É sábado!
Em geral, Aline costumava ajudar sua mãe em casa pela manhã e passava a tarde com os amigos, a noite colocava os trabalhos escolares em dia caso houvesse. Os domingos eram "o dia da família" como Alê fazia questão de lembrar caso alguém quisesse inventar outra programação. Aline Acordou e abriu as cortinas da janela recordando de como eram prefeitos os fins de semana. Agora sabia que não poderia nem mesmo ir a festa de Madá, quanto menos no cinema, ou no parque, lugares em que gostavam de ir. Também sabia que tinha uma senhorinha carrancuda lhe esperando lá embaixo e Aline podia ter certeza de que a ajudante não voltaria tão cedo.
Tomou um banho demorado e aproveitou para hidratar os cabelos, por sorte as meninas do abrigo não haviam acabado com tudo, devia ser remorso.
- Bom dia tia. - saudou ao pisar no último degrau e avistar sua tia passando.
- Bom dia! Já estou de saída, ajude a empregada no que ela precisar. - ordenou sem olhar para trás.
- Claro!
Sentou-se para tomar seu café da manhã e sentiu seu celular vibrar. Era Madá ligando.
- Oi Madá!
- Oi amiga, bom dia! Como amanheceu nesse sábadão?
- Cheia de tarefas e você?
- Tá uma loucura aqui, estamos terminando de confeccionar as lembrancinhas e ainda tem uns detalhes da decoração pra definir! Ai amiga, você vai ver, vai ser show!
- Desculpe Madá mas, eu não irei.
- O quê?!
- Não tenho permissão pra sair.
- Não acredito! Disse a ela que é minha melhor amiga? Não pode faltar Aline!
- Não há como argumentar com ela e , olha... - Aline avistou a mulher parada olhando pra ela da cozinha com um balde na mão. - Eu tenho que desligar, tenho muitas... Coisas pra fazer hoje.
- Eu e o Will vamos pro cinema mas, acho que você não vem né?
- Não. Desculpe.
Aline colocou o celular no bolso do shorts e voltou a comer.
- Aline, os banheiros são por sua conta! - A mulher avisou antes de colocar o balde no chão e dar as costas.
E não ficou só por isso, ela também tirou pó e limpou todos os cômodos do andar de cima. A mulher a teria dado mais tarefas se não tivesse notado a dificuldade de Aline pra puxar o ar, mas não perguntou nada, apenas ignorou e dispensou a ajuda dela.
Aline subiu as escadas com dificuldade, mas precisava dos remédios que estavam no quarto. Já era quase meio dia, entrou em seu quarto e usou sua bombinha. Não deitou na cama porque estava suja e cheirando a água sanitária e desinfetante. Sentou no chão de costas pra parede.
- Eu não vou aguentar fazer tanto trabalho em pouco tempo!
Disse para si mesma. Recebeu outra ligação.
- Will!
- Oi
- Que bom te ouvir!
- Você está bem?
- Estou... - Respirou fundo.
- Eu te conheço, tem alguém com você? Tomou remédio?
- Tomei. Estou no meu quarto sozinha.
- Se não estiver bem, avise sua tia, Aline!
- Ela não está. E sabe Will, eu não entendo. Ela disse que aceitaria ficar comigo por causa do meu problema de saúde e até me pagou médico e exames caros mas...
- Pode falar, sabe que pode contar comigo.
- Ela dispensou uma empregada e agora eu tenho que ajudar a outra. Sabe, não é questão de preguiça, mas ela me dá muito trabalho e fica me pressionando. Acabei de lavar 5 banheiros e uns seis quartos.
- Você não anda bem de saúde esses tempos, precisa pegar leve.
- Eu sei! Mas não tenho o que fazer. Ontem pedi permissão pra ir na festa da Madá, ela disse não antes deu completar a frase. Disse que moro de favor e... Que tenho que obedecer apenas.
- Aline, isso é horrível!
- É sim. Nem tô conseguindo estudar direito, quando chega a noite já estou cansada demais pra raciocinar.
- Ela não pode fazer isso com você Aline. Sua saúde está em risco e seu ano letivo também, você não foi tão bem no primeiro semestre. - Lembrou Will.
- Não conta ao Eric. Por favor.
- Tá bem, mas você precisa tomar uma atitude quanto a isso.
- Vou fazer o possível pra aguentar pelo menos até o Eric fazer aniversário. Inclusive quero combinar algo com você...
- O que precisar!
- Te falo com detalhes na escola. Agora preciso desligar, já tá na hora do almoço, minha tia deve chegar e não quero ser pega no telefone.
- Tá, beijo.
- Outro.
Aline tomou outro banho e desceu. Sua tia havia acabado de chegar com algumas sacolas de lojas do shopping.
" Então estava fazendo compras?!" Indagou Aline em pensamentos. " Será que tem algo pra mim?"
- O almoço está na mesa senhora! - Comunicou a empregada.
- Está bem. Leve estas sacolas pro meu quarto! E você Aline, está se sentindo bem?
- Sim senhora, obrigada.
- Que bom, vamos almoçar.
Hostil nuns momentos, estranhamente agradável em outros. Essa era a tia Maria.
Após lavar a louça do almoço, algumas pilhas de roupas aguardavam pra serem passadas e Aline não via como se livrar. Sua tia certamente não ligaria se dissesse que tinha trabalhos da escola pra fazer.
Sentiu a vibração do celular.
- Eric?
- Oi pirralha! Tô atrapalhando?
- De forma alguma. Como você tá?
- Eu tô bem, aqui no meu isolamento.
- Isso não é novidade pra você.
- É diferente não querer sair e não poder sair!
- Sem dúvida alguma. - Respondeu sem emoção. Segurava o celular entre a orelha e o rosto enquanto continuava passando as roupas.
- O que tá fazendo?
- Passando roupas. Tem tanto lençol que vou passar a tarde toda aqui pra dar conta.
- Como assim?
- É brincadeira! - mentiu. Não queria que Eric soubesse que estava trabalhando tanto.
- E como tá indo o trabalho de biologia?
- Ainda tô trabalhando mas, tô indo bem. Ah, obrigada pelos lençóis e o cobertor. Eu amei.
- Tranquilo. Se quiser conversar mais tarde, me chama. Acho que tenho um tempo livre.
- Será que tem mesmo?
Os dois riram.
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Órfãos
RomanceEssa obra conta a vida de 2 órfãos praticamente sem familiares e interdependentes. Envolve amizades, paixões, segredos. Enfim, espero que Eric e Aline chamem muito a sua atenção à sua história. Boa leitura 😘