3 - Uma bela freira

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De novo.

— Shhh! Fica quietinha. Eu preciso fazer isso.

Cláudia estava deitada de bruços e não conseguia virar para cima. A sensação de estar presa embaixo de alguém sem poder fazer nada era atordoante. Ele estava sobre ela de novo. De novo. Paralisia do sono de novo. Sempre aquele homem em cima dela. Como um vulto preto. Ela não o via, mas sabia que era um homem, o mesmo homem de sempre. Ela não o ouvia com clareza, mas sabia que ele queria que ela cooperasse, como se ela tivesse que lhe dar algo. Não tinha outra opção. Não conseguia se mexer, não conseguia virar, gritar, empurrar... qualquer tentativa era inútil. Era sempre assim. Não tinha medo. Já estava acostumada àquela presença, mas era irritante passar por isso repetidas vezes e ainda ser tão impotente. A anos tentava entender porque isso acontecia e como evitar, mas nunca conseguiu. O padre Júlio só dizia que ela tinha que pensar em Deus e rezar, como se fosse fácil. Ela era uma pessoa de rezar, sempre, mas nunca conseguiu rezar nesses momentos. Não durante uma das paralisias do sono em que era mantida na cama por alguma entidade perversa de outro mundo. Não diria perversa, porque ele nunca lhe fez mal realmente, mas sempre que aparecia ela sentia que ele levava algo dela, embora nunca distinguisse o que.

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Gabriel chegou na rua onde tinha ocorrido o homicídio. Encontrou o local onde o corpo tinha sido encontrado e encontrou a igreja que Bruno tinha falado que viu a mulher entrar. Ele sentia o coração bater mais rápido. Estava em estado de alerta para qualquer perigo. O movimento na rua era normal, mas tinha um leve aroma de perigo, renegados e desonestos. Ambos os perigos estavam naquela cidade. Por alguma razão, perto daquela igreja.

Se aquela mulher era apenas uma funcionária da igreja, talvez não aparecesse, já que era sábado. Decidiu entrar na igreja e sentar um pouco. Já nem lembrava a última vez que tinha entrado em uma igreja. Sentou em um banco no fundo e observou o lugar. A igreja era escura e fria. Era incompreensível que alguém sentisse alguma acolhida ou conforto ali, pensou. Viu um senhor grisalho e de óculos passando informações a uma senhora sobre os horários da missa. Pelas vestes, não parecia ser o padre, mas ficou o observando. Assim que a senhora saiu, ele se aproximou.

— Com licença. Por favor, tu pode me passar uma informação.

— No que eu posso ajudar? — perguntou o homem.

— Eu procuro uma mulher que trabalha aqui. O nome dela é Cláudia. Sabe se ela vem hoje?

— Sim. Ela está aí. Está lá dentro. É sobre a igreja? Precisa de alguma informação sobre as missas?

— Não. O meu assunto com ela é particular. Eu preciso muito falar com ela. O senhor poderia chamar ela, por favor?

— Sim. Venha comigo — o homem guiou Gabriel até a frente do altar — Espere aqui que eu já vou chamar ela. Qual o seu nome? — Após ouvir o nome de Gabriel, o homem entrou por uma porta na lateral do altar e sumiu.

Gabriel se perguntava, o que eu estou fazendo aqui? Até que sentiu um leve aroma familiar e eis que surge uma bela freira diante dele. O coração acelerou como se tivesse levado um susto. Incrivelmente, aquela freira era a criatura mais linda que já tinha visto na vida.

Cláudia tinha passado a noite na igreja, como o padre Júlio tinha pedido, mas ela não tinha levado muda de roupa, já que não tinha planejado dormir lá. Então, no outro dia teve que usar uma roupa de freira até que Vera chegasse com uma roupa para ela e ela só iria pela tarde. Até lá, Cláudia teria que se conformar em parecer uma noiva de Cristo. Não que isso fosse um problema, já que não era a primeira vez que vestia um hábito e ela até achava graça quando os fiéis a tratavam como freira e até pediam bênção.

A Loba Ferida - Livro 3 da série Lobos do SulOnde histórias criam vida. Descubra agora