A Loba Ferida - Livro 3 da série Lobos do Sul

Livro 4

Calminha no coração. O livro 4 está no forno ainda. Vai ser a história do alfa Rodrigo. Já comecei a escrever, mas a história estava saindo muito do que eu havia planejado inicialmente, então parei e resolvi recomeçar ela, mas aí veio o maldito bloqueio kkkkk Agora estou travada, mas prometo que vou tentar e assim que possível publicarei aqui.

Trecho do primeiro livro para vocês irem degustando:

CAPÍTULO 1

Rodrigo Rocha assistia sem parar ao vídeo da internet. Raul havia lhe mostrado um vídeo de dança do ventre.

Rodrigo é um dos maiores guerreiros licans. Ele é o alfa do bando. Um homem perigoso. Considerado o mais forte e letal, desde criança se destacava e dava sinais de ser um alfa.

Raul era um homem velho e muito moralista. Era o antigo alfa do bando de Rio Grande, até se aposentar e passar o cargo para Rodrigo, que já se mostrava apto para o cargo desde criança. Clarissa, a filha adolescente de Raul, adorava dançar e depois de ver uns vídeos na internet começou a dançar em casa.

Raul criou os filhos com rédeas curtas e odiaria ver sua filha caçula dançando algo tão imoral como aquela dança do ventre. Ele comentou com os outros licans sobre o absurdo da filha dele querer dançar aquelas coisas e se espantou quando percebeu que não teria o apoio dos demais.

— Deixa a menina dançar em paz — dizia o velho Otílio.

— Mas tu está ficando velho e está ficando mais chato — brincou Zélio, o mais velho dos licantropos.

Os licantropos são criaturas fortes e lendárias. As lendas pintaram eles como criaturas perigosas que podem matar tanto humanos quanto animais. Mas a realidade é que os licantropos são criaturas poderosas, com algumas habilidades a mais que os humanos e que dariam a própria vida para salvar qualquer pessoa. O povo lican vive sob um rigoroso código de honra. A honra é o que os sustenta. Os licans ocupam cargos importantes na sociedade humana. Em geral são militares das forças armadas ou da polícia, alguns se envolvem em política e outros no poder judiciário. Alguns escolhem outros trabalhos, mas sempre de forma a cuidar da sociedade, especialmente da comunidade licantropa.

Quando Rodrigo entrou no espaço onde era realizado o Conselho dos Guerreiros, Raul se apressou a lhe mostrar o vídeo de uma dançarina que sua filha adolescente estava tentando imitar em casa. No vídeo, a dançarina usava roupas curtas e chamativas enquanto se apresentava para uma plateia. Alguns dos movimentos pareciam lascivos demais para a filha adolescente e superprotegida de Raul.

Os homens licans são protetores e dominantes. Protegem todos ao seu redor por instinto, especialmente sua família. O alfa do bando era considerado o mais perigoso por ser o mais forte e mais rápido em batalha. O alfa precisava reunir as qualidades mais importantes para um guerreiro: força, agilidade e raciocínio rápido. Qualquer desonesto preferiria enfrentar meio bando a enfrentar apenas o alfa.

Rodrigo era um homem sério, sempre carrancudo. Vivia estritamente pela honra. Daria tudo pelo seu povo. Daria, se tivesse algo para dar. Se sentia vazio e sozinho. Sentia falta de uma companheira e uma família. Era um homem rude e de poucas palavras. Só conhecia as batalhas. Tenente coronel do exército. Esse era o seu mundo. Militarismo e batalhas. Não tinha festas, nem bebidas, nem mulheres, nem nada. Mal tinha amigos. Até mesmo entre o povo lican era considerado um homem intimidante. Acostumado com obediência, os homens de seu bando o obedeciam com apenas um olhar. Ninguém o desafiava. Os poucos homens capazes de lhe enfrentar eram os velhos do Conselho de Guerreiros. Esses eram os homens mais respeitados do povo lican, até mesmo Rodrigo tinha respeito e consideração por eles. Raul, Otílio, Odilon e Zélio eram os mais velhos daquela comunidade lican, portanto, os mais respeitados ali, considerados os mais sábios.

Sabendo como Rodrigo era sério, moralista e, provavelmente, "chato" como ele, Raul decidiu lhe mostrar o vídeo acreditando que teria dele o apoio que ele como pai moralista e superprotetor esperava.

— Olhe isso aqui! Veja se tem cabimento uma menina como a Clarissa dançar uma coisa dessas! — dizia Raul.

Rodrigo chegou a revirar os olhos. Não esperava entrar no Conselho para ver videozinho de dança, mas quando seus olhos focaram na dançarina o coração acelerou. Sentiu uma corrente atravessando o corpo. Com o coração palpitando, chegou a sentir um tremor. Algo estava acontecendo com ele. Nunca tinha se sentido daquele jeito.

— Me diz se uma menina que tem família pode dançar uma coisa dessas! — resmungava Raul alheio ao que acontecia ao atual alfa do bando de Rio Grande.

Rodrigo permanecia mudo enquanto olhava o vídeo. Quando Raul fez menção de afastar o notebook, Rodrigo o tomou da mão do velho e permaneceu focado no vídeo. Foi aí que ele chamou a atenção. Todos estranharam a reação de Rodrigo tão interessado no vídeo.

— O Rodrigo gostou da dançarina? Foi isso? — Otílio perguntou rindo.

— É possível reconhecer a companheira por vídeo? — foi a única coisa que o alfa conseguiu falar.

Todos ficaram em silêncio. Atônitos. Apenas se entreolharam. Ninguém esperava por essa.

Os licans aprendem desde crianças que cada homem de seu povo possui uma companheira. Só há uma mulher para cada homem lican. Eles precisam encontrar as suas companheiras. O lican que não consegue encontrar a sua companheira corre um sério risco. O risco de se tornar um desonesto, alguém que esquece a honra e cede aos desejos de poder. As lendas negativas sobre lobisomens têm origens em ataques dos desonestos, enquanto o povo lican sempre foi honrado e protetor, protegendo inclusive os humanos dos desonestos. Encontrar a companheira era a única coisa que evitaria que o lican cedesse à chamada do poder, ela seria a única capaz de acalmar a sua alma. Enquanto fosse solteiro, todo o homem lican corria esse risco. Após se unir à sua companheira, ele só correria esse risco caso ela morresse ou fosse separada dele por algum motivo. Quando um casal era separado após realizarem o ritual de união que equivalia ao casamento lican, eles não suportavam a dor da separação e quem ficava enlouquecia, normalmente seguia o outro na morte ou se tornava um desonesto. Os filhos seriam cuidados pela comunidade lican. Para os licans, as mulheres são preciosas e as crianças são sagradas. A família sempre vem em primeiro lugar.

Aqueles homens às vezes brincavam com Rodrigo sobre isso. Ele era tão duro e sério que ninguém conseguia imaginar ele com uma mulher. Podiam pressupor que ele cuidaria bem dela, já que era da natureza lican ter uma família. Os homens licans eram fiéis e protetores com a família. O grau de dominância variava de homem para homem. Rodrigo com certeza era o mais dominante de todos, mas ninguém saberia dizer como ele seria com a sua companheira. Apesar de os licans serem doces com suas companheiras, os alfas costumavam ser mais duros com elas.

Ao longo da história alguns alfas demonstraram esperar de suas companheiras e filhos a mesma dedicação e obediência que tinham dos guerreiros do bando. As companheiras dos alfas precisavam ser mulheres fortes, dedicadas e de bom temperamento. Talvez a companheira de Rodrigo precisasse ter essas qualidades multiplicadas por três. Contudo, ela apareceu como uma dançarina de dança do ventre. Uma que Raul recém tinha apontado como imoral e lasciva.

A dançarina usava um traje de dança realmente indecente para homens tão antiquados como Raul e Rodrigo. A parte de cima era coberta apenas por algo que parecia um sutiã vermelho decorado com pedras que brilhavam com o efeito das luzes conforme ela dançava. A saia vermelha era longa, mas tinha uma fenda enorme em cada lado permitindo as pernas ficarem à mostra (2). A visão era realmente linda. Feminina. Os movimentos eram suaves e ela parecia totalmente envolvida com a música que tinha partes mais lentas e outras mais rápidas. Rodrigo se perguntava se aquela imagem era real. Se realmente existia aquela mulher. Parecia que ele estava vendo um sonho, que estava vendo uma deusa e não uma mulher de carne e osso.

— Eu tenho que encontrar ela — disse mais para si mesmo do que para os outros.