6 - Coragem de contar

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Gabriel pensava que a sorte estava a seu favor. Encontrou sua companheira e ela sempre abria um grande sorriso cada vez que o via. Só aquele sorriso fazia com que cada ano de espera tivesse valido a pena.

— Cláudia, nós temos que falar do nosso futuro. Eu não posso mais te deixar sozinha nessa cidade, ainda mais sabendo que tem renegados e desonestos te rondando. Eu quero te levar para morar comigo em Rio Grande e vou cuidar de ti. Vou cuidar de todas as tuas necessidades, prometo que vou te dar tudo o que eu puder te dar. Confia que eu vou cuidar de ti. Vem morar comigo.

— Eu bem que queria, mas tu mora em Rio Grande. Como eu vou vir trabalhar?

— Tu não vai mais precisar trabalhar. Eu vou cuidar de ti. Vou te dar tudo o que quiser, confia em mim.

Cláudia tinha vontade de se jogar no colo daquele homem, mas lembrava da Mara, uma amiga que abriu mão do emprego quando casou e anos depois, quando se separou, custou a conseguir se reinserir no mercado de trabalho. Pelo menos Mara tinha família para ajudá-la, ela não. Era esse tipo de coisa que sempre passava na cabeça de Cláudia quando estava diante de uma oportunidade. Se acontecesse algo? Se desse errado? Sofrer antecipadamente. Ansiedade.

— Clau, uma hora nós vamos ficar juntos. Para que adiar?

— Tu está me pedindo para abrir mão do meu emprego. Isso não é fácil e a gente se conhece a tão pouco tempo...

— Eu te conheço o suficiente, sei que é a minha companheira.

— Sabe como? Como soube que eu sou a tua companheira?

— Um lican sabe quando encontra o companheiro. Tu tem até o meu cheiro, é um aroma especial que só nós reconhecemos. No nosso caso aconteceu algo peculiar, o Bruno reconheceu o meu cheiro em ti antes de nos conhecermos, eu ainda não entendo como isso foi possível. Também sabemos que é a nossa companheira porque algo dentro de nós nos diz. Senti meu coração bater mais forte e algo correu dentro de mim quando te vi. Foi como se já nos conhecêssemos há anos.

— Isso é tão bonito que nem dá para acreditar que é real.

— Mas é real e tem mais coisas que nós não conversamos ainda. Eu quero nos unir e te converter. Quando um lican encontra a companheira ele precisa unir suas almas. As nossas almas ficarão unidas para sempre e não suportaremos mais ficar separados por muito tempo. A união equivale ao casamento lican. Não pode ser desfeito e estaremos casados aos olhos do nosso povo.

— Estaremos casados? E como é feita essa união lican?

— Essa parte é simples. Eu preciso te reclamar publicamente como minha companheira. Nossas almas já se reconhecem, mas, quando eu te reclamar minha perante o povo lican, nossas almas se entrelaçarão para sempre.

— Nossa. Isso é incrível.

— Depois disso precisaremos fazer a tua conversão. A companheira de um lican deve ser lican também. Vai ser melhor para se defender, teus sentidos estarão mais apurados e vai garantir que nossos filhos nasçam licans.

Cláudia não pretendia ter filhos, pelo menos não tão cedo, mas tudo aquilo parecia incrível demais. Estava tudo bom demais para ser verdade.

— E como é a conversão?

— A conversão pode ser feita a qualquer momento, mas o ideal é que seja feita na Lua Cheia. Por quatro noites tu tomará meu sangue sob o luar e a tua loba vai sair para fora. Pode ser feita fora da Lua Cheia também, mas a conversão demorará mais e será mais incomoda, por isso se costuma esperar a Lua Cheia.

— Tomar sangue? Desculpa, mas acho que não ouvi mais nada depois disso.

— Clau, vai ser o sangue do teu companheiro. Nós já somos parte um do outro. O ritual de conversão só vai ratificar isso te tornando como eu.

A Loba Ferida - Livro 3 da série Lobos do SulOnde histórias criam vida. Descubra agora