δεκατρείς

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Boa leitura, perdoem os errinhos e não esqueçam do votinho e de comentar ~


Havia uma lenda que corria pelos confins do tempo e dizia que o primeiro lobisomem a ser morto tivera a vida ceifada durante uma antiga guerra, o corpo fincado contra a grama pintada de vermelho pela lâmina de uma espada de pura prata. Depois de sua morte, todos os licantropos desenvolveram uma sensibilidade fatal à prata, uma das únicas substâncias capazes de feri-los para além de sua capacidade de cura. E ainda havia aqueles que acreditavam que por ter sua vida ceifada aos trinta anos, nenhum lobo envelhecia depois de completada a terceira década de vida.

Seungwoo não sabia se a lenda era verdadeira, mas podia afirmar com todas as letras e cada gota de sangue que a prata era fatal.

Com os pulsos e os tornozelos atados à cadeira de madeira, ele imaginava que o restante da alcateia riria de sua situação se o vissem naquele momento. Para um lobo, empregar força bruta para se livrar de empecilhos era tão rotineiro e natural quanto respirar. Com apenas um movimento de pulso poderia se livrar das cordas finas que davam voltas apertadas em suas extremidades. Poderia, se não estivessem banhadas na maldita prata.

Os pulsos e tornozelos estavam em carne viva e ardiam como o inferno sempre que tentava se mover. Era como jogar álcool e atear fogo nas feridas abertas, que não tinham tempo de se curar antes que ele voltasse a tentar forçar sua liberdade mais uma vez. Não tinha mais consciência do passar do tempo, o cômodo escuro deixava vazar uma luz esbranquiçada de uma abertura perto do teto, mas não tinha meios de saber se era a luz do dia ou de lâmpadas fluorescentes. Havia momentos em que a consciência falhava, os olhos rolavam nas órbitas e ele se entregava à ilusões inquietantes que o impediam de descansar mesmo em sua inconsciência. Tinha sido ferido superficial e profundamente, podia quase sentir o gosto da prata que banhava a adaga fincada em sua coxa, o arranhão perto das costelas demorando o dobro de tempo para cicatrizar por ter sido feito pelo mesmo material. No rosto, rastros de sangue seco marcavam grotescamente as agressões sofridas nos olhos, boca e nariz que, mesmo curadas, não tinham sido devidamente limpas.

E havia a sede.

Nunca se permitira chegar ao ponto de não conseguir manter uma linha de raciocínio simplesmente porque tinha sede demais. Mas a garganta seca não era apenas um incômodo físico, a falta de sangue despertava e alimentava uma besta primitiva que todo lobisomem carregava em seu interior e Seungwoo podia sentir o lobo querendo tomar o controle à força, rosnados esporádicos deixando o abrigo de seus lábios toda vez que ele sentia estar perto demais de ceder, mas a prata impedia que a besta tomasse forma física. Tão fraco que começava a se esquecer que deveria continuar tentando fugir. Mas essa nem era a pior parte.

A pior parte foi quando parou de ouvir os gritos de Seungsik.

A tortura era infinita, mas eles se recusavam a dar qualquer informação sobre a alcateia. Sentiu agulhas penetrando seu braço e o efeito de substâncias desconhecidas confundindo-o ao ponto de quase deixar escapar uma localização, um nome, um segredo. Mas se calava toda vez que ouvia Seungsik rosnar no cômodo ao lado. Encontrava forças toda vez que o escutava negar entre os gritos de dor, recusando-se a trair sua família. Não conseguia pintar os horrores que o irmão vivia do outro lado da parede, o amava demais para aceitar a ideia de que ele estava sofrendo a poucos metros de seu alcance e que não poderia fazer nada para ajudá-lo. Foi entre um apagão e outro, talvez devido aos líquidos que lhe injetavam, que Seungsik ficou em silêncio. Seungwoo forçou até o limite de sua audição lupina para tentar captar qualquer som, que fosse um choro, uma respiração, um resmungar. Qualquer coisa que demonstrasse que ele continuava ali, mas sem sucesso. Chegou a chamá-lo baixinho, um mero sussurrar que apenas outra criatura da noite poderia ouvir. Sik, o apelido carinhoso de apenas uma sílaba saiu num arfar preocupado e choroso e mesmo assim Seungwoo não teve qualquer resposta.

CHRYSA: Além do Sangue | taeyoonseokOnde histórias criam vida. Descubra agora