19 - Camisinha

42 10 72
                                    

2k

No meio da manhã receberam a visita de Raul com a esposa e filha. Ele tinha avisado no dia anterior que iria; Cláudia usou um vestido longo preto bem simples e vestiu Gabriel com uma cueca e bermuda. Pensou em colocar uma camisa nele, mas desistiu quando viu que ele ainda tinha dificuldade para levantar o braço esquerdo sem dor.

Ao abrir a porta, Cláudia chegou a dar um passo para trás ao se deparar com a carranca de Raul. Depois de Rodrigo, ele era o lican mais assustador, apesar da idade. Por sorte uma voz feminina lhe chamou a atenção e Cláudia encontrou uma mulher que parecia simpática e calorosa que,contrariando todas as expectativas, era a esposa de Raul. Mais atrás, estava Clarissa, a filha caçula do casal lican.

— Bom dia. Viemos ver o paciente e incomodar um pouquinho — brincou Solange.

— Não estamos incomodando? Podemos vir outra hora — claro que o rabugento não perderia a oportunidade de resmungar.

— Não. Ele ele estava esperando por vocês. Não estão incomodando em nada. Podem entrar.

Cláudia os levou até o quarto onde puderam ver Gabriel. Cláudia tentou acomodar a todos para que ficassem confortáveis. Raul não não escondia seu descontentamento com a situação, repetindo em alto e bom som que Cláudia devia "ser a companheira" de Gabriel e cuidar dele. A única coisa capaz de dar uma freada naquele homem parecia ser as mãos de sua própria companheira. De vez em quando Solange o tocava como se estivesse lhe chamando a atenção, momento em que Raul balançava a cabeça e mudava o tom. Cláudia procurava ignorar, mas percebeu Clarissa quieta numa cadeira e pensou que não devia ser fácil ser filha daquele homem. Em certo momento, os dois machos começaram a falar sobre os desonestos e Solange conseguiu afastar Clarissa e Cláudia para falarem de coisas de mulheres.

— Eu ia fazer uma coisinha para trazer, mas soube que a Clara trouxe uma sopa, então, como ela se adiantou, eu não trouxe nada.

— Capaz. Nem precisa se incomodar. O Gabriel está bem. Aliás, ele está sendo bem minado. O tempo todo bem alguém visitar ele.

— Que bom. Nós ficamos preocupados com ele. Pensamos que talvez tu precisaria de ajuda para cuidar dele, mas que bom que não precisou. Dá para ver como ele está bem.

Cláudia entendeu do que ela falava. Os licans sabiam que ela e Gabriel não se davam bem e não confiavam que ela cuidaria dele. Esse pensamento lhe deu uma pontada de tristeza, mas respirou fundo e sorriu de volta. Solange estava selecionando as palavras e sendo simpática, pelo menos não estava sendo grossa como o companheiro dela, então ela poderia ser simpática de volta para aquela mulher.

— Ele está melhor, né? — Cláudia falou ao mesmo tempo em que inclinava a cabeça para o lado e abriu um grande sorriso. Solange captou o recado e sorriu em cumplicidade. A palavra safadinha estava implícita naqueles sorrisos trocados entre as duas mulheres. Claro, que nem precisaria Cláudia ter dito nada. Qualquer lican poderia sentir o cheiro de Gabriel nela. Cláudia exalava o cheiro de Gabriel, ela não percebia porque ainda era humana. Mas, estavam acasalados, era isso o que qualquer lican perceberia ao se aproximar dela.

Quando a família partiu, Cláudia voltou para a cama. Ela e Gabriel passaram o dia em cima da cama trocando carinhos e fazendo amor.

— Gabi, a gente tem que começar a usar camisinha. Eu não quero ter que tomar pílula do dia seguinte de novo.

— Tu não vai tomar de novo essa pílula. Eu não vou permitir.

— Eu nem quero. Aquilo ainda deve estar fazendo efeito no meu corpo.

Gabriel deslizou a mão pelas costas femininas e repousou no ventre — Ainda está fazendo efeito? Tu sente alguma coisa?

— Não. É que a pílula é forte. Demora pra menstruação regularizar, essas coisas. A gente tem que usar camisinha.

A Loba Ferida - Livro 3 da série Lobos do SulOnde histórias criam vida. Descubra agora