Quando Aline saiu, totalmente desconfiada, de dentro do quarto, a assistente social já se encontrava sentada no sofá acompanhada de um casal de conselheiros tutelares.
- Boa tarde.
Todos responderam.
- Você parece bem Aline. - Comentou a assistente.
- Estou sim obrigada. - Ela havia soltado os cabelos e jogado a maior parte pro lado direito tirando um pouco do foco sobre seu rosto, o hematoma estava aparentemente coberto pela base que havia acabado de aplicar.
- Uma graça esse apartamento. Posso olhar os demais ambientes? - Elogiou seguido de um "pedido" já de pé.
- Fiquem a vontade. - Concedeu Eric.
A mulher caminhou até a cozinha, olhou a área de serviço e a mini varanda. Retornou aos armários, aos quais abriu a todos.
- É necessário isso? Quer dizer, parece muito invasivo. - Questionou Eric.
A mulher respondeu entregando o documento onde constava a incumbência a ela dada de verificar pessoalmente as condições de vida em que a menor, no caso Aline, se encontrava.
Em seguida observou a porta da geladeira onde estava fixado o cardápio semanal.
- Quem fez isso?
- Minha mãe. - Respondeu Aline de forma pontual.
- E vocês seguem?
- Sim - Disse Aline.
- Na maioria das vezes. - Acrescentou Eric.
A mulher acabou por abrir a geladeira e se seguiram diversas perguntas a respeito da rotina doméstica e frequência de compra no supermercado.
- Com quem ela fica quando você vai a faculdade? - Um dos conselheiros perguntou ocasionalmente a Eric.
- Ela vai pra escola.
- E quando você vai trabalhar?
- Eu não tenho emprego fixo.
- Então faz algum trabalho esporádico?
Eric engoliu em seco.
- Não.
- Não é o que se fez entender quando disse "não tenho trabalho fixo."
- Estamos em algum tipo de interrogação?
- É protocolo Eric, apenas responda. - Interferiu a Assistente já a caminho do quarto.
- Não reparem a bagunça. - Aline havia deixado a nécessaire de maquiagem, antes de sua mãe, aberta sobre a cama.
- Só um quarto?
- Sim. - Respondeu Aline.
- Só uma cama?
- Aqui está o colchão do meu irmão. - Aline mostrou o colchão logo atrás da porta. - Ele dorme na sala.
- Vocês parecem ser muito organizados.
- Sim, fomos bem ensinados pela mamãe. - Respondeu Aline orgulhosa .
- Quem faz as tarefas domésticas?
- Nós dividimos. - Responderam os dois irmãos em uníssono.
- Qual sua parte Aline?
- O Eric cozinha e eu lavo a louça e organizo a cozinha.
- E o restante?
- Bom, temos máquina de lavar roupas e a casa praticamente não suja. O banheiro 2x por semana pra cada um, quando estou bem de saúde é claro.
- Hum, por falar em saúde, como passou desde a última vez que nos vimos?
- Muito bem.
- Nenhum episódio de falta de ar?
- Não, nenhum.
- Eric, onde estão os remédios de emergência dela?
- Por toda parte. - Ele respondeu tranquilamente.
- Como assim?
Eric caminhou até a primeira gaveta dela e mostrou uma caixinha com uma bombinha. Foi até a mochila dela e mostrou outra, eles o seguiram até a sala onde havia uma caixinha vermelha sobre a mesinha de centro com outra bombinha, outra caixinha igual estava na cozinha e, por último ele tirou uma da própria mochila. Nenhum dos três pode dizer qualquer coisa.
Voltaram a se sentar e ela começou a explicar uma porrada de coisas a respeito do requerimento de tutela, dos direitos e obrigações, das exigências, das etapas e afins. Reafirmaram que as visitas continuariam de igual modo, sem nenhum aviso nem horário prefixado o que fez ambos entenderem que poderiam ser acordados no meio da noite por uma visita.
- Eu estou contente que esteja bem Aline.
- Espero que contribua para que eu continue assim. - Replicou Aline sem titubear nas palavras.
Já era noite quando se despediram.
Aline se jogou no sofá como que se sentindo exausta. Eric seguiu o gesto.
- Acha que fomos bem?
Era atípico pra Aline ver seu irmão expressar insegurança mas, ela se sentiu bem com a vulnerabilidade dele e se esforçou pra animá-lo.
- Tenho certeza que sim.
- Como fez pra disfarçar o hematoma no seu rosto?
- Maquiagem. - Piscou se sentindo muito esperta.
- Você pensou muito rápido! Devo te parabenizar por isso.
- Isso foi graças ao Arthur.
- O menino que te machucou?
- Sim, era o mesmo que você viu comigo no corredor. Ele me trouxe uma base de presente, errou feio no meu tom mas, quando você disse que eles tavam subindo lembrei na hora da nécessaire da mamãe.
- Porque ele te trouxe um presente?
- Consciência pesada uai. - Deu de ombros e se ergueu pronta pra fugir dessa conversa.
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Órfãos
RomanceEssa obra conta a vida de 2 órfãos praticamente sem familiares e interdependentes. Envolve amizades, paixões, segredos. Enfim, espero que Eric e Aline chamem muito a sua atenção à sua história. Boa leitura 😘