Os sete dias passaram como uma eternidade e embora Aline sempre detestasse hospital, dessa vez estava estranhamente contente de estar ali. Qualquer lugar que não fosse o abrigo estaria de bom tamanho por enquanto, mesmo que tivesse que enfrentar novas agulhadas a cada dia e seus acompanhantes chatos que tentavam ser engraçados e só pioravam a cada dia.
- Bom, acho que minha paciente mais bonita está finalmente pronta pra ir pra casa! - Era o mesmo enfermeiro simpático do outro dia.
- Você acha? - Ela perguntou com tristeza.
- Com certeza, o doutor já assinou sua alta e tudo! Qual é, você não parece animada.
- Estaria se eu tivesse uma casa pra voltar.
- Vá tomar um banho e se trocar. Vou ligar pro motorista vir nos buscar. - Pediu a assistente social antes de sair do quarto.
Aline pegou sua bolsa e foi pro banheiro.
" Minha vida é uma merda! Uma completa merda!" Começou a chorar novamente. Quando suas vistas passaram pela janela do banheiro uma ideia maluca lhe recorreu.
"Será que consigo?" Isso já era praticamente a certeza de que ela tentaria. Era o único jeito uma vez que sua acompanhante a aguardava do outro lado da porta. Deu um pulo, alcançou a base e pode olhar pra fora, era muito fácil fazer a travessia, principalmente porque do outro lado haviam uns tambores que poderia amortecer o salto. Olhou pros lados, não passava ninguém. Jogou a bolsa e em seguida se lançou pela janela. Catou a bolsa e apressou os passos na direção da saída. Por sorte não encontrou ninguém conhecido. Sorriu pra todos como se tudo estivesse super normal. Sentiu um frio na barriga quando passou pela recepção, mas pra sua sorte tinha uma mulher Armando o maior barraco no meio da sala e só haviam olhos pra ela. Aline finalmente encontrou o lado de fora e alcançou a liberdade.
Não caminhou mais que cinco minutos antes do seu celular começar a tocar. Era a assistente. Já devia ter descoberto a façanha da menina.
" A diretora me entregou esse celular muito fácil. Algo pode estar errado!" Aline se lembrou das séries policiais e de espionagem onde uns pegavam os outros através de grampos telefônicos. Não pensou duas vezes e arrancou o chip do aparelho.
Não tinha um tostão pra chamar um táxi, na verdade não tinha noção alguma de onde deveria ir.
Não tinha mais casa e mesmo se tivesse, seria alvo fácil, não podia ir pra casa do Will, primeiro porque também seria alvo, segundo sua mãe não aceitaria, a casa da Madá também seria suspeita e Eric, ela não fazia ideia de onde ele estava.
" Que idiota eu fui! Como pode jogar meu chip fora se não tenho um centavo pra comprar outro? Nem posso pedir ajuda agora..."
- O que está fazendo?
- Eric! - Aline levou o maior susto ao ouvir seu irmão bem atrás dela.- Eu que te pergunto! O que faz aqui?
- Eu te vi saindo do hospital sozinha.
- O que fazia lá?
- Precisamos sair daqui. - Ignorou a pergunta da irmã e deu a mão pro táxi que passava na rua. - Vamos, entre. - empurrou a menina pra dentro e a acompanhou em seguida. - Nos leve até a universidade por favor!
- O que...
- Shiiiii. Não deve falar demais, acabou de deixar o hospital, não se esqueça disso. - Usou a desculpa.
Eric manteve os olhos na janela do carro, totalmente indiferente a presença da irmã até certo ponto da viagem quando pediu ao taxista que parasse.
- O senhor não ia até a universidade?
- Desculpe, lembrei de algo que precisamos fazer no caminho. Tome seu pagamento e obrigado!
- Por nada. Tenha um bom dia!
- Valeu!
- Venha comigo. - Eric a pegou pela mão e atravessaram a rua. Aline se deixou conduzir em silêncio. Caminharam por duas quadras adentro até finalmente pararem num portão branco. Eric destrancou com sua chave e a fez entrar. Era um corredor extenso cheio de portas até o final onde ficava uma lavanderia coletiva. Will não exagerou quando disse que haviam uns 20 quartinhos. Eric abriu um dos últimos do lado esquerdo.
Mais uma vez, Aline concordou com Will, mal dava pra fechar a porta após entrarem.
- Eu disse que não cabiam tantas coisas aqui. - Ele leu os olhos dela.
- Não é nada que eu não possa dar um jeito. Me dê dois dias e isso aqui vai parecer um lar. - Aline soltou sua bolsa, pronta pra botar as mãos a obra.
- Você não pode ficar aqui pirralha. - Eric segurou o braço dela.
- E porque não?
- Já falamos sobre isso. Se descobrirem que você tá comigo, será impossível reconquistar a confiança deles no futuro. Olha, eu tô tentando fazer a minha parte, precisa fazer a sua.
- Você não entende Eric. Você não faz ideia do que é morar num abrigo e ser perseguida pela diretora, eu...
- Tá! Pare, por favor! Precisa voltar!
- Você não quer ficar comigo não é mesmo? Você também acha que sou uma bomba relógio. - Aline se sentou no chão com as pernas cruzadas.
- Bomba relógio? Do que está falando?
- Ninguém quer cuidar de mim por causa da minha asma. Nem mesmo a diretora me quer lá, mesmo que tenham sido eles quem provocaram minha crise quando me puseram no isolamento...
- Peraí! O que fizeram?
- Ah, não te contei minhas aventuras ainda... - Aline narrou os acontecimentos durante suas 24hs no abrigo.
- Você devia ter começado por essa parte. - Eric estava chocado após ouvir sua irmã.
- Então, vai me deixar ficar?
- Contanto que aceite minhas condições.
- E quais são?
- 1 Ninguém deve saber que está aqui. 2 Você não pode sair daqui de dentro sob hipótese alguma.
- Hunrum...
- 3 Prometa que não terá outra crise ou nós dois estaremos perdidos.
Aline abriu seu melhor sorriso e abraçou seu irmão.
- Você é o melhor Eric!
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Órfãos
RomanceEssa obra conta a vida de 2 órfãos praticamente sem familiares e interdependentes. Envolve amizades, paixões, segredos. Enfim, espero que Eric e Aline chamem muito a sua atenção à sua história. Boa leitura 😘