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Nos dias seguintes, Gabriel voltava sempre na igreja e se Cláudia não o recebesse ele ameaçava invadir o interior do templo. Cláudia acabava indo até ele apenas para mandá-lo embora. Gabriel sentia o coração doer cada vez que ouvia aquelas palavras, mas só por ver ela e saber que estava bem Gabriel já sentia um alento. Ele ficava até tarde. Via a igreja ser fechada e todos irem embora, mas nunca via ela saindo, então presumiu que ela estivesse passando as noites lá. Nas primeiras noites, Rodrigo, Roger ou Bruno o acompanhavam, mas, depois de muito insistir, os convenceu que não era necessário agora que sabia onde ela estava. Isso mudou numa sexta-feira à noite, que, após a missa, ele viu Cláudia vestida como se fosse sair. Vou ter que seguir ela de carro para ver onde vai e garantir a segurança dela, ainda que de longe, pensou.
Quando Gabriel começou a sentir um cheiro familiar, seus pelos arrepiaram. Desonestos. A igreja ainda estava aberta, com alguns poucos fiéis. Manteve os olhos atentos à porta e torceu para que Cláudia não saísse naquele momento. Um homem não muito jovem entra na igreja com passos largos e firmes. Ele dá poucos passos para dentro e olha ao redor. Ele farejava um lican e seus olhos só pararam quando repousaram em Gabriel. Os dois balançaram a cabeça em um mútuo reconhecimento. Para desespero de Gabriel, Cláudia sai de dentro da secretaria da igreja, andando justo na direção do desonesto que mantinha um sorriso de satisfação quando a percebeu indo até ele alheia a qualquer perigo. Gabriel precisou colher cada grama de controle que tinha para não se transformar em lobo ali mesmo, na frente de todo mundo, para defender sua mulher. Correu e se pôs diante de Cláudia, entre ela e o desonesto.
- Cláudia, fica aqui dentro. Não saia agora.
- Gabriel, sai da minha frente. Eu vou sair porque eu quero.
- Cláudia, tem um desonesto aqui. Eu acredito que enquanto estiver dentro da igreja ele não vai fazer nada, então fique aqui.
Cláudia esticou o pescoço e olhou para o homem que os olhava parado diante da porta principal.
- Tu conhece ele? - Gabriel perguntou indignado como se já soubesse a resposta.
- Ele é amigo do... - Cláudia não terminou de falar. Sabia que se a situação já estava ruim, provavelmente pioraria se Gabriel soubesse como ela tinha conhecido aquele homem.
- De quem? Ele é amigo de quem?
- Não te interessa. Eu posso sair com quem eu quiser.
- Não pode. E tu não vai sair com nenhum desonesto. Não enquanto eu estiver vivo. Não vou te deixar fazer uma loucura dessas. Tu não vai terminar a tua vida nas garras de uma criatura dessas. Ou tu volta para dentro agora, ou tu vai para casa comigo.
- O que? Tu não tem o direito de decidir nada por mim. Eu vou aonde eu quiser.
Gabriel e Cláudia tentavam manter o tom de voz baixo dentro da igreja, mas sem se darem conta, estavam ficando cada vez mais alterados e as poucas pessoas que estavam ali começaram a olhar para eles. Então, um acólito que observava se aproximou deles.
- Eu vou ter que pedir que vocês discutam lá fora.
- Ah, desculpa. Eu não quis incomodar - Cláudia tratou de se desculpar, mas estava tão envergonhada por ter sido chamada a atenção dentro da igreja que nem sabia que palavras usar.
- Vamos lá fora continuar a nossa conversa e eu adoraria que nos acompanhasse - Gabriel dirigiu o olhar ao acólito. Cláudia e nem o acólito entenderam porque Gabriel quis que ele os acompanhasse até a rua, mas Gabriel sabia bem o que fazia. Ele conhecia os desonestos o suficiente para saber que dificilmente atacavam em público ou com testemunhas. Eles, assim como os licans, sabiam a importância da discrição para que não fossem caçados como aconteceu em épocas passadas. Precisavam passar despercebidos pelo mundo dos humanos.
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A Loba Ferida - Livro 3 da série Lobos do Sul
Manusia SerigalaLivro 3 da serie Os Lobos do Sul SINOPSE: Gabriel é um dos maiores guerreiros licans, considerado um dos homens mais inteligentes e ágeis do bando de Rio Grande, além de ser um grande estrategista e sensitivo. Como lobo beta, ele é o segundo no coma...