Zayn

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Emília não quis voltar pro quarto , logo eu soube que havia algo errado. Ela deu a desculpa de que estava sem sono e foi para a proa do navio sem saber que eu a seguia já que ela afirmou que estava bem e que eu poderia dormir sozinho.

Mas não pude evitar e ao ver ela na proa olhando para o horizonte.
As estrelas brilhando no céu e a lua cheia no alto iluminando sobre as águas escuras enquanto o navio se movia para o nosso próximo destino. Ela se apoiava na balaustrada de costas para mim, me aproximei e fiquei ao seu lado , ela olhava para o além segurando o colar com o pingente vermelho.

- Fala ou arranco a verdade de você.

Ela sorriu.

- Nada demais, na verdade só estou preocupada.
- Com...
- Rael.

Só de ouvir seu nome senti uma raiva crescendo em meu peito.

- Ele não vai tocar em você de novo.
- Mas ele deve estar procurando por mim. É mais fácil chegar até mim e me usar.

Segurei seu rosto.
Ela evitava meus olhos.

- Quem te contou isso?

Ela enfim olhou para mim e abriu e fechou a boca .

- Bem...
- Dante contou besteiras a você?
- Não! Eu só estou falando o óbvio, não posso me esconder pra sempre.

Soltei seu rosto com um suspiro.

Minhas mãos começaram a suar derrepente mesmo estando frio aqui em cima.

- Eu dou um jeito.

Ela sorriu.

- Eu não posso viver desse jeito Zayn.

Não, ela não podia. Merecia mais, merece mais...merecia ser livre.

- Não. Mas Rael não vai durar muito .

Ela suspirou olhando para o mar.

- Não é melhor evitar uma guerra maior antes que aconteça? Já está ocorrendo briga nos reinos até onde eu saiba nos últimos meses , tudo por causa das leis que impedem as pessoas de atravessar as terras . Sabia que algumas tem que pagar para entrar? Atravessar as terras virou um comércio.

Sabia, na verdade quem pagava era geralmente os mais pobres , os ricos geralmente só atravessavam a barreira de poder.

- Não adianta pensar nisso agora Emília. Vamos.

Estendi a mão e ela hesitante a pegou, juntos voltamos para o quarto , mas não consegui dormir novamente. Rael era um monstro e precisava ser detido , mas entregar Emília era um preço alto demais a pagar, sabia que ela queria ir para a montanha , mas ela não sabia que o preço era alto.

Lembrei de quando Rael a pegou e o medo em seus olhos naquele altar, ela quase foi violada...assim como Mary.

- Zayn...

Saí do devaneio e encarei Emília com a cabeça sobre meu peito, afastei um cacho de seu rosto. Seus olhos verdes não estavam brilhantes como sempre, estavam opacos e sem vida.

- O que ?
- Eu não tenho nada a perder, eu acho que deve ser feito logo.

Respirei fundo.

- Vamos pensar em um outro jeito.

Ela não parecia se convencer disso , mas voltou a deitar a cabeça sobre meu peito e fechou os olhos. Acariciei as ondas de seu cabelo até conseguir adormecer quando os primeiros raios de sol penetraram as paredes.
Me arrependi no mesmo instante.

Lá estava...tudo de novo. O sangue , Mathias em meus braços e Mary enfiando a tesoura sobre seu pescoço.
Mas então algo mudou, estava em Gondrov, no meu quarto , o quarto que eu odiava. As paredes azul escuro, a cama enorme confortável na qual não me acostumava após anos dormindo em cabanas do exército no chão duro, a pintura de minha mãe na parede comigo em seu colo, eu não devia ter um ano quando a pintura foi feita. Ela sorria e seu cabelo era como o meu, um loiro pálido, seu rosto era como um porcelanato de tão branca, os lábios eram rosados e os olhos eram de um azul cor de gelo .

Terra de sangue e fúria Onde histórias criam vida. Descubra agora