秋 (Aki) - O final de um ato

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Presente (13/12/2020 — outono)


A água terma escorre pelo meu corpo, apoio minha testa no azulejo branco permitindo o molhar de meus cabelos. Massageio meus fios sentindo a cada movimentar dores em minha cabeça, perdi a conta de minha consciência ontem, os questionamentos que fiz e seu ato... por tanto critiquei ele para que ao final cometesse o mesmo deslize moral.


— A roupa está aqui, — ouço a voz abafada pelo som da queda d'água. — coloquei uma toalha também.

— O-obrigada.

— Não é nada afinal está em minha casa, é o mínimo que posso fazer por você.

— Me salvou mais uma vez, sinto que isso tem sido bem recorrente nesses últimos dias.

— Nada que não fizesse por mim. — desligo a água por um momento. — O que houve?

— Sabe Naomi, eu lembro do que você disse ontem a noite... aquelas palavras... eu não respondi.

— Estava sob efeito de álcool — ouço a risada reprimida. — é comum que não consiga responder.

— Passei de meu limite ontem, pensei que estaria tudo bem ficar tão distante.


Vejo a silhueta de sua sombra através destas cortinhas brancas, parada frente a elas, tenho sua perfeita imagem... eu realmente estou aqui após tantos anos.


— Se arrume e desça, preparei o café.

— Farei, obrigada mais uma vez Naomi. Sinto que tenho estado constantemente em débito com você.

— Não é nada que você não faria,

Sua deixa faz com que eu retorne ao banho para eu pouco tempo depois partir em direção a sua presença agora vestida com as roupas escolhidas por ela, desço a escadaria, faz tempo desde a última vez em que visitei sua casa.
Lembro-me com facilidade do instante em que coloquei meus pés aqui, a casa dos Minamoto, sua mãe ainda vivia com o pai e seu sorriso era tão largo quanto o sol refletido ao mar.

Cruzo o arco que precede a sala de jantar sendo recebida por seu olhar, numa das cadeiras seu pai... esse frio que percorre minha espinha... é familiar de um jeito ruim. Curvo-me diante do mais velho que ao levantar de meu rosto abre um sorriso como da última vez.


— Vejo como cresceu, está mais bela do que um dia já foi jovem Murano.

— Agradeço o elogio senhor Minamoto, mas são seus olhos. Depois do nascer de minha filha tornei-me uma mulher mais distante de um padrão.

— Não é bem assim também Murano. — Naomi e seus elogios, sinto minhas bochechas queimaram. — Está em boa forma.

— Vamos, sente-se a mesa e tome café conosco.

— Obrigada.


Após me sentar sou servida por uma das empregadas, com a partida de todas presentes o ar do mais velho muda. Num pigarro quebra o silêncio da mesa, temos um assunto importante como da última vez.


— Senhorita Murano, sinto que eu devo desculpas a você pelos atos passados. Fui um adulto irresponsável, mal pude notar o sentimento das crianças que compõe o futuro.

— Eu entendo o momento passado, não é como se fosse algo comum também. Espero que não se sinta tão culpado.

— Mesmo que diga isso foi errado de minha parte, tanto como um diretor, quanto como um pai. Fui covarde nessa atitude, poderia ser melhor e falhei.

— Mesmo que diga isso agora tudo está no passado, não há como voltar agora, não mais.

— Ontem ouvi sua voz, percebi estar sob efeito de álcool... ouvi seus lamentos e ali pude perceber o quanto falhei.

When The Weather Is FineOnde histórias criam vida. Descubra agora