Como esperado, Aline teve uma crise pelo choque provocado pela notícia, mas por algum motivo todos na sala sentiam que ela se esforçava pra manter o equilíbrio. Ninguém sabia que palavras usar.
- Estamos aqui pra você tá bom? - Will foi gentil segurando a mão dela tentando passar confiança.
Ela não conseguia dizer nada, mas seus olhos agradeciam por seus amigos estarem juntos dela no pior momento de sua vida.
- Toma esse chá Menina. - a vizinha trouxe uma xícara pra ela. Aline apenas recusou com a cabeça. Eric se levantou, teria que tomar algumas providências. Não tinha mais ninguém pra fazer isso. Aline segurou-o pela mão. Seus olhos diziam:" o que vai ser da gente?".
- Ahn... Eu...
Eric queria ter palavras pra confortar sua irmã naquele momento, Mas não encontrava nada adequado pra dizer.
- Eu preciso fazer algumas ligações. - Disse finalmente.
- Posso te ajudar com isso Eric. - A mãe de Will se ofereceu. Sabia bem o que era preciso fazer e o quão doloroso é tomar decisões numa hora dessas.
Os dois saíram da sala
- Do eles estão falando?
- Nada demais Aline. Só respire com calma. - Aconselhou Madá ocupando o lugar de Eric ao lado da amiga.
- Will?
Apelou pro seu amigo.
- Eles precisam... Cuidar do fune...
- Tá bem! - interrompeu seu amigo erguendo as mãos e fechando os olhos. Caiu em choro alto.Já era noite e alguns outros vizinhos vieram consolar os irmãos órfãos.
Aline estava na cama dos seus pais com seus melhores amigos ao seu lado insistindo para que comece.
- Eu não posso! Vocês não entendem. Eu perdi eles pra sempre. Pra sempre!
O que será de nós agora?!
Seus amigos apenas a abraçaram apertado.
- Podem por favor pedir pro meu irmão vir aqui?
- Eu vou chamá-lo. - Madá se prontificou.
- Obrigada.
Em poucos minutos Eric estava no quarto.
- Will...
- Já estou saindo. Fique bem minha amiga. - apertou a mão dela mais uma vez.
Eric percorreu os olhos pelas paredes do quarto e não pode evitar lembrar as boas recordações que tinha daquele ambiente.
- Sente aqui. - Aline se recuperara da última crise de choro. Eric seguiu seu pedido e sentou na cama ao lado dela.
- Você está melhor?
- Sim, e você? Como está se sentindo?
- Essa é uma pergunta difícil de responder pirralha.
- Mas você acabou de me perguntar a mesma coisa.
- Na verdade não. Eu perguntei da sua saúde.
Aline puxou a mão dele e envolveu com as suas.
- Eu não paro de me perguntar uma coisa.
- O quê?
- O que vai ser da gente?
- Eu não sei. Nem pensei nisso ainda, deveria fazer o mesmo. Viva o hoje.
- Você já cuidou do funeral...?
- Não se preocupe. Eles devem chegar pela manhã...
- Não! - voltou a chorar. Agarrou seu irmão novamente e abraçou apertado. - Eu queria que voltassem logo, mas não assim! Eric, não posso vê-los num caixão. Isso é... É demais pra mim. - olhou nos olhos dele.
- Não precisa ver isso.
- Não mesmo?
- Não.
- Mas o que as pessoas vão dizer?
- O que importa não é o que dirão, mas a última lembrança que terá dos seus pais.
- Ela fez tantas recomendações antes de sair. - lembrou com um breve sorriso. - e nossa live em família, foi muito divertida.
- Tudo com ela era divertido.
- Sim. Era. Mas... Se eu não for, você vai estar sozinho.
- Não se preocupe comigo.
- Como não? Só temos um ao outro agora!
Eric sentiu uma dor na espinha ao ouvir tais palavras. E algo lhe recorreu: Eram dois órfãos menores de idade, ainda que ele atingiria a maioridade em dois meses. Eram menores e não tinham parentes a quem recorrer.
- O que foi irmão?
- Não foi nada! - ele disfarçou. - Agora por favor, coma. - pediu ao notar que seu prato estava intocado.
- Não consigo engolir.
- Se esforce, faça isso por mim, já estará me ajudando. - Pediu trazendo o prato pro colo dela. Em seguida se dirigiu a porta.
- tá bem.
- É... Você tem certeza de que prefere não vê-los?
- Tenho.
- Sugiro que vá pra casa de um dos seus amigos então.
- Está bem. Tem certeza de que ficará bem?
- Eu tenho sim. Até logo. Me avise quando for sair.
- TáNa segunda feira
- Está tudo bem. Eu aviso qualquer coisa.
- Quem era Madá?
Aline voltava do banheiro quando encontrou sua amiga no celular.
- Eric.
- O que ele disse?
- Queria saber como você está.
- E porque não ligou diretamente pra mim?
Madá ergueu o celular que ainda mantinha nas mãos.
- Desculpe. - pediu envergonhada. Era o seu celular. Estava chateada porque tentou falar com ele antes, mas não foi atendida.
- Tá ok. Relaxa, minha mãe fez bolo, vamos lá lanchar, você mal tocou no prato no almoço.
- Sua mãe não tinha que trabalhar?
- Sim. Ela foi. Mas fez o bolo no horário do almoço.
Alê veio à mente da filha. Era uma mãe incrível, sempre antecipava os desejos de todos e cozinhava as maiores delícias. Dedicara sua vida ao lar e a maternidade. No dia em que finalmente se sentiu pronta pra viajar sem os filhos, não foi capaz de retornar.
- Foi tudo culpa minha! Eu incentivei tanto pra ela ir, menti que daria conta de tudo e agora...
- Não diz isso amiga! Você não tem culpa de nada.
Madá abraçou a amiga.
- Olha só, o Will acabou de postar no grupo que tá vindo pra cá.
- Que bom. Vamos esperar pra comer o bolo então.
- Claro. Vamos pra cozinha. Vou fazer um suco.
- Tá.
- Estou pensando no Eric. - Aline comentou após alguns minutos sentada à mesa da cozinha. - Pelo que eu sei, não tem amigos, deve estar sozinho.
- Mas não foi você que disse que ele é meio esquisitão?
- É, mas agora é diferente. Quem não precisa de amigos numa hora dessas?
- É verdade.
- Acho que vou pra casa! - decidiu levantando-se.
- Mas e o Will? E o bolo?
- Vocês poderiam vir comigo.
- Ah... Pode ser. Só vou avisar minha mãe. A gente vai de bike?
- A minha ficou em casa lembra?
- Will pode te levar na dele.
- Será? Ele morre de ciúmes daquela coisa.
Riram.
- Ele chegou! - Madá correu pra porta.
- Não foi muito rápido? - Aline estranhou.
Realmente. Não era o Will.
- Eric? Que surpresa! - Madá o surpreendeu com um abraço longo e apertado. Ele ficou meio desajeitado, mas não foi indelicado.
- Irmão! Que bom te ver! - Foi a vez de Aline que afundou o rosto no peito dele. - Ainda bem que eu tenho você.
Eric massageou as costas dela tentando confortá-la, já estava aos soluços.
- Eu só estava passando por aqui perto... - Mentiu, mas o olhar debochado da irmã o fez calar.
- Sentiu minha falta?
Ele apenas sorriu sem jeito.
- Vem Eric, sente-se e seja muito bem-vindo.
- Obrigado...
- Madá! - a menina se apresentou esticando a mão.
- Madá. - repetiu. Sentaram-se nos sofás da sala. Eric ficou ao lado da irmã e Madá bem de frente pros dois.
- A gente já ia lanchar, mas o Will mandou mensagem que já está vindo pra cá, resolvemos esperar. - contou Madá.
- Você está conseguindo se alimentar? Ele se dirigiu a irmã.
- Sim, estou.
- Como não? Minha mãe praticamente a obriga.
- E você Eric? Não parece estar comendo. Está pálido. - Aline notou logo seu semblante descaído.
- Eu ficarei bem.
- Nós ficaremos! Vou voltar pra casa com você. - contou repousando a mão sobre a dele.
- Não precisa pirralha, fica com sua amiga até se sentir melhor.
- Isso não é negociável. Sei que você precisa de mim. Só temos um ao outro, somos uma família!
- Bem... Tem algo que precisa saber.
- O que?
- Não é a melhor hora, mas você precisa se preparar...
- Pare de rodeios.
- Somos menores de idade.
- E daí? Você já faz 18 anos em outubro.
- Mas você não!
O rosto de Aline ficou vermelho.
- O que significa Eric? Você não quer... Nós não ficaremos juntos?
- Eric! Isso não era a hora...
- Você sabia disso Madá?
- Bem... Meus pais comentaram a respeito. Mas são só suposições, ninguém sabe de verdade...
- Eles vão me levar não é? - perguntou olhando fixo em seu irmão.
- Mas vocês não tem mesmo nenhum parente? Tios, primos, avós, qualquer coisa?
- Não. - responderam os dois.
- Na verdade temos uma tia da minha mãe. Lembrou Aline
- Uma tia-avó?
- Acho que é isso.
- Sem chance. - descartou Eric.
- Porque? É uma emergência. - questionou Madá.
- Ela é uma viúva meio boa de grana. Passa mais tempo viajando, principalmente ao exterior. Jamais se prenderia a ninguém. - Respondeu Aline. - Agora mesmo, tenho quase certeza de que ela está fora do país.
- Não tem mais ninguém?
Os dois balançaram a cabeça negativamente. De repente alguém bateu a porta.
Não era apenas Will, mas praticamente toda a turma da escola. Aline se sentiu muito feliz pelo carinho que recebeu dia colegas.
- Will! Porque não me contou? Temos um bolinho de caixinha ali pra lanchar! O que faremos agora? - cochichou Madá.
- Relaxa. Nós trouxemos mais dois e também uns salgadinhos fritos. Taqui ó. - entregou algumas sacolas a ela.
- Valeu!
- Preciso ir. - disse Eric apenas pra Aline.
- Não! Por favor fique. Vamos lanchar com a gente.
- Tenho coisas pra fazer.
- Tipo... Fugir de gente?!
- Eu não gosto...
- Tente! Eles vieram de coração.
- Vieram pra te ver.
- Então esse é seu irmão Aline? - Perguntou uma menina morena de cabelos lisos.
- Sim. Esse é o Eric! - o indicou para que todos conhecessem.
- Bom. Tenho mesmo que ir. - Insistiu já de pé.
- Não Eric! Não vai sair sem lanchar com a gente.
- Desculpe Madá, mas tenho umas coisas pra fazer.
- Da licença um minutinho gente.- Aline pediu antes de sair com o irmão.
- Eric eu falei sério sobre voltar pra casa hoje.
- Tudo bem. Quer que eu te busque mais tarde?
- Você tá usando minha bicicleta? - exclamou ao ver a bike encostada no muro.
- Pois é. A minha está com o pneu furado.
- Se eu me recordo bem, você quase me batia sempre que eu pegava sua bike!
- É, mas você sempre derrubava ela e acabava ralando.
- Pois cuide bem da minha viu!
- Podexá.
- Eu te ligo quando forem embora.
- Tá. Eu aguardo. Tchau.
- Tchau.
- Uau amiga! Seu irmão é um gatinho. Porque não nos apresentou antes? - indagou a morena quando Aline voltou. Will e Madá olharam feio pra menina. Afinal, Eles dois haviam acompanhado a amiga desde o primeiro instante, poderiam contar os baldes de lágrimas que a coitada derramou, não iriam permitir que uma sem noção fizesse piadinhas na hora errada.
- Por que ele foi embora? - perguntou um garoto.
- Vamos comer pessoal? - Foi a solução que Madá encontrou pra manter a boca deles ocupada.Eric. Já estou pronta e te esperando! Não demore.
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Órfãos
RomanceEssa obra conta a vida de 2 órfãos praticamente sem familiares e interdependentes. Envolve amizades, paixões, segredos. Enfim, espero que Eric e Aline chamem muito a sua atenção à sua história. Boa leitura 😘