•Cᴀᴘɪ́ᴛᴜʟᴏ 7•

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(𝑺𝒂𝒗𝒂𝒏𝒏𝒂𝒉 𝑾𝒉𝒊𝒏𝒕𝒆𝒓𝒎𝒐𝒓𝒆 𝒏𝒂 𝑴𝒊́𝒅𝒊𝒂)
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Jᴀᴄᴋsᴏɴᴠɪʟʟᴇ, 04 ᴅᴇ ᴀʙʀɪʟ ᴅᴇ 2019

Mais uma vez eu encaro a minha irmã, que está lutando contra sua cama, tentando retirá-la do quarto.

Eu caminho até ela e a ajudo empurrar a cama para fora.

___ Não, não precisa. Eu faço isso sozinha. ___ Ela resmunga.

Solto a cama e posiciono minhas mãos na cintura.

___ Está brava comigo? ___ Pergunto.

Ouço alguns murmúrios saindo de seus lábios, pelo esforço que ela está fazemos em arrastar a cama para fora.

___ É... você está brava. ___ Afirmo.

A Savannah solta a cama, a mesma emite um barulho alto.

___ Deixa pra lá. É que... terei que me acostumar com isso. Tipo, foram mais de 20 anos dormindo juntas.

Não vou dizer que é uma libertação, porque estaria mentindo. Mas eu realmente preciso de uma boa noite de descanso.

___ Algumas coisas precisam mudar, somente isso. ___ Digo.

Volto a empurrar a cama, juntamente com a Savannah. Conseguindo colocá-la no corredor, eu desço as escadas sem dizer nada e começo a preparar o café.

Olho para cima e vejo a Savannah chutando a cama, nervosa por uma decisão tomada por mim.

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Lendo e relendo a minha ficha, eu nego várias vezes com a cabeça, afastando os sentimentos ruins do próximo estágio que terei que enfrentar, vermelho.

"Tente achar o lado positivo".

Decidida, eu me levanto, ajeito meu uniforme e saio da sala.

Entro no elevador, empurrando meu corpo para a parede, sem deixá-lo escapar para fora do elevador e correr para fora do hospital.

Não consigo explicar o que sinto no último andar. É um lugar temível por todos.

O elevador se abre e logo, me deparo com a má iluminação do local.
Somente a luz fraca. O chão está coberto de sujeira.

A iluminação baixa é pelo simples fato de que a maioria dos pacientes passam tanto tempo trancados nas cabines que ficam sensíveis a luz, então pedem para desligá-las ou abaixá-las. Não, pedem não, gritam, berram.

A sujeira não há dúvidas, os funcionários da limpeza não gostam de subir aqui e limpar os corredores sozinhos, então, uma vez no mês, uma turma de faxineiros sobem aqui em grupo e limpam cada canto.

O dia de limpeza não chegou ainda...

Além da vibe ruim, os gritos são os piores. Gritos de suplicação, choro, desespero e discórdias. Aqui você ouve até as palavras de baixo calão que você nem imaginaria que existissem.

Quando passo pelos corredores, ouço gritos de pedidos de socorro e alguns pacientes me xingam.

Entro rapidamente na última cabine, onde um adolescente se encontra.
Davis Eliot.

É um cara com um rosto cansado e físico sedentário.
Foi acusado de matar a família e um dos amigos de confiança, a pedrada. Diversos transtornos em sua biografia e um sorriso bem bonito para suas atitudes.

Ele está de costas, com as mãos presas em uma pequena algema no canto da parede.

Quando é dia de avaliação, os seguranças os amarraram em camisas de força ou em algemas. Se eles ficam soltos com alguém dentro da cabine, esse alguém sai morto. Independe de como eles irão te ferir, eles vão arrumar um jeito de te deixar marcada.

___ Bom dia, Davis.

___ Não é um bom dia. ___ Ele diz sem me olhar.

Me abaixo ao seu lado e o viro com dificuldade. Ele se remexe, por não gostar deu ter tocado-o.

Olho para o seu braço e vejo que tem várias mordidas em seu antebraço.

Eles são assim, se alto machucam sem motivo algum. Outros, para chamar atenção.

___ É a segunda vez no mês. ___ Digo.

___ A próxima será em você.

Ele joga seu corpo em minha direção mas a algema aperta seu pulso, o impedindo de se aproximar.

Pego a faixa na maleta e começo a enfaixar seu antebraço, dando várias voltas.
Enquanto enfaixo seu braço, ele grita.

___ Eu tentei te ajudar, tentei mesmo. Já faz 2 meses que você faz isso toda vez. Tem algo para me dizer Davis?

Ele levanta seu olhar escuro, com olheiras profundas debaixo dos olhos e cospe.
O líquido transparente cai em minha blusa, escorrendo pela mesma.

___ VADIA DO CARALHO!

Ao amarrar a faixa, eu a aperto com força, antes de dar o nó, fazendo-o estremecer de dor.

Afrouxo a faixa e dou o laço.

Me levanto e puxo minha maleta com ignorância.

___ Bom dia, Davis.

Ao sair da cabine, eu o ouço gritar.

Ignorando os gritos de cada paciente, eu aperto de forma insistente o botão do elevador.

Argh!

Estou bloqueada. Com um monte de coisas. Coisas que não consigo expulsar da minha cabeça... por terem sido resolvidas pela metade.

Já na recepção eu olho os números de cada porta dos psiquiatras.
Entro em uma das portas do meio e sorrio de forma tímida para a Charlotte, que parece estar fazendo o prontuário do dia.

___ Tudo bem se eu ficar um pouquinho aqui?

___ Claro. Meu próximo paciente é só daqui a uma hora.

Eu me sento em seu sofá e olho para a janela.
Todas as salas são iguais, só mudam alguns aparelhos, dependendo do seu nível dentro do hospital.

___ Er... está tudo bem com você? ___ Ela pergunta. ___ Dos últimos meses pra cá, você vem passando a maior parte do tempo com a Sirena, onde ela está?

Brinco com a minha unha e solto uma risada fraca.

___ Tem algo me incomodando e, sinceramente... não sei se devo te contar.

___ Eu fiz algo de errado? Deus... se a minha coerência não estiver certa você pode---

___ Não... Não é nada com você, é que...

___ É o que então?

Minha amiga se levanta e se junta ao meu lado.
Imediatamente eu penso no dia de ontem. Nesse mesmo sofá, nessa mesma posição. Só que na minha sala.

Olho para a Charlotte, implorando para que ela não me beije também.

___ Bem... Não é nada demais. ___ Digo por fim.

Me levanto meio aérea e caminho até a porta.

___ Montserrat. ___ Ela chama.

Me viro para trás, esperando ela me impedir. Ela vai. Eu sei que vai.

___ Eu te conheço bem, bem o suficiente para dizer que você tem uma coisa para dizer, uma coisa importante.

𝑃𝑅𝐸𝐶𝐼𝑆𝑂 𝐷𝐸 𝑀𝐴𝐼𝑆 𝑇𝐸𝑀𝑃𝑂 𝑃𝐴𝑅𝐴 𝑇𝐸 𝑂𝐷𝐼𝐴𝑅 (𝑅𝑜𝑡𝑎 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora