Estar próxima da vidraçaria me acalma, essa situação não me é tão agradável. Ao menos algo quebra esse silêncio, não pensei que estaria diante destes olhos após longos anos desde meu casamento.— Posso sentir a tensão entre vocês.
Queria poder dizer que é sua imaginação, porém quando encaro os daquela que admirei sinto culpa e não conforto.
— É um prazer conhecer você. Não esperava encontrar alguém familiar a Kana, todas às vezes em que viemos ninguém aparecia.
— Na verdade, eu sou quem está surpresa, não sabia que Kana estava no Japão… não sabia que ela ainda saia da Tailândia nessa data.
— Realmente ela não sai bastante, mas hoje era especial, é importante que veja sua mãe em um dia como esse tão importante.
— Nossa mãe gostava desta data, dizia que apesar de a nossa tradição ser outra deveríamos ao menos estar com quem é amado.
— Onde nasci temos esse dilema, cozinhamos refeições intermináveis e saborosas… arrumamos a mesa e quando o dia vira celebramos com uma ceia.
— Entendo, fico feliz em saber que nesse lugar ela tenha uma amiga tão especial como você. A vida se torna mais tranquila e interessante frente a tantas dificuldades ou simplesmente prazeres.
Deixo sob o prato a xícara, e no destoar de meu olhar encontro a sua expressão leve. Difere daquilo que imagino como uma companhia para minha irmã, mas muito é pelo tempo passado desde nosso último encontro no casamento.
Agora que percebo, seu dedo anelar porta um brilhar incomum, uma aliança, sem dúvidas é alguém dedicada o suficiente para largar sua casa e estar aqui com ela.— Se me permite a pergunta, como se conheceram?
— Isso é uma pergunta curiosa, em exato, eu não sei bem quando nos conhecemos. — o cenho franze. — É uma questão difícil de responder com lógica. Posso dizer que tivemos muitos primeiros encontros.
— Minha irmã nos últimos momentos em que a vi era mais solitária, não tinha muito daquilo que já foi na adolescência.
— Acredite se quiser, mas foi ela quem veio até mim… por diversas vezes nos encontramos…, porém uma única vez foi marcante e essa talvez seja nossa primeira ocasião de encontro.
— Ela elaborou algo de inusitado?
— Sim, por assim dizer, apesar de sociável, eu nunca gostei muito de chamar atenção e justo num momento de atenção ela veio salvando meu pescoço.
— Você sabe o motivo disso? — talvez ela não saiba da opção dela… — Minha irmã talvez seja difícil de lidar e por isso pode ser complicado.
— Se refere ao fato dela gostar de mulheres? Imagino que seja sobre isso.
Busco seu semblante e nele encontro a curva de lábios mais cheios que carregam uma sincera alegria qual vejo em poucos. Ouvir suas palavras me fazem acreditar se ainda devemos ser tão reservados quanto a relacionamentos com semelhantes, afinal, todos temos o desejo de amar e ser amada nessa vida.
— Sua expressão mudou, está surpresa, talvez fique ainda mais ao saber que essa aliança é de nosso casamento.
— Casamento…
— Apesar da impossibilidade legal, somos casadas desde o ano passado… admito que seria bom compartilhar seu nome, mas não me importo, nossos sentimentos não serão medidos por um papel.
— Eu nunca pensei em minha irmã vivendo desta forma, ainda mais após o meu casamento.
— O que houve nele?
— Nós discutimos, mas ela sempre esteve certa quanto isso e apenas agora pude reconhecer.
— Existem coisas que funcionam melhor com o tempo. Contudo, ainda acho que você reconhecer diz muito sobre seu desenvolver.
— Tem razão sobre isso, mas ainda não havia percebido que cometi tantas falhas.
— Agora que ficou mais solta, desejo perguntar, você não estranha o fato de sua irmã mais velha estar casada comigo? Toda vez que pensava sobre isso, me questionava sobre como sua família lidaria com essa revelação considerando a minha.
— Ela não contou sobre mim, não é?
— Não, ela não fala sobre a família que deixou aqui além de seu pai e mãe.
Atravessando o arco da porta de vidro surge com a mesma expressão de antes, fechado, mas para mim unicamente. Sua acompanhante se achega para o lado da janela, permitindo seu sentar na cadeira onde estava.
— Fiz o que deveria, podemos voltar ao hotel Sam.
— Claro, mas talvez possamos continuar aqui um pouco mais.
— Não desejo atrapalhar.
— Não atrapalha em nada, nós viemos apenas para zelar a passagem de sua mãe. E não é como se tivéssemos muito trabalho em nossa casa.
— Tudo bem…
— Agora percebi um ponto, eu não me apresentei antes, — estica sua mão entregando-me um sorriso. — me chamo Sarocha ou apenas Sam, é um prazer conhecê-la.
— Foi deselegante de minha parte também, não me apresentei corretamente. Murano Hoshino, a irmã mais nova da Kana.
— É um prazer conhecê-la Murano.
Ao seu lado, o bufar seguido pelo franzir de sobrancelhas, uma atitude comum a ela, não foge de seus padrões mais comuns.
— Sinto que estou atrapalhando algo.
— Não está nem um pouco, Kana que está mais sensível hoje.
— Mesmo que não fosse o caso, preciso ir embora, resolver algumas pendências.
— Antes…
Kana encara a mim com seu sorriso incomum de desconforto tão comum quanto o franzir de seu cenho caricato de uma jovem mulher.
— Onde está sua aliança? Disse que não a tiraria caso não fosse importante, era o juramento que fez com o Hanzo.
— Realmente foram palavras quais eu disse, ainda assim não pude manter elas e ambas.
— O que houve?
— Não pude manter minhas palavras devido ao divórcio que nos separou, Hanzo e eu optamos por seguir caminhos divergentes um do outro.
— Divórcio?
Se levanta confusa, as palmas sob a mesa pressionam a ela e sem perceber atrai os olhares daqueles em nosso entorno.
O segurar de seu braço a conduz de volta para a cadeira, semelhante, tomo meu assento mais uma vez encarando os olhos qual portam agora uma expressão distinta daquilo que via.— Recente foi essa minha decisão, nos separamos para que ainda possamos viver algo além de desgosto e desordem.
— Então acabou com o acordo de seu pai?
— Quantos isso não sei, irei encontrar ele hoje, mas não sei muito bem o que posso esperar.
— Como está a menina? Como você está?
— Vai ficar bem, ela e eu aprenderemos a lidar com essa adversidade. Também não estou sozinha, tenho alguém em quem posso me apoiar.
— Fazia tempo que seus olhos não brilhavam ao falar de outra pessoa além de sua filha, espero que possa sair deste momento que vive.
— Irei fazer isso. Acredite em mim.
— Sendo assim não posso tomar mais de seu tempo, vá e fale com aquele velho. Apesar de difícil, algumas despedidas são necessárias, essa se mostra de extrema necessidade.
— Nisso concordamos com certeza, mas ainda assim farei de um jeito qual não me arrependa.
— E antes que vá, pode contar comigo caso não se sinta bem. Apesar de que pelo que vejo existe alguém já esperando por você , e isso certamente lhe traz força… boa sorte irmãzinha.
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When The Weather Is Fine
RomanceLigados pelos fios de um trágico e infeliz destino forjados ainda na adolescência, três adultos, são conduzidos pelos ventos da vida para o lugar onde suas vidas tiveram início. O vilarejo patrimonial de Shirakawa conhecido por sua beleza e encanto...