Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 5

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(𝑺𝒊𝒓𝒆𝒏𝒂 𝑩𝒆𝒍𝒍𝒆𝒓𝒐𝒔𝒆 𝒏𝒂 𝑴𝒊́𝒅𝒊𝒂)
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Já na minha sala eu espero ansiosa pelos próximos minutos, esperando dar o horário para poder subir para o próximo estágio.

Olho para as pastas em minhas mãos, esperando que elas se resolvam sozinhas.
Parece que a cada dia que passa a influência de cada paciente aqui dentro cai sobre mim.

Estaria eu me perdendo na imaginação dos meus pacientes?

Sinto que hoje eu perdi um pedacinho de mim. Na verdade, não sei bem se eu o perdi... ou ele simplesmente se foi. Fugiu, sei la. Mas sinto falta dele. Ele era importante.
Tão importante que estou com um puta incômodo dentro de mim. Uma vontade de gritar. Socar a parede. Chorar.

Sei também que nada aqui se regenera. Buscar substitutos. Mas eu não quero substitutos. Não mesmo.

Me tirando dos meus pensamentos ruins, a porta da minha sala se abre, me deixando em alerta.

Um rosto pardo e com um sorriso forte me encara. Seus cabelos grandes e escuros caem ao longo de seus ombros e ela entra na sala.

Sirena Bellerose.

___ Olha só. Você ainda não enlouqueceu. ___ Ela pisca para mim de forma sensual.

A Sirena é o tipo de garota que não teme nada. Ela quer alguma coisa difícil, ela conquista.
Assim como eu, ela cuida dos três estágios.

Ela é uma das únicas pessoas que deixa meu dia melhor por aqui.
Somos amigas a um bom tempo e eu viajei um final de semana com sua família, na época que me mudei para a Flórida.

Eu não sei... mas acho que já tive sentimentos por ela.

Na viagem, enquanto seus pais olhavam para a estrada, acariciávamos a mão uma da outra.
Algo que parecia ter vários significados, mas hoje repenso e talvez não tivesse nenhum.

A Sirena vem até mim e me mostra alguns papéis.
Olho para os mesmos, temendo por ser mais trabalho, mas sorrio ao reconhecer as palavras e o jeito de demonstrar os sentimentos em cada frase.

São trechos de suas escritas diárias.

Ela sonha em um dia publicar um livro. Entretanto, tem vergonha de mostrar para as pessoas.

A Sirena suspira ao meu lado e se joga em uma cadeira, mais afastada de mim.

___ Vão achar que tô escrevendo auto-ajuda. ___ Ela resmunga.

___ Não, pelo contrário, isso aqui está muito bom.

Ela agora está pensativa, mergulhada em turbilhões de pensamentos.

Ela se levanta e vai até a minha prancheta, lendo os próximos pacientes.

___ Eu sabia que você iria voltar, mas os motivos de ter desistido não estão tão claros em minha mente. ___ Ela diz sem me olhar.

Logo eu penso no Daryl. Em suas palavras. Ele sabia que eu não queria partir e isso me surpreendeu.
Me recuso a dizer que o motivo foi ele.

Não foi. O motivo foi tudo que vivi aqui, menos ele.

___ Eu passei por muita coisa nessa cidade, era idiotice deixar tudo isso para trás.

Minha amiga se vira para mim, com um olhar entre aberto, desconfiada.

___ O que foi? ___ Pergunto curiosa.

___ Nada... só... estava pensando.

Ela sorrir distraída e depois me encara, suspirando pesadamente.
Seguro seu olhar curioso e a vejo se sentando no mini sofá, embaixo da janela.

Me junto a ela e olho para baixo.

___ Será que daqui uns anos nós continuaremos amigas? ___ Ela pergunta pensativa.

Sempre soube de sua insegurança nas pessoas.

___ Odeio pensar no futuro. Mas sim. Tenho certeza que sim.

___ Eu odiaria te perder, sabia?

Olho para a minha amiga e tento um sorriso. Ela me encara com insistência.

___ Deixe disso. ___ Gargalho. ___ Tem coisas mais importantes para se preocupar.

Ela não diz nada e continua com sua insistência no olhar.

___ O que foi? Está tudo bem? ___ Pergunto curiosa e tensa pelo seu olhar pesado sobre mim.

De repente, em um movimento rápido, a Sirena segura meu rosto em suas mãos e deposita um beijo em meus lábios, um selinho demorado.

Ela se afasta e minha expressão está surpresa, com a boca aberta e olhos arregalados.

Me sinto muito envergonhada e não sei o que fazer.
Eu... eu não sabia de seus sentimentos por mim.

Eu realmente não devia ter aceitado a sua mão naquela viagem.

___ Eu... eu... ___ Eu tento dizer algo, qualquer coisa que tenha coerência para esse momento.

___ Esse beijo só terá significado se você quiser que tenha, está bem?

___ Eu não sei o que te dizer. ___ Digo confusa.

___ Entendo... ___ Ela diz com a voz baixa.

Instintivamente eu me levanto, passando as mãos pelos meus cabelos.

Olho para a porta entre aberta e depois para a Sirena, que espera que eu diga algo.

___ Eu preciso de um café. ___ Digo rapidamente e saindo da sala.

Passo pelos corredores, tentando encontrar a sala da cafeteria.
Tantos meses aqui dentro, e até hoje eu me perco nos corredores.

Não sei o que sinto pela Sirena, mas tenho certeza que não é o mesmo que ela sente por mim.

Entro na cafeteria, um espaço aberto, com o teto de vidro, iluminado pelo sol de manhã e pelas luzes fortes durante a noite. Mais duas lanchonetes espalhadas pelo ambiente.
O ambiente aqui é confortável. Eu poderia ficar aqui o dia todo.

Sinto uma movimentação atrás de mim e pequenas mãos delicadas seguram meu pulso de forma gentil e suave.
Olho para trás e meu olhar encontra o olhar escuro da Sirena.

___ Está com raiva de mim?

___ Não. ___ Digo sem pausa. ___ Eu só não sei como reagir.

___ Foi só a porra de um beijo. Você é minha melhor amiga. Não acha que está exagerando um pouquinho?

Vejo alguns funcionários nos encarando e eu puxo a Sirena para um canto, me encostando na parede.

___ Eu te conheço, Sirena. Sei muito bem o que pode acontecer.

Ela revira os olhos e gargalha de forma debochada.

___ Não vai acontecer nada. Foi só a droga de um beijo! Merda!

Foi só um beijo... mas as palavras reconfortantes que ela separa para dizer a mim não é qualquer palavra.
Elas ganham forças quando ela diz, ainda mais, elas ganham sentimentos.

𝑃𝑅𝐸𝐶𝐼𝑆𝑂 𝐷𝐸 𝑀𝐴𝐼𝑆 𝑇𝐸𝑀𝑃𝑂 𝑃𝐴𝑅𝐴 𝑇𝐸 𝑂𝐷𝐼𝐴𝑅 (𝑅𝑜𝑡𝑎 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora