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A DUDA É LINDA E MARAVILHOSA, NÓS AMAMO-LA

SARA CHANTAGISTA (CHATAGISTA // WINK WNK), DND BTW

Maya Moretti

Acordo com uma dor de cabeça insuportável e com o barulho de alguém a ressonar levemente. Tento levantar-me mas ao fazê-lo o meu corpo tomba para trás e volto a ficar deitada, impotente e sem forças. Ouço o barulho de uma cadeira a ser arrastada e viro-me para a fonte do som, um sorriso forma-se no meu rosto ao detetar o Dylan, a arrastar a cadeira para perto da minha cama de hospital.

- Dylan, olá! O que é que aconteceu? Quanto tempo é que passou? A Melissa e o Noah? A minha família?- pergunto assim que ele se senta ao pé de mim, sem lhe dar tempo de responder.

-Folgo em ver-te bem. Tu desmaias-te quando chegaste à porta, então trouxeram-te para aqui. Finalizas-te a prova às 4 da manhã, neste momento são 17 e tal. A Melissa e o Noah estão bem, falei com eles à coisa de 2 horas- diz olhando para o relógio- a tua família está bem, não te preocupes. E olá para ti também Fénix!- pisco os olhos atónita. Ele chamou-me Fénix? Fénix? Mas porquê? A ave e eu não temos muitas semelhanças.

-Fénix? De onde vem esse apelido?

- Sabes, o teu cabelo sobreviveu aos obstáculos e continuou a arder até ao fim, o que me lembrou uma fénix.

- Tens a certeza que não bateste com a cabeça? Bem, quero ir embora, este quarto é deprimente. Quando é que tenho alta?- digo enquanto me sento, mantendo uma postura séria.

-Ainda estás a ser avaliada, mas talvez tenhas alta amanhã- ele falou com toda a calma possível, mas percebi que me estava a esconder algo. De repente, uma vontade avassaladora de ir caminhar, espairecer um bocado, olhar para o céu atravessou-me e arranquei os fios que estavam ligados ao meu corpo e saltei para o chão, um pouco cambaleante pelo que o Dylan me agarrou pela cintura e me manteve de pé.

- O que raio é que estás a tentar fazer?- ele repreende-me mas vejo um sorriso enviesado erguer-lhe os cantos da boca.

- Eu quero sair daqui, só... ir para outro sítio. Estou a começar a deprimir e isso não é agradável.

-Nem um dia passou, mas concedo-te a vontade desde que ninguém saiba que saímos, temos que ser rápidos. Para teu azar ou sorte, conheço o sítio perfeito- ele diz com aquela arrogância, tão típica dele.

-Claro que conheces, o que é que tu desconheces?- resmungo ironicamente e vagamente divertida.

-O meu ego agradece. Eu não desconheço nada, assim como nada conheço. É um ciclo, tudo é um ciclo- fico a olhar especada a tentar assimilar o que ele disse.

-De onde é que isso vem? É que do nada vens com uma destas... , honestamente não percebo, num momento és um rapaz cheio de testosterona noutro um filósofo da Grécia Antiga, é como se a tua alma fosse antiga, não pertencesse a estes tempos- só quando ouço o silêncio, constrangedor e abrangente, é que me apercebo que pensei em voz alta.

-Talvez não pertença, ou talvez sim. Talvez seja a tua que não pertença a este século, Fénix. É um ciclo..

-É um ciclo...- respondo baixinho deixando as palavras assentarem no ar e num recanto da minha mente.

-O teu animal, fénix, também é um ciclo. Para ser franco, o símbolo de um ciclo. Bem, vamos ou não?

-Sim, por favor- imploro com uma voz rouca, devido ao cansaço. E nesse momento, os olhos do Dylan ficam mais escuros e as pupilas dilatadas, como um animal faminto.

-Mierda querida, não me faças isso. Não voltes a repetir essas palavras.

-Já dizia a America Singer: "I'm not your dear". E não queres que repita o quê? Ah, por favor- digo para o provocar, com um sotaque mais carregado e como resposta recebo um aperto na cintura, e a mão dele começa a descer, trilhando um caminho perigoso.

-Eu avisei-te Fénix, eu avisei-te- dito isto, ele pega-me ao colo e senta-me de volta na cama.

-Hum não Playboy, não é desta. Não sou as tuas "amigas" que tu comes e depois descartas- digo e caminho para a porta. O Dylan segue atrás de mim, estranhamente calado e com uma expressão magoada.

O caminho até o "sítio perfeito" é excruciante, nenhum de nós disse nada depois daquela cena no hospital da ADE e o único barulho no carro é o do rádio.

-Sabes, eu não te vejo como as minhas "amigas". Tu és mais do que isso- ele exclama exasperado, e olho para ele surpreendida.

-Tu não me conheces, não podes afirmar algo assim.

-Acho que conheço o suficiente. É aquilo: "Não é uma questão de tempo, é a intensidade" e não podes negar que o que nós temos é suficientemente intenso. Tu não és como elas, qualquer um vê isso. És o tipo de rapariga que merece alguém que a trate bem e de ser amada como deve ser. Bem, aqui estamos- ele estaciona e saio do carro. O Dylan pega-me ao colo, para não ter que andar e vejo que estamos numa praia. Uma praia lindíssima, a areia branca e o mar azul, com ligeiros tons avermelhados, devido ao pôr-do-sol. E para meu espanto vazia, eu e o Dylan somos os únicos seres humanos detetáveis em toda a extensão da praia.

-É mesmo o sítio perfeito-sussurro maravilhada.

-Sim, perfeito- então ele corre para o mar e entramos os dois na água. E para minha surpresa, a água está quente, e é impossível não me sentir a relaxar e grata. Mergulho na água e quando volto à tona, tenho uns olhos verdes a olharem para mim e sou recebida por um sorriso brilhante. E sorrio de volta, tentando ficar neste momento para sempre. Viro-me para o horizonte e aprecio o pôr-do-sol, se ele já é bonito ao longe, de perto na água, é completamente mágico. Uns braços fortes rodeiam o meu corpo e fecho os olhos, apreciando este momento.

-Sabias que Dylan significa "grande maré", "deus do mar" ou "aquele que veio do mar"? Acho que é por isso que gosto e me identifico com ele.

-Oh sim, é compreensível. Acho que Deus do Mar te fica bem- brinco e viro-me para ele.

-O meu nome é a única coisa que tenho dos meus pais, é a única coisa que faz com que eles sejam reais- sinto uma dor aguda ao ouvir aquelas palavras- Queres saber o que significa Maya? Eu pesquisei antes de vir.

-Diga-me, Deus do Mar.

-Maya significa "grande", "mãe" e "água", parece que temos uma ligação qualquer com a água.

-A nossa ligação é mais profunda que isso- digo e com um impulso salto para os braços dele, rodeando o tronco com as minhas pernas e beijando-o. Sou imediatamente correspondida e sinto o meu corpo começar a aquecer. Os lábios a saberem a sal e a menta são a minha perdição e continuo a beijá-lo até não conseguir respirar. Então abro os olhos e observo-o com atenção.

Olho para aqueles olhos verdes, que são o meu próprio mar numa tempestade.

Spy GirlOnde histórias criam vida. Descubra agora