Capítulo 13

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"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada."
Autoria — Clarice Lispector.

       — Quantos dias você ficará por lá?

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       — Quantos dias você ficará por lá?

O tom de Jasper era seco, calmo e frio, como se a ideia de eu me afastar da sua vista fosse um crime. Faziam três dias que eu estava instalada na minha nova moradia, e nesse ínterim, eu já havia conhecido quase todos os cantos da propriedade. Eu digo quase, porque conhecer tudo em tão pouco tempo era impossível. A mansão era gigantesca. A escada que ligava ao segundo andar fora projetada no centro da sala e quem subia por ela, dava de cara com o principal corredor de arenito — pelas minhas contas havia uns dez quartos no total. No fim deste corredor, abria-se espaço para uma ampla sacada, onde se podia descansar e ver a vista lá de baixo nos jardins e piscina. A suíte principal pertencia a Jasper, do lado direito de quem entrava no corredor. Precisei engolir minha curiosidade, e não entrei para ver como era, mesmo sob muita pressão de Ariel para eu entrar no lugar. Eu não era tão louca a louca de entrar na cova do leão

Contando duas portas antes do quarto dele, do lado esquerdo, ficava o quarto de Ariel, e bem logo no começo do corredor, ficava o meu quarto. Era tão espaçoso quanto os demais e contava com um closet luxuoso, banheiro integrado com banheira de hidro e box. Era difícil acreditar que eu tinha um quarto como aquele somente para mim e Nono. Me sentia uma verdadeira madame, apesar da minha consciência avisar constantemente que isso seria passageiro.

No andar de baixo ficava a sala para visitas toda arquitetada no estilo vitoriano, os móveis, o lustre no teto, a imponente lareira, as cortinas, o piso, tudo remetia à imagem de um filme de época mordeno e luxuoso. O escritório de Jasper ficava depois da sala de jogos — esta por sua vez, contava com uma mesa de bilhar no centro, outras mesas para jogos de cartas à um canto e um mini bar noutra extremidade. As prateleiras atrás do balcão de arenito estavam lotadas de garrafas de toda espécie de bebidas alcoólicas existentes. Se algum dia eu quisesse me matar de beber, aquele seria o lugar perfeito. Ainda havia a sala de troféus, um espaço destinado aos prêmios e títulos que Jasper ganhara durante sua vida, além deles, nas paredes da sala foram penduradas cabeças de animais empalhados e o lugar tinha um odor irritante de madeira queimada. O lugar que eu passava mais tempo era na copa, uma divisão adjacente à cozinha que cheirava constantemente a comida quentinha e extremamente deliciosa. A mesa e o chão de madeira, somados a autêntica simpatia de Lorenza, a funcionária mais velha de Jasper, deixavam o ambiente natural e acolhedor.

Em resumo, a casa toda era linda, havendo arte e ornamentos de valor por todos os lados. Segundo Lorenza, a mansão ficava localizada em um dos bairros mais nobres de Seattle. Óbvio que Jasper morava num lugar como esse, tinha dinheiro ao seu dispor para construir um castelo se assim quisesse. Mas, além de ainda estar me acostumando com o lugar, eu também andava enchendo o saco de Jasper para poder ir buscar logo Nono em Chicargo. Logicamente ele não concordou de imediato, fazendo questão de repetir o discurso do médico que me examinara anteriormente, o qual me prescreveu descanso absoluto. Finalmente, depois de muito insistir, ele tinha cedido ao meu pedido, ou pelo menos eu achava que tinha.

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