Presente (07/12/2020 - outono)
As últimas luzes se apagam, no relógio a marcação das horas e realmente devo admitir que ela fecha tarde comparado a outros locais de mesmo funcionamento. Pela entrada surge carregando em mãos seu guarda-chuva, abro a porta do carro descendo de meu veículo.
Em sua direção caminho sentindo a chuva molhar minha pele, a proteção de seu restaurante se torna meu abrigo contra a garoa gelada. Surpresa é a expressão que carrega em seu olhar, nos lábios a curva se abre mostrando uma de suas preciosas maravilhas naturais, o sorriso.— O que faz aqui? Perdeu o caminho de casa?
— Quase isso, estive pensando bastante e cheguei a conclusão de que eu deveria estar mais próxima.
— Estratégia nova essa? Independente do motivo eu sinto que deseja me contar algo importante, devo me preocupar?
— Talvez sim, — sinto meu sorriso sumir. — são pequenas coisas que eu preciso saber.
— Pequenas, olha, eu não estou tão bem para entrar em certos assuntos e prevejo que iremos acabar falando sobre isso... naquele verão.
— Eu errei naquele verão, mas não é apenas sobre isso que desejo falar.
Mesmo essa sensação ruim que habita em meu peito não pode extinguir a imagem guardada pertencente a meu coração. A expressão seria se abranda e no mover das maçãs se sua face tal sorriso retorna ao apogeu. No formar de suas covinhas a pureza percorre cada centímetro de sua expressão, quando encontro essa imagem tenho certeza de que poderia passar o restante de minha vida em inércia contanto que a imagem fosse essa.
— Sou tão bela? Esse brilho em seus olhos, parece estar diante de uma deusa. Sinto-me privilegiada.
— Mesmo que o assunto seja mais delicado não posso negar seu poder, é mais forte, me sinto atraída por você e talvez esses anos em distância tenham me feito ficar mais emotiva.
— Jura? Não posso negar, sabe tão bem quanto eu o tamanho de meu sentimento... no fim é difícil manter a mente firme.
— Concordo com você.
Viso suas mãos, a ausência da aliança assim como sua postura diferente comparada aquela noite... seguro sua mão, retorno a sua face que estampa agora o rubor mais belo que poderia testemunhar hoje. O que teria sido de nós se nosso amor tivesse sido declarado, que tipo de conduta iríamos enfrentar e quais seriam nossas conclusões para esses problemas.
Caso possamos nomear essa emoção de amor e ignorar sua relatividade, admito que gosto da forma como estou sentindo essa emoção, essas variáveis são algo que quero mergulhar cada vez mais fundo.— Naomi. Sabe que as pessoas podem acabar nos observando, nem todos conseguem aceitar.
— Eu sei, mas não me importo... nunca me importei com a aceitação externa.
— Por mais que não se importe — solta minha mão. —, ainda sou casada com ele apesar da aliança.
— Eu sei, se tem algo que eu sei bem é sobre isso e posso dizer abertamente o quanto odeio este fato.
Torno a pegar em sua mão, sem receio busco o berço de sua alma. É estranho estar assim por mais que meu peito clame por tal atitude, seu desconforto é evidente.
No fechar das pálpebras o surgir do sorriso que cintila por sua face, não possuímos mais volta quanto a este sentimento. Somos apenas eu e você neste instante, Murano.— Tem que voltar para casa cedo? Poderíamos passar em algum lugar antes, conversar melhor.
— Eu tenho uma filha, o que você acha?
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When The Weather Is Fine
RomanceLigados pelos fios de um trágico e infeliz destino forjados ainda na adolescência, três adultos, são conduzidos pelos ventos da vida para o lugar onde suas vidas tiveram início. O vilarejo patrimonial de Shirakawa conhecido por sua beleza e encanto...