Capitulo 27

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Matheo

20 anos atrás

Estava chovendo nesse dia, eu lembro, porque eu senti gotas pesadas caindo sobre a minha cabeça, lembro também de reclamar muito, a chuva estava forte e batendo diretamente na minha cabeça estava incomodando muito, mas ela não queria me responder, ela simplesmente ignorou meus pedidos dentro de uma cesta rasgada e desconfortável, me carregou até a porta de uma casa enorme, tocou a campainha uma vez, eu me lembro de que o seu único ato de carinho foi colocar aquela cesta no chão com delicadeza e sair sem nem mesmo me dar a lembrança de seu último toca ou de um olhar caridoso que uma mãe poderia dar para o seu filho, ela simplesmente foi embora.

Quando dei meus primeiros passos eu não percebi que nunca teria medo de nada, até aquela noite que nunca se tornava dia, os barulhos do vento, as árvores que pareciam querer me devorar, por mais que eu gritasse ninguém, absolutamente ninguém iria me salvar daquele tormento, eu não sei quanto tempo eu gritei, quanto tempo eu chorei, mas em nenhum momento consegui fechar meus olhos, meu único instinto era pedir por ajuda.

Quando o céu mudou de cor e as estrelas perderam o lugar para o sol a esperança que eu nem tinha conhecimento do que era tomou conta do meu peito, que logo se esvaiu quando a porta daquela casa enorme se abriu e um homem bem maior que eu saiu, passou por cima de mim para olhar seu jardim que tinha sido destruído pela chuva.

- Um belo dia, uma noite terrível. - Meu estômago roncou, eu tinha que usar minha última força para que aquele homem me notasse.

Abro minha boca para soltar meu último grito, mas antes ele se virou e me encarou, automaticamente fiquei em silêncio, tive medo, notei que ele só estava me ignorando, ele sabia que eu estava ali, seus passos estavam mais lentos agora, ele olhava para os lados enquanto se aproximava de mim como se eu fosse uma bomba prestes a explodir ou um animal selvagem com o qual ele deveria ter muito cuidado.

- Vejamos o que a tempestade deixou na minha porta. - O homem me tirou do cesto e olhou para mim dos pés a cabeça como se eu fosse um alien. - O que temos aqui? - Sou virado de costas, de cabeça para baixo, meu cabelo é bagunçado e minha boca é aberta para que meus dentes sejam vistos. - Hm. - Ele traga seu charuto e sem poder tira-lo, pois estava com as duas mãos ocupadas solta sem pudor a fumaça em meu rosto me causando um desconforto terrível, sem conseguir evitar começo a tossir, isso o faz rir. - Sangue do meu sangue, hm?

- Chi c'è Dom? - Uma mulher o chama e sai pela porta também. - Cos' è questo? - Quando ela vê que sou um bebê seu olhar muda para fúria, ela fecha a porta e começa a gritar, o homem volta a olhar para mim e começa a rir.

- Bem vindo a sua nova casa Matheo Marini.

Naquele dia eu me tornei um Marini, a porra de um filho bastardo, a porra do garoto que todos de fora olhavam como o filho de Dom fora do casamento, aquele que não era bem vindo e que seria melhor estar morto do que ter coragem de pertencer aquela familia, a porra do sangue ruim dos Marini, naquele dia eu assinei meu atestado de obito sem nem ao menos entender onde eu estava entrando.


10 anos antes


Era meu aniversário, eu me lembro, estava completando 12 anos de idade, doze anos naquela família, parecia que cada ano que passava as pessoas do círculo íntimo do meu pai me odiavam ainda mais, as pessoas torciam para que acontecesse coisas ruins comigo, os garotos da escola me batiam, eu me envolvia em constantes brigas, eu era aquela criança que sempre estava machucado com curativos no rosto ou nas mãos. Meu pai como um bom pai nem ao menos olhava para mim, caso eu aparecesse machucado em casa e tivesse perdido uma briga, ele fazia questão de me bater ainda mais.

Um ceu cheio de estrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora