•Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 4•

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Jᴀᴄᴋsᴏɴᴠɪʟʟᴇ, 03 ᴅᴇ Aʙʀɪʟ ᴅᴇ 2019

Sou acordada com o sol batendo em meu rosto.

Preciso me acostumar com o gosto por claridade da Savannah.
Ela odeia dormir no escuro, não sei do que exatamente ela tem medo, mas estou convencida que seja dos "monstros noturnos".

Ela me encara com as mãos na cintura, observando minha expressão contraditória.

___ Savannah... ___ Tento.

A minha irmã dorme comigo desde sempre e a mansão deve ter pelo menos uns 3 quartos vazios. As vezes eu perco o sono de madrugada por conta da luz da lua que ilumina o quarto.
Meu trabalho pega pesado demais e preciso de uma boa noite de descanso.

___ Você não acha que está na hora de... sabe... é...

Eu simplesmente travo nas palavras que vou dizer e faço uma careta, passando a mão nos meus cabelos.
Eu sei que ela vai ficar chateada e isso me desarma.

Ela continua me olhando, já tendo uma ideia de onde quero chegar.

___ Tudo bem, Montserrat, eu já entendi.

Ela sai do quarto, colocando sua mochila nas costas.

Ah, esse gênio de se decepcionar fácil.

Levanto da cama, ainda de pijama e corro até o andar de baixo.

___ Savannah, não é por nada, mas não estou conseguindo dormir por conta da claridade. Eu preciso---

___ Descansar... é, eu sei. Você vem tentando a semanas e eu não estou deixando. Está tudo bem.

Ela tenta um sorriso e enche sua xícara de café.

Sei que não está bem, mas ela vai superar.

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Após deixar minha irmã em frente à Campbell, eu estaciono no estacionamento particular dos funcionários que trabalham no hospital.

Pego minha bolsa e entro na recepção, onde a recepcionista morena opera em seu computador.
Nunca dialoguei com ela. Aparentemente, ela não gosta muito de pessoas.

Ela apenas me encara e sorrir, liberando a minha entrada.

Pelo menos, as recepcionistas daqui não são iguais as da Campbell.
No hospital de Waven Point não tem muitas "beldades" para ficar olhando ou se distraindo.

Chego a minha sala e despejo minhas coisas sobre a mesa, já olhando o prontuário preenchido que encontro toda vez que entro em minha sala.
São listas de pacientes que preciso tratar no dia.

O primeiro do dia, senhor Cliff.
Ele precisa de ajuda especial. Semana passada o encontrei falando com as paredes, segundo ele, alguém de um universo paralelo estava tentando o alertar sobre o fim do mundo.

Ótimo. Não estamos em 2012.

Pego minha prancheta e sigo pelo elevador.

Respiro fundo.

Toda vez que acesso os andares de cima eu sinto um calafrio enorme.
Os andares acima são as salas de espera e as salas onde ficam cada paciente.
Dependendo do estágio, uma energia negativa emana das paredes.

Aqui no Waven Point temos 3 estágios, que definimos como cores, para ficar mais fácil de lembrar e administrar.

O primeiro estágio nós definimos como branco, são pessoas que tem transtorno obsessivo compulsivo, falam com objetos inanimados, tem problemas mentais e vagam por aí, dizendo coisas totalmente aleatórias.
Eles vêem e conversam com coisas que não existem.

O segundo estágio optamos pela cor laranja. São pessoas intermediárias, que enlouqueceram por algum motivo específico e que quando nervosas, correm o risco de agredir alguém. Precisamos ficar atentos.

O último estágio é o vermelho. São pessoas agressivas. Entraram aqui por motivos de psicopatia e violência extrema.

Respiro fundo e saio do elevador, já encontrando na sala de lazer, onde fica os pacientes do estágio brancos.

Temos regras de convivência aqui. Pacientes do laranja só convivem com os pacientes brancos quando demonstram boa convivência.
Já os pacientes do estágio vermelho, não convivem com ninguém. Eles ficam somente dentro de suas cabines e não tem contato com outros do mesmo estágio.
Nem todos ficam trancados nas cabines, abrimos exceções para alguns.

A sala de lazer de cada andar e cada estágio são enormes. Elas contém mesas para jogos de tabuleiro, cartas, livros e blocos de montar.
Contém também mesas de pintura e desenhos.

Mas devo dizer, ninguém aqui dentro sabe jogar do jeito certo. Alguns gritam por não conseguirem abrir os jogos, outros por não conseguirem ganhar e outros por não simpatizarem com as cores de cada peça.

Vários pacientes conhecidos acenam para mim e eu retribuo.

Como de costume, uma das pacientes corre até mim, gritando e me abraçando.

___ Saudades de você também, Vick. ___ Digo meio apreensiva.

A garota dos cabelos curtinhos loiros passa a mão no meu rosto e acena com a cabeça, depois, se afasta.
Eu nunca a tratei, não sei o seu problema, mas ela tem uma imaginação fértil.

Minha função aqui é essa, tratar os pacientes dos três estágios.
Somente os que são solicitados.

Atravesso a sala e entro no corredor, que dá acesso aos outros estágios e salas de lazer.

Entro na sessão de cabines do estágio branco e logo vejo o senhor Cliff em sua cabine, sentando no chão e brincando com alguma pecinha branca.

O senhor Cliff deve ter uns 50 anos pra menos. Ele estava em forma quando veio para cá, a 2 anos atrás.
Ele diz que a solidão o enfraqueceu.

Entro e tranco a porta atrás de mim.

Toco em seu ombro e o vejo mordendo a tampinha de uma garrafa plástica.

___ Não, não. Você vai engolir isso. ___ Digo.

Puxo a tampa de sua mão e coloco-a dentro da pia.

As cabines são grandes. Contém uma pequena cama individual, banheiro separado e uma mesa com duas cadeiras.
Os pacientes costumam chamar de casa.

___ Bom dia, Sierra.

Esse nome... é um apelido carinhoso que me nomearam aqui no hospital. Eles dizem que o meu nome é difícil de se pronunciar.

O senhor Cliff me chama assim desde sempre. Ele diz que eu o lembro sua filha mais velha. Uma garota que morreu em um acidente de carro.
Ainda estou avaliando se gosto de ser comparada a sua filha morta.

O levanto bem devagar e o sento na cama.
Checo seu pulso e seu coração.

___ Novidades? ___ Pergunto.

___ Todo dia tenho uma nova. Conversei com a minha filha ontem a noite. ___ Ele sorrir satisfeito.

___ O que ela disse dessa vez?

Nunca discorde de seus pacientes.

___ É... coisas necessárias. Disse que em breve eu sairei daqui.

Sorrio por suas palavras.

É curioso...

A primeira vez que o tratei foi quando comecei a trabalhar aqui, no Waven Point.
Nossa primeira conversa de minutos foi sobre sua menininha. Ele disse a mesma coisa, que em breve sairia daqui.
Depois de tantos meses, ele ainda insiste em dizer que sua filha mantém contato pelas paredes. Isso comprova ainda mais que ele não tem condição de sair daqui.

É uma pena... gostaria de dizer a ele que ele não sairá daqui tão cedo.

𝑃𝑅𝐸𝐶𝐼𝑆𝑂 𝐷𝐸 𝑀𝐴𝐼𝑆 𝑇𝐸𝑀𝑃𝑂 𝑃𝐴𝑅𝐴 𝑇𝐸 𝑂𝐷𝐼𝐴𝑅 (𝑅𝑜𝑡𝑎 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora