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Maya Moretti

O palácio é ainda mais bonito do que eu tinha pensado que seria, é parecido com o da Bela e o Monstro, se tivesse uma biblioteca como a do filme isso é que era. Maya, foco! Ultimamente tenho andado muito distraída e isso é desconcertante, mais ainda quando estou em missão.

-Não te esqueças, a partir de agora és Eduarda e eu sou Sara- alerta a Mya e eu aceno. Esperamos na entrada à espera de que alguém nos venha receber, até que um mordomo aparece.

-Presumo que sejam as Meninas Eduarda Valentí e Sara de Castro, sigam-me por favor- anuncia o senhor.

-Desculpe, como é que sabe quem é que nós somos?- pergunto enquanto o seguimos pelo corredor.

-Eram as únicas que faltavam para o almoço com o Príncipe- ótimo começamos bem, mas a viagem foi longa e todo o procedimento para aqui estarmos também. Devem ser umas 18, tendo em conta que saímos às 14. O mordomo leva-nos pelo um corredor e abre uma porta, informa-nos que aquele será o nosso quarto e que como o Príncipe estará ocupado, o jantar será servido no quarto. Pergunta ainda se queremos aias e respondemos prontamente que não, precisamos de estar sozinhas no quarto para podermos trabalhar. Quando finalmente se vai embora, desabo na cama enquanto a Mya arruma as malas a um canto.

-Espera, o Baile é amanhã certo? Ainda não temos vestidos, o que é que vamos usar?- pergunto levantando-me de rompante.

-Sempre os podemos fazer, temos ainda algumas horas- é impressão minha ou a Mya está mais simpática?

-Certo, é um Baile Preto e Branco, podíamos ir de cores diferentes. Vais de que cor, preto ou branco?

-Vermelho- diz e arqueia as sobrancelhas ao ver que tenho os olhos semicerrados- se é para estar aqui, ao menos que vejam que aqui estou.
Não a consigo demover da ideia, por isso acabo por aceitar. Combinamos que cada uma faz uma coisa, a Mya fica com os desenhos e eu com a costura e realização destes.

-Eu preciso de ir buscar a máquina de costura e os tecidos, qualquer coisa liga- aviso e ajeito o meu vestido. Saio do quarto e tento perceber para onde é que devo ir, quando o telefone toca e atendo sem olhar quem era.

-Fénix!

-Dylan, que é? Estou a meio de algo importante- respondo enquanto ando à deriva pelo castelo, não era suposto haver pessoas por aqui? Onde é que estão? Talvez a preparar o baile de amanhã...

-Desculpe incomodar a Madame. Oh! Não, a Condessa- diz irónico e reviro os olhos.

-Dy por favor, o que queres?- repito exasperada e começo a resmungar por não encontrar a sala onde arrumam a porra das coisas de costura.

-Testar a rede do palácio, não é óbvio? Só queria ver se estavas bem e como é que estão a correr as coisas- diz e sinto-me mal por ter sido tão dura com ele.

-Quase que me tentaram matar assim que cheguei, mas- bato em alguma coisa ou melhor alguém e caio de rabo no chão- Au, merde!

-Maya, o que é que se está a pass- desligo o telemóvel e agarro a mão que me foi estendida.

-Excusez-moi (Desculpe-me)- assim que olho para cima fico escandalizada e tenho uma grande vontade de me enfiar num buraco. Acabei de dar um encontrão no Príncipe Matthew e depois ainda tive a audácia de praguejar. Pisco os olhos e endireito-me, estendendo-lhe a mão.

- Condessa Eduarda Valentí, ao seu dispor- digo e tento dar o meu melhor sorriso.

-Príncipe Matthew, ao seu dispor- ele diz e sorri. Nossa Senhora, este homem é ainda mais bonito pessoalmente. Tem uns olhos cor-de-mel cativantes, uma pele limpa e parece que está constantemente banhada pelo sol, o cabelo é da cor de um campo de trigo ao pôr-do-sol e um sorriso que podia fazer parte da publicidade da Colgate. E ao contrário do que estava à espera não tem vestido aquelas roupas horríveis da realeza, apenas umas calças e uma camisa com os primeiros botões abertos.

-Sabe? A queda que eu dei é igual à queda que sinto por si- depois de proferir estas palavras, uma gargalhada escapa-me dos lábios e encosto-me à parede para me recompor. Para meu espanto ele também se ri, o que torna o ambiente mais leve. Não consigo, seduzir não é das minhas capacidades e o Príncipe tem todo um ar confortável e caloroso e não frio e sério, o que me dificulta a tarefa. Tenho assim um fraquinho por rapazes frios, sérios e sarcásticos...

-Essa foi a pior frase de engate que ouvi até hoje- diz ele a rir e aceno com a cabeça, fico um pouco chocada com a linguagem informal que ele usou mas deduzo que esteja confortável como eu...

-Isto é demasiado mau, até para mim- digo e faço sinal para o corredor- podes indicar-me onde é a Sala de Costura? Desculpe, pode indicar-me?

-Podes tratar-me por "tu" à vontade, honestamente faz-me sentir normal. Todos me tratam com tanto respeito que mais pareço um idoso de 91 e não um jovem de 21- diz a sorrir e começa a caminhar em direção a uma porta- É aqui.

-Merci- agradeci e entrei, pego em vários tecidos, agulhas, linhas e por fim na máquina de costura.

-Eu ajudo-te- o Matthew diz e então avança até mim e pega na máquina- Vai à frente, não sei onde é que é o teu quarto.

****

Quando nos faltam uns 15 metros para chegar ao quarto, ouço o som de saltos altos, de alguém a falar e depois o som de um metal a cair ao chão. É então que a Mya aparece e percebo que aquele barulho todo proveio dela, que bela impressão o Matthew há de ficar da nossa presença. Ela acelera o passo e para à minha frente com as mãos nas ancas, nem se apercebendo da existência do mesmo.

-O que é que aconteceu? O Dylan ligou-me preocupado.O jantar já foi servido, tens noção de que demoraste quase uma hora?- pergunta e calco o pé dela para que não se deixe descair.

-Bem, o castelo é enorme. Se tu soubesses o que tive que percorrer...

-Podes deixar a máquina lá dentro, obrigada.

-Hum, este é o Príncipe Matthew- digo-lhe estreitando os olhos para que se comporte de maneira digna. Não a culpo ela não o conhecia e não o quis conhecer, mas parece que o destino lhe pregou uma das boas- E esta é a My... minha amiga, Duquesa Sara de Crasto.

-Enchanté (Encantado/ Prazer)- diz o Matthew e dá-lhe um beijo na mão, a cara de repulsa dela quase me fez rir.

-Sim sim. Peço desculpa, mas já que está a carregar a máquina poderia deixá-la nos nossos aposentos- pergunta com uma ironia presente na voz e o Príncipe acena com a cabeça.

Quando finalmente chegamos ao quarto e o Matthew vai embora, ouço a Mya suspirar.

-Que foi?- pergunto enquanto rebolo na cama para a poder observar melhor, quase derrubando a minha tigela de sopa.

-Que idiota, aquele Príncipe é mesmo idiota.

-Conviveste com ele uns 2 minutos e já o estás a elogiar. Na verdade ele é incrível, algo que saberias se não julgasses as pessoas à primeira vista- digo e rapidamente me arrependo após ter recebido o olhar que me deu.

-Já acabaste de comer? Temos imenso trabalho pela frente- resmunga e senta-se à mesa pronta para fazer os vestidos. Acabo de comer à pressa e faço-lhe companhia, ligando a máquina e dando início ao que seria uma longa noite. Mas o resultado compensou, os vestidos são absolutamente espantosos. Parecem brilhar nos cabides onde repousam.

E tenho a certeza que os vestidos, não vão ser a única coisa a brilhar amanhã.

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