Mal posso recordar à última vez em que estive neste lugar, dois... talvez três, no final não me recordo por nada. Mas após tanto tempo ainda sinto que não pertenço a este lugar distante do imaginário comum.
Caminho em direção a imagem inquebrável da eterna chama solar, avermelhado o seu brilho se encontra em um dos poentes mais marcantes que já presenciei. Sem dúvidas a magnitude deste lugar consegue permear as barreiras no meu peito.Talvez seja pela época, mas não me lembro dessa margem arenosa tão movimentada assim, fora as emoções translúcidas que esboçam diante a visão do poente. Alguns sorrindo, outros em lágrimas, mãos dadas e os solitários, abrangente de fato.
- Pensar que costumávamos vir aqui... traz aperto e solidão ao meu peito.
Essa água turva... sempre disse o quanto ela parecia comigo e no final eu lhe daria razão para tal argumento. Sobre o solo coloco a flor de tonalidade rubra, uma memória a qual sempre iremos compartilhar para sempre.
O assobio oculto percorre a minha audição, instigada busco a sua direção e pelo vento revolto sou surpreendida, alçada aos céus percorre os seus caminhos. A persigo com o olhar e a vejo cair nas águas, a mão mais ágil agarra o objeto evitando a sua partida súbita. Os lábios mais carnudos abrem um sorriso que logo some perante o brilho do poente.- "Tão escura quanto à própria noite que te consola", - a figura masculina se aproxima, como podemos sempre passar por isso. - a marca, pelo visto não é... você.
E no dia em que eu voltei a sua imagem se apresenta, o olhar cintilante e a clara ingenuidade no sorriso... este homem não mudou nada, mas diferente dele eu mudei e muito.
- Bem-vinda de volta a Shirawaka, Naomi. - a sua voz, este timbre neutro é o mesmo de sempre. - É estranho pensar... jamais pensei que iríamos ter esse momento de novo.
- A singularidade é algo indispensável quando se trata de nós.Não sei se estou mal arrumada ou encantadora, porém esses olhos não deixam de fitar-me. De cima a baixo esses olhos castanhos consomem a minha aparência, esse sorriso de canto, parece que o seu instinto primitivo fala mais alto.
- Pela expressão - o homem gesticula a passar por sua face à palma. - percebo que pensa em algo indevido, não mudou nada.
A imagem deste homem na minha frente enquanto estamos cercados por esses sons, pelo fluxo da água e por esse vento sibilante... ele parece diferente do mesmo homem de anos atrás, mas o anel ao redor do seu dedo indica o contrário daquilo que um dia foi.
- Faz tanto tempo, anos passaram-se e parece que parou no seu ciclo. - esse sorriso, ele está feliz mesmo ou apenas curioso... eis a questão. - Fico feliz em ver que está bem.
Lentos são os passos dados na minha direção, é como se desfilasse fora dos palcos, a proximidade gera o seu toque trivial e com a boina prende os revoltos fios vermelhos abaixo do tecido.
Do seu bolso puxa um pequeno caderno de anotações, esse homem fortificou os seus hábitos curiosos.- "Eu sempre soube que seria assim, num poente magistral as nossas memórias seriam o marco do nosso reencontro". - após o ler fecha novamente o livro. - Esse trecho faz-me acreditar que tudo tem um motivo.
- Hanzo. - fito as folhas douradas dançarem no ar. - Realmente não perdeu o seu hábito.
- Difícil perder - sem graça demonstra um sorriso contido. -, bonito o cabelo... ouvi dizer que mudou o visual. Não pensei em vermelho.
- Obrigada, é uma cor única, mas sua era em breve irá sumir.
Breve fora o silêncio marcante, os seus olhos reclusos agora repousam sobre mim com o clássico olhar de quem deseja dizer algo que não deve.
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When The Weather Is Fine
RomanceLigados pelos fios de um trágico e infeliz destino forjados ainda na adolescência, três adultos, são conduzidos pelos ventos da vida para o lugar onde suas vidas tiveram início. O vilarejo patrimonial de Shirakawa conhecido por sua beleza e encanto...