- Filhinho querido! Chegou bem na hora! Como foi na faculdade?
Alessandra deixou a travessa de salada na mesa e veio receber Eric na porta. Estava muito empolgada que seu filho tivesse conseguido uma bolsa integral na faculdade de administração. Tirou a bolsa a tiracolo dele e pendurou no gancho.
- Fui bem mãe.
- Meu Deus Alê, já tem dois meses que ele tá estudando e você pergunta todo dia!
- Pois vá se acostumando amor, porque só são quatro anos pela frente!
Todos riram.
- Terminei mãe. - Aline havia acabado de colocar a mesa.
- Obrigada querida! - Alê sorriu pra filha e voltou-se para o jovem. - Agora vai se lavar depressa, estamos famintos.
- Podem começar sem mim, eu já disse .
- E eu já disse que comeremos juntos enquanto pudermos, agora se apresse! - deu um leve tapinha na cabeça dele indicando que se apressasse.- Paizinho o que achou do frango?
Aline estava empolgada pra saber a opinião do pai sobre seu tempero, estava aprendendo a cozinhar.
- Está divino filha! - Ele apertou carinhosamente a mão dela ao encorajá-la.
- E você Eric? O que achou?
- Da pra engolir. - respondeu demonstrando indiferença.
- Filho! Não seja grosseiro, pode precisar que ela cozinhe pra você em algum momento sabia?
Ele apenas revirou os olhos e continuou comendo.
Eric tinha o temperamento difícil e era pouco sociável. A verdade é que Alessandra estava muito curiosa pra saber como ele estava interagindo na faculdade, por isso sempre repetia sua pergunta afim de extrair alguma coisa nova dele, como novos amigos.
- Você está indo muito bem filha!
- Afinal tenho a melhor instrutora do mundo né? - Aline fez carinho nos cabelos da mãe.
- Disso não posso discordar. - Apoiou Heitor trocando olhares provocantes com a esposa.
- Então crianças ...
- Mãe! Não somos mais crianças. - reclamou Aline. - Já tenho 14 anos sabia?
Alessandra riu.
- Sim querida, já é uma mocinha.
- Por isso temos algo pra contar pra vocês. - continuou Heitor.
Nesse momento até Eric que costumava ficar cabisbaixo teve sua atenção direcionada ao pai.
- É... Seu pai vai fazer uma entrega no sul e me chamou pra ir com ele. - O rosto de Alê mesclava entre empolgada pela ideia de ir e com medo da reação dos filhos.
Eric e Aline se entreolharam por alguns instantes assustados com a notícia. Então Aline vibrou!
- Isso é incrível mãe! Demais!
- Sério filha? Não se importa?
- Claro que não mãezinha! A senhora está sempre cuidando de casa e de todos nós, merece se distrair um pouco.
- E você Eric, o que acha?
- Ahn... Por mim tudo bem pai.
- Maravilha! - O casou vibrou em uníssono.
- Serão 10 dias de viagem. - Avisou Heitor.
- Sem problemas papai. Ficaremos bem! - Aline estava muito empolgada e no seu cérebro já maquinava um zilhão de coisas que poderia fazer com a sua liberdade...
- E você mocinha, nada de sair do cronograma enquanto estivermos fora, seu percurso será de casa pra escola, entendeu?
- Claro mãe. - Aline desmanchou metade do sorriso junto com uma parcela da sua empolgação, mas sua mãe não poderia monitorá-la a distância...
- Eric ficará responsável por você!
Completou seu pai. Eric engasgou com o suco.
- O que? - Aline estava estarrecida. Sabia o quanto seu irmão era bom em cumprir as ordens dos pais e o quanto era antissocial e grosseiro com ela. - Pai, ele nem é maior de idade!
- Tem quase 18 anos, já é o bastante, ademais já conversei com nossa vizinha, ela vai dar uma olhadinha em vocês, caso precisarem de algo, podem contar com ela. - Sua mãe rebateu após dar um tapa nas costa do filho que estava ao seu lado. Ele logo se refez.
Aline bufou de raiva, mas não havia muito o que fazer. Tanto ela quanto ele estudavam pela manhã, nesse dia em particular ela não teve aulas.
- Quando partem? - foi a única pergunta do garoto.
- Em 3 dias!- Alê querida! Vamos logo com essas malas. Tenho horário pra cumprir!
Heitor era motorista de uma empresa transportadora.
- Já estou indo amor! - Alessandra era muito alegre e como gostava de falar. Arrastou sua bagagem pra fora do quarto. Eram 4 horas da manhã e ela nem se importava em importunar os vizinhos com sua barrulheira, mas todos a conheciam bem.
- Eu te ajudo mãe. - Eric pegou suas coisas e colocou no caminhão enquanto Alessandra fazia mil recomendações a Aline.
- Lembre-se de desligar o registro de gás! E não abra porta pra estranhos!
- Tá mãe.
- Lave sempre a louça antes de dormir e troque os lençóis duas vezes por semana.
- Deixa comigo! - Aline estava sonolenta e com frio, mas fingia prestar atenção em cada recomendação, por mais óbvia que parecesse.
- Respeite seu irmão e não arrume encrenca na escola....
- Alê!!
- Já vou amor!
- Eric! - agarrou na gola do casaco dele . - Filho, continue sendo um bom menino. Cuide bem da sua irmãzinha.
- Fique tranquila. Cuidarei.
- Eu sei que cuidará... - Alessandra começou a chorar. Eric a abraçou. - Eu também quero que faça amigos, não muitos, mas bons amigos.
- Alê, não é um adeus, voltaremos antes que possa imaginar. - Heitor já estava impaciente pelo atraso.
- Não enche! Deixa eu me despedir das minhas crianças. Vem Aline! A convidou para o abraço. Ela se juntou sem hesitar.
- Vamos ficar bem mãe. Vá se divertir. Aline a confortava esfregando suas costas.
- Tá! - Alessandra os soltou e enchugou as lágrimas com os indicadores esticados. Abriu um sorriso. - Eu só não estou acostumada a viajar sem meus filhinhos. E olhe, já estão tão crescidos que estão loucos pra me ver pelas costas pra terem toda liberdade do mundo! - Acariciou a face de ambos ao mesmo tempo com a palma das mãos. Eles riram.
- Eric. Eu amo você meu filho, te todo meu coração. Se cuida tá. - beijou sua face. - E você minha pequena, eu te amo muito também. Fiquem bem e cuidem um do outro como eu cuido de vocês tá bem? - a beijou igualmente.
Heitor também se despediu com um abraço.
- Nos vemos em breve. - acenou com a mão enquanto dava marcha ré no caminhão.
Aline liberou o bocejo que segurava e deu uma rápida espreguiçada antes de cruzar os braços novamente escondendo as mãos do ar livre que estava muito frio naquela hora.
- Vamos entrar pirralha. - Eric a chamou ja com a mão no portão para trancar. Ela correu para o interior da casa, que obviamente estava mais quentinho e aconchegante. Correu pro seu quarto e se enfiou debaixo do cobertor se imaginado dormir até meio dia do dia já que não havia ninguém para lembrá-la de que tinha aula...
Toc, TOC, TOC
- Pirralha, tá na hora da escola. A van passa em 15 minutos!
- Quê? - indagou ainda debaixo do cobertor.
- A escola! - respondeu do outro lado da porta.
- Eu não vou hoje Eric. Estou com muito son...
- Saia agora dessa cama e vá se arrumar! - Eric invadiu o quarto e arrancou seu cobertor antes que ela pudesse terminar de falar. Ele tinha a voz ameaçadora e isso era o bastante pra ela obedecer. Terminando de dar a ordem partiu jogando a porta de volta ao fecho sem muitos cuidados.- Bom dia Aline!
Assim que ela desceu da van, um garoto ruivo já a aguardava sentado na calçada na frente da escola. Seguiram lado a lado para o interior da mesma.
- Só se for pra você Will!
- Eita! Que bicho te mordeu? Achei que ia te encontrar animada agora que seus pais viajaram e você pode gozar da tão sonhada liberdade.
- Liberdade o cacete! Tô me sentindo mais presa do que antes.
- Ah, o Eric. - por um instante Will tinha esquecido desse detalhe. Ele sabia muito bem como era sinistro o irmão da sua melhor amiga.
- Oi pessoal!
Madá havia acabado de chegar e também se juntou a Aline. Ela tinha cabelos crespos negros e usava faixas coloridas trazendo ainda mais charme aos caracóis. Era uma negra de olhos escuros lindíssima apesar de ainda ter apenas 14 anos.
- Oi. - os dois responderam.
- E aí, seus pais viajaram mesmo?
- Sim, saíram bem cedinho.
- Deve ser legal, queria que meus pais inventassem uma viagem também.
- Seria legal se assim como você, eu não tivesse um irmão e ainda por cima mais velho. - Aline respondeu sem emoção. Chegaram a sala de aula e se jogaram em Seus lugares.
- Relaxa amiga! Você não tem que obedecer ele. Afinal, o que ele pode fazer contra você?
- Madá! - reclamou Will lhe dirigindo um olhar feroz.
- Eu não tenho medo dele, só quero manter minha ficha limpa com meus pais, afinal estou bem crescida, qualquer um que olha pra mim jura que já tenho 18 anos, mas me falta a confiança dos meus pais. Como vão me deixar sair quando eu quiser se eu demonstrar um comportamento ruim?
Aline realmente aparentava um pouco mais velha, já que era um pouco mais alta que as demais colegas de aula e tinha pernas grossas e seios bem aparentes. As roupas um tanto masculinas davam um toque final na sua aparência. Não largava um jeans por nada e suas tshirts só mudavam de cor. Nem mesmo seus cabelos naturalmente claros lhe conferiam mais feminilidade.
- Você está certa Aline. - Will era o mais sensato entre eles.
- Mas a gente pode ir pra sua casa depois da aula né? Ver um filme ou jogar jogos de tabuleiro. - perguntou Madá.
Aline e Will se entreolharam e os três caíram na risada. Imaginavam Madá fazendo qualquer coisa menos as citadas.
- Eu não tô jogando Free fire esses dias não. Preciso me concentrar no escola. Will se desculpou ao ver o olhar significativo da amiga.
- Eu não jogo aquilo mais nunca. Já até desinstalei. - Aline também pulou fora
- Ah não amiga. Porque?
- Você sabe, eu sou péssima nisso!
- Mas a prática leva a perfeição.
- De jeito nenhum! - Aline virou as costas, sabia que não resistiria se olhasse nos olhos da manipuladora Madá que insistiria se não fosse o cutucão de Will indicando que a professora havia chegado e já ocupara sua mesa segundos atrás.Quando Aline colocou o pé na porta de casa sentiu seu celular vibrar. Tirou do bolso da mochila de Costas e abriu a mensagem de sua mãe.
Oi querida, como foi na escola? Já estou com saudades🥺
Ah, deixei bifes temperados na geladeira e feijão cozido. Não esquece de preparar a salada! Te amo😘"Ela é uma figura" - Aline riu agradecida por ter uma mãe tão cuidadosa.
Fui bem mãe. Obgda pelos bifes😉
Divirta-se 😘Ela teria aproximadamente meia hora até que seu irmão chegasse da faculdade. A diferença de horário era o tempo de percurso. Colocou seus fones de ouvido afim de ouvir seus raps favoritos enquanto preparava o almoço. Quando Eric chegou, ela já estava passando os bifes e preparando a salada ao mesmo tempo.
- Oi pirralha.
A música impediu de ouvir e como estava de costas não percebeu a presença do irmão. Quando se deu conta ele estava ao seu lado tirando os bifes da panela.
- O que está fazendo? - gritou sem se dar conta por causa da música. Eric arrancou seu fone de suas orelhas. Eii!!! - Ela brigou tomando os fones de volta das mãos dele.
- Desculpe mexer na sua panela, é que gosto do meu bife ao ponto. - se explicou com um tom sarcástico o suficiente pra ela olhar pro fogão e ver seu bife esturricando.
- Droga! - berrou.
Eric pegou a louça e colocou a mesa. Mal acabou seu celular tocou.
- Oi mãe.
- Oi filho, como foi na faculdade?
Eric riu com muita naturalidade e leveza. Sua mãe não tinha mesmo jeito.
- Fui bem.
- Aline já preparou o almoço?
- Sim. - respondeu virando o corpo levemente na direção da cozinha. Aline acabava de jogar a panela queimada na pia enfurecida
- Parece bom?
- Bem melhor que o frango de ontem.- respondeu levemente mais alto, para que Aline ouvisse. Ela o olhou com fúria.
- Cuide da sua irmã filho, não a deixe entrar em encrencas enquanto estivermos fora. Você a conhece bem.
- Fique tranquila.
- Promete?
- Prometo.
"É claro que ela está mais preocupada com ela. Porque seria diferente?" Se perguntou devolvendo o celular ao bolso após o fim da ligação.
- Engraçado, pra mim a mãe só mandou uma mensagem mixuruca e pra você ela liga?! - Aline se aproximou da mesa trazendo a travessa de salada e sua indignação.
- Vamos comer! - Eric ficou levemente abalado coma as palavras da irmã, mas se conteve.
- Você lava a louça viu?
- Pirralha eu tenho que estudar!
- Adivinha? Eu também estudo! - fechou com o argumento vencedor.
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Órfãos
RomanceEssa obra conta a vida de 2 órfãos praticamente sem familiares e interdependentes. Envolve amizades, paixões, segredos. Enfim, espero que Eric e Aline chamem muito a sua atenção à sua história. Boa leitura 😘