paciência, droga eu não conseguia gostar dele, eu não conseguia me acostumar com a porra da presença dele, todo santo dia quando eu me levantava lembrava de suas palavras a respeito da famiglia, servir e proteger a quem nos deu o nome e a força para seguir a diante, eu sabia quem eu deveria servir e proteger, mas eu não conseguia aceitar que o servir e proteger era ao lado dele e de acordo com os estudos sobre Capos, ele era meu braço direito, deviamos ser unha e carne, mas mesmo assim ainda não me descia tudo aquilo.

-Bom dia flor do dia. - Esbarro em seu ombro e entro na casa. - Está cinco minutos atrasado, por um acaso esqueceu o caminho?

Ignoro o comentário, tiro minha mochila das costas e a jogo no tatame improvisado que tínhamos ganhado de alguns moradores para fazer nosso treinamento, qualquer coisa que era pedida ao conselho da Villa, os moradores davam um jeito de arrumar, todos ali eram muito unidos.

- Uma senhora estava carregando uma cesta maior que ela, tive que parar um momento para ajudá-la.

- Oh, que fofo, como gratidão por sua bondade vai fazer cem flexões, só cem, porque hoje acordei de bom humor. - Reviro os olhos e vou para o chão. - Se revirar essa merda de olho pra mim mais uma vez, vai aumentar para 500 flexões e 5km de corrida sem a porra do descanso.

Olhei para a frente, não me atrevi a fazer aquilo, os treinos de Matheo eram muito intensos, eu normalmente saia de lá, ia direto para casa só para dormir, tirando os dias de luta intensa, onde eu mais apanhava do que batia nela, esses dias eu só voltava para o treino na semana seguinte, porque ficava muito machucado. O desgraçado gostava desses dias e pelo seu bom humor, hoje o treino seria de esquiva, droga eu ia apanhar e muito.

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- Bom, olhe para você. -Eu já estava ensopado, além de ser primavera e estarmos no meio do mato, dependendo do horário o sol batia direto na pequena cabana e ficava quase insuportável de ficar lá dentro de tanto que o ar ficava abafado, a sensação era que meu corpo estava derretendo, mesmo com uma camiseta leve já estava encharcado. - Nem começamos e você já está morrendo? É mesmo um fraco.

Luto contra a vontade de revirar os olhos para ele, afinal, Matheo estava enrolando uma faixa em seus punhos, não usamos luvas hoje, aquilo fez com que minha garganta começasse a secar ainda mais, o soco seria mais duro do que quando usávamos luvas, eu estava muito fodido.

- Matheo... - Ele me interrompe.

- Hoje nós vamos simular uma tortura. - Nós sempre simulavamos uma briga. - Uma briga de rua, se você perder, você morre.

Aquilo não me deixava assustado ou preocupado, eu apenas lutava por lutar, creio que se o sacrifício fizesse parte de um bem maior, se o meu sacrifício livrasse aqueles que eu amo não seria um desperdício, sem contar que minha mente suicida não se opunha, talvez ir embora era a melhor escolha. Matheo olhou para mim, sua expressão mudou e um longo sorriso surgiu em seus lábios, ele teve uma ideia, mas não era uma ideia boa, era uma ideia revolucionária que iria me quebrar todinho e mudar completamente meu rosto apático.

Um ceu cheio de estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora