natal

43 6 0
                                    

Liz ignorou completamente o clima tenso da sala e entrou, girando no meio da roda de gente.

Exibia o vestido com orgulho, e seu sorriso com uma janelinha onde antes ficava o dente de leite era radiante.

Entre uma girada e outra, o ar da sala pareceu se suavizar. Era Natal, e nada poderia estragar o dia de Liz.

Ela nunca tinha tido um Natal com a família toda reunida, mas agora Joui e Agatha se suportavam o suficiente para que ela arriscadas pedir por aquilo.

Seu vestido foi recebido com salvas de palmas, e, entre abraços de todos os irmãos e da avó, Liz se sentiu a pessoa mais importante do mundo. A sensação era parecida com a que ela costumava sentir quando o pai a erguia e dançava com a mãe segurando Liz entre eles.

Seu pai tinha morrido há cinco anos. O tempo passava rápido. Mais rápido do que deveria. Isso queria dizer que ela passara mais tempo da vida sem o pai do que com ele.

A menina balançou a cabeça com força. Não ia se permitir ficar triste no Natal. Ao invés disso, foi ajudar Ivete a por a comida na mesa.

-- Isso aí é o que? -- Arthur perguntou com um sorriso estranho, olhando para a travessa que Liz carregava.

-- É pavê! -- A menina respondeu, na maior inocência possível.

-- Arthur não... -- Ivete disse, sem saber se ria ou brigava com o garoto.

O sorriso dele aumentou, e ele quase começou a rir no meio da frase.

-- Tá, mas é pa vê, ou pa cumê?

-- Arthur-san! Que piada mais besta! -- Joui parecia não entender por que todos estavam rindo.

Liz mesmo ria tão alto que teve que apoiar a travessa na mesa para não derrubar tudo no chão.

-- Nossa Arthur, essa foi de fuder hein. -- Agatha ajudou a irmã a colocar o pavê mais no meio da mesa.

-- Agatha! -- Os três homens gritaram.

-- Olha a boca, Agatha! -- Joui tinha uma expressão horrorizada. -- Tem criança!

-- Ai gente, que que tem, pelo amor de Deus, hein. -- A adolescente resmungou.

Agatha já era quase adulta agora, mas ainda parecia a mesma garota de sempre. Liz gostava disso. Sua irmã era sua irmã, e não ia mudar tão cedo.

-- Não é como se eu não escutasse isso da mamãe né... -- A menina arriscou falar baixinho, para que os irmãos não escutassem.

A verdade é que Agatha era boca suja, mas Elizabeth nunca tinha cuidado com isso. Falava com a filha com o se ela fosse uma adulta desde bebê. Talvez fosse por isso que a menina tinha um vocabulário tão grande mesmo sendo tão nova. Um vocabulário que incluía muitos palavrões.

-- A gente pode comer? Por favorzinho! -- Liz ficava olhando o relógio ansiosamente, a barriga já roncando.

Eram onze horas da noite, e nada de ceia.

-- Eu falei pra você comer antes de vir pra cá, Fritz. -- Agatha apontou o dedo pra irmã mais nova.

-- Eu tô guardando espaço pra ceia! -- Ela cruzou os bracinhos na frente do vestido, mal humorada.

-- Poxa deixa disso gente! -- Arthur sorriu. -- Vamo come que eu tô com fome que vale por dois de mim mais um do Kaiser.

Cesari riu.

-- Até parece. -- Ele piscou para Liz. -- Hoje eu vou comer suficiente pra derrubar até uma porta.

A garotinha riu alto. Era sua história favorita envolvendo o pai. A vez em que ele e César tinham tentado chutar uma porta e acabaram em vez de quebrar a porta, se quebrando.

E o pior! A porta tava destrancada. Só que em vez de puxar a porcaria da porta, os dois tinham tentado empurrar.

Liz agradecia por ter ganho os neurônios da mãe, e não herdado a falta deles do lado paterno da família.

Mas era depois da ceia que a diversão realmente começava. Os presentes debaixo da árvore.
______________________________________

Especial de Natal no meio de outubro? Por que não não é mesmo?

~Sly♡

Os Que Ficam Pra TrásOnde histórias criam vida. Descubra agora