Capítulo 16

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Já deixo avisado que o capítulo tá meio pesado(só um pouco), mas pode deixar algumas pessoas sensíveis.

Minha última semana na casa dos pais de Carter foi superdivertida, Sandra me ensinou a fazer cookies e cupcakes, Aurora e eu fizemos muitas compras juntas, Alexander e eu nos aproximamos e até mesmo o pai deles passou um tempo comigo, conversamos sobre minha faculdade e ele prometeu me ajudar a conseguir um estágio.

Isaac e eu tivemos uma pequena briga ontem à tarde, ele insiste que eu me mude para outra casa, de acordo com ele, minha rua não é segura. Quando perguntei como ele sabia disso ele me contou que matou um homem na rua de trás, foi o suficiente para encerrar nossa conversa.

Ainda não tínhamos conversado sobre seu trabalho, mas acho que Carter percebia como eu ficava desconfortável com esse assunto. Não acho que seja certo matar pessoas por dinheiro, ainda mais quando você é rico. Não vou dizer que algumas pessoas realmente merecem morrer, porém, não quero que o assassino seu o meu namorado.

– Agnes – Carter me chama enquanto desço as escadas. – Vamos conversar sobre isso, por favor?

– Agora não, Isaac – Peço suspirando. Paro de andar e me viro para ele. – Não gosto do que você faz, nunca gostei, você sabe disso desde sempre.

– E você sabia que esse era o meu trabalho quando nos conhecemos, ainda sim se apaixonou por mim – Diz.

– Me apaixonei pelo Carter que eu conheci, o daquela noite não é alguém eu reconheça quando eu olho para você

– Acho que você tem razão, não devíamos falar sobre isso agora – Ele desce as escadas antes que eu possa responder.

– Ag! – Aurora vem até mim correndo. – Troca de roupa e vem comigo

– Por quê? – Pergunto sorrindo.

– Alex me chamou para sairmos e não quero ficar sozinha com ele, sabe que não consigo me controlar perto dele – Murmura envergonhada. – Por favor Agnes, vai comigo?

– Sinto muito, mas não posso. Carter e eu estamos brigados e tenho que ir embora amanhã. Além do mais, você tem que aproveitar a chance sozinha, não vou ficar entre vocês dois.

– Pode pelo menos me ajudar a escolher uma roupa? – Pede.

– Vem – Digo voltando a subir as escadas – Vou te ajudar a escolher algo

***

– Te trouxe um lanche – Carter diz entrando no quarto com uma bandeja. Me sento na cama e suspiro aceitando a oferta de paz

– Obrigada – Agradeço sorrindo.

– Queria te pedir desculpas por hoje cedo – Ele se senta a minha frente tocando minha mão. – Não agi certo com você, não posso te cobrar coisas que não são sua responsabilidade

– Do que você está falando? – Pergunto confusa.

– Antes de ser adotado pelo Dominic e a Sandra quando tinha cinco anos, eu vivia com minha mãe biológica e o marido dela Carl, eles eram viciados em drogas e jogos. Quando ganhavam algum dinheiro nas apostas usavam tudo de drogas, um dia um dos donos de uma casa de jogos da cidade bateu a nossa porta os cobrando e eles não tinham como pagar, então me alugaram por duas horas para um dos amigos viciados em troca de dinheiro para pagar as dívidas – Carter diz chorando baixinho. – Eu só tinha quatro anos, Agnes!

Meu coração se aperta com sua confissão, uma raiva descomunal toma conta de mim

Ele continua: – A partir desse dia esse tipo de coisa se repetia cada dia mais, eu mal tinha uma refeição por dia. Uma das vizinhas me alimentava e me ajudava quando eles não estavam em casa, mas era um bairro pobre e decadente, a polícia não atendia as denúncias que ela fazia. Até que um dia ela me ouviu gritando por várias horas seguidas e fez diversas ligações a polícia que finalmente apareceu e me tirou daquela casa. Poucas semanas depois fui adotado. Quando tive idade o suficiente para me defender, fui até aquele mesmo bairro, a mesma casa onde morei, e encontrei aquela mulher e o Carl, eu os torturei durante tantas horas e cada súplica e insulto que eu ouvia deles me deixava mais forte. Foram as primeiras que eu matei, a partir daquele momento eu percebi que assim como eu sofri, outras pessoas, crianças, mulheres, garotos, também sofriam isso. Para mim é mais do que apenas tirar uma vida em troca de dinheiro, eu tiro uma vida para salvar outras.

– Bebê... – Suspiro secando minhas lágrimas. – Eu não fazia ideia de que você havia sofrido tanto. Eu sinto muito

– Quando nos conhecemos naquela noite eu estava na cidade para ficar longe da Aurora, nos brigamos e ela disse algo sobre meu passado que me deixou chateado – Revela. – E mesmo que Alexander sempre tentasse me convencer a voltar para casa, eu só voltei por sua causa. Porque desde que te vi soube que você seria minha, e eu tinha o dever de te proteger. Queria que conhecesse minha família e me visse de outra maneira além de assassino.

– Te vejo como o amor da minha vida – Murmuro sorrindo de lado. – Você deu um jeito de se enfiar dentro do meu coração de uma forma irreversível, Isaac Carter

– Não posso parar de fazer o que eu faço, Agnes – Diz se afastando um pouco. – Ao longo dos anos se tornou quase uma necessidade sentir o sangue quente escorrer em minhas mãos.

– Quantos anos você tinha? – Pergunto. – Quando os matou?

– Tinha acabado de fazer 16, Alex me deu um conjunto de facas e meu pai tem uma coleção de armas – Seu rosto ganha uma cor fraca de vermelho. – Alexander me seguiu naquele dia e quando eu saí da casa, ele me ajudou a dar um jeito nos corpos sem deixar rastros. Esse é um assunto do qual nos nunca conversamos, é como se aquele dia nunca tivesse acontecido entre nós.

– Ele sabe o que você faz? – Questiono surpresa.

Isaac solta uma risadinha assentindo.

– Cerca de um mês depois ele me acordou de madrugada e me fez acompanhá-lo enquanto sequestrava e torturava um homem em um armazém abandonado. Quando saímos de lá vomitei até as tripas e chorei o resto da noite – Conta olhando fixamente para porta.

Pego a vasilha de sucrilhos e coloco um pouco de leite começando a comer.

– Alexander me disse que aquele homem era um contrabandista de crianças e que eu não deveria ter pena do que aconteceu com ele, se tornou uma coisa de rotina acompanhar seus assassinatos, até que um dia ele me estendeu uma faça e me perguntou se eu queria fazer as honras – Diz dando um sorrisinho. – Eu estava muito assustado, mas sentia raiva do cara a minha frente, então o torturei até que ele morreu. As próximas pessoas que matei foram os amigos da minha mãe.

Não deixo de notar a careta de nojo que ele faz quando diz as últimas palavras.

Coloco uma uva na boca e quando engulo pergunto

– Pode me levar algum dia para ver?

Ele vira a cabeça para me encarar, seus olhos arregalados e surpresos com meu pedido.

– Acho melhor não, não quero que me veja fazendo isso – Ele diz baixinho.

– Imagino como você deve ficar sexy com a voz autoritária e uma faca nas mãos –Murmuro imaginando a cena.

– Agora eu tenho certeza – Carter ri. – Eu nunca vou te deixar ir comigo.  

♥♥♥

My dear killerOnde histórias criam vida. Descubra agora