Devaneios

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POV Luísa

Depois das mensagens trocadas com Laura no dia do aniversário dela, não nos falamos mais. O final de semana foi corrido. Recebemos uma ligação no sábado de manhã da Santa Casa informando que o namorado da Gabi havia sofrido um acidente. Como ela avisou que dormiria com ele na noite de sexta para sábado, logo imaginamos que os dois estavam juntos e corremos para o hospital, afinal não tinha porque ligarem pra gente e não para a família do rapaz se a Gabriela não estivesse com ele.
Quando chegamos não havia nem sinal da minha filha. Na recepção perguntei pelo rapaz e informaram que ele estava em observação mas que poderíamos subir. Fiquei surpresa ao ouvir o jovem dizer que havia algumas semanas que Gabriela tinha terminado com ele e que, só ligaram pra gente porque não conseguiram contatar seus pais. Imediatamente peguei meu celular e comecei a ligar para Gabriela, o telefone só dava caixa postal. Falei com Ricardo e contei o que o rapaz havia falado e ambos ficamos tentando contato com Gabi. Comecei a sentir um desespero tão grande que comecei a chorar no meio do hospital. Eu sentia medo. Medo de perder minha menina. Medo de nunca mais a encontrar. Sim.. eu sei que pode parecer um exagero, mas vocês já foram mãe de adolescente? É desesperador.
Voltamos para casa e resolvemos esperar para dar queixa na polícia. Ligamos para uns amigos da Gabriela, mas ninguém sabia dela. Era 17h quando a minha filha abriu a porta com aquela cara de sínica.  Eu corri e abracei. Chorei. Chorei tanto, mas tanto que desmaiei. Acordei na minha cama por volta de 20h. Meio atordoada fui no quarto da menina que chorava copiosamente encolhida na cama.

_ Gabriela! Onde você estava? - perguntei entrando no quarto e mudando meu semblante de "putíssima da vida" para preocupada quando vi minha pequena se debulhando em lágrimas.

_ Mãe. Não me bate! - a pequena chorava soluçando.

_ E desde quando eu te bato, filha? Só quero saber onde você estava. Tem noção do quanto eu e seu pai ficamos preocupados? Seu pai já sabe onde você estava? - Gabriela, que até então estava deitada em posição fetal sem me encarar, virou seu rosto para mim. Pude ver um hematoma em seus olhos e um corte na boca. Só então notei o braço vermelho.

_ Filha, o que foi isso? Quem fez isso? - perguntei já exaltada.

_ Mãe, eu estou namorando - Gabriela chorava muito. O travesseiro estava banhado em lágrimas.

_ Tá bom, filha. Mas o que seu novo namorado tem a ver com isso? - falei apontando os hematomas.

_ É namorada, mãe! Meu pai perguntou onde eu estava e eu respondi a verdade. Não gosto de mentiras. Ele me bateu, mãe. Me chamou de lésbica nojenta, disse que eu ia morrer no inferno e que não era mais filha dele. Disse que se eu quisesse ser lésbica, era para ser fora da casa dele. - Gabriela chorava o choro dos recém nascidos.

Eu só consegui abraçar minha menina. Abracei forte. Muito forte. Ela chorava no meu colo. Me deitei ao seu lado e dormimos juntas. Minha menina apagou no sono depois de chorar por horas a fio.

No domingo mandei a Gabi para a casa da minha irmã. Expliquei o que havia acontecido e disse que teria uma conversa muito séria com o Ricardo.

_ Você é um merda mesmo!! Bateu na sua filha porque ela está namorando uma moça? Seu idiota. - falei enfurecida. Ricardo bebia um uísque na hora e não me deu atenção.

_ Eu quero o divórcio!! Chega. Essa foi a gota d'água!! - o homem arremessou o copo de uísque na porta e disse que era para eu me arrumar porque iríamos jantar fora.

_ Você é surdo ou o que? Eu quero a porra do divórcio. Não vou jantar com você! - Falei aumentando o tom de voz.

_ Você vai!! Você vai porque eu quero te mostrar quem é a vagabunda que a imunda da sua filha está saindo. - olhei assustada para Ricardo enquanto ele me encarava com ódio nos olhos.

Assim eu fiz.. me arrumei e saímos. No elevador Ricardo me puxou e apertou com força minha mão.

_ Você está me machucando!! - falei enquanto tentava me soltar.

_ Você ainda é minha mulher. Me dá essa mão aqui. E não pense que esse divórcio vai acontecer!

Quando a porta do elevador se abriu dei cara com Laura segurando uma sacola com várias coisas que não consegui reconhecer.

Para minha surpresa ela estava morando no mesmo prédio que eu. Senti meu coração na garganta quando vi a minha morena e só pensei que era o destino brincando de nos unir. Até que ela disse que precisaria ir porque sua "gata" estava faminta. Meu mundo desabou! Certamente Lana estava com ela e era um jantar romântico. Onde eu estava com a cabeça quando achei que Laura, tão linda, ia querer uma velha como eu? Segurei o choro e segui pelo saguão do prédio com Ricardo.

Fomos em silêncio o caminho todo. Ricardo parou o carro em frente a uma casa bem simples. Havia um abacateiro e outras plantas. A casa era toda branca.

_ O que estamos fazendo aqui? - perguntei cheia de interrogação.

_ Ricardo não disse nada, apenas saiu do carro e bateu palmas no portão da casa.

Uma moça morena, deveria ter uns 26 anos, saiu da casa. Os dois começaram a conversar no portão até ele acertar a jovem com um tapa na cara. Eu desci correndo para conter Ricardo e o empurrei na calçada. O moça chorava e gritava pedindo ajuda, até que seus dois irmãos saíram de dentro de casa e conteram Ricardo dando-lhe um soco no nariz. Confesso que não achei ruim!

_ Vamos, Luísa. É essa puta que sua filha está se envolvendo!! - Ricardo gritava com o nariz sagrando.

_ Vai embora daqui, Ricardo!

_ Eu vou, mas vou com você. Entra no carro agora!! - Ricardo gritava enfurecido.

_ Não! Vai você e eu te encontro em casa. Não vou andar com você assim.

Ele não relutou. Foi embora me deixando na calçada da moça que ele acabara de agredir.

_ Você é a namorada da Gabriela? - falei com tom de voz ameno tentando acalmar a jovem.

_ Olha, dona Luísa, eu amo sua filha. Amo muito.  Não sei o que fazer!! Sei que as circunstâncias que nos conhecemos não são favoráveis, mas eu me apaixonei assim que a vi. - a moça chorava e soluçava.

_ Em quais circunstâncias você conheceu minha filha? -  perguntei curiosa. Percebi a moça corar na hora.

_ Eu conheci quando o seu marido contratou meus serviços. Eu estava na sala dele quando ela chegou e quando eu olhei para ela, não consegui fazer o que havia sido contratada para fazer. Eu me apaixonei ali. Naqueles olhos, naquele jeito meigo e sapeca. Sei que ela acabou de completar 17 anos. Eu espero ela fazer 18 se a senhora quiser. Só não peça pra que ficar longe dela.

_ Que serviço você foi contratada para fazer?? - perguntei com medo de ouvir a resposta a pesar de ja desconfiar.

_ Eu sou garota de programa, dona Luísa. Mas desde que conheci a Gabriela, eu não consigo mais fazer nada. Entende? Estou procurando emprego. - a moça falava com pesar na voz.

_ Qual o seu nome, menina? - perguntei de forma amável afim de acalmar a jovem.

_ Me chamo Lorena!

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Voltei para casa depois de conversar com a Lorena. Uma moça inteligente que faz faculdade de psicologia e pagava fazendo programa. Infelizmente é a realidade de muitas.
Muita informação para uma noite só.

Em casa tomei um banho e me deitei. Gabi ainda estava na casa da minha irmã e Ricardo, nem sinal de vida. Menos mal!
Com a cabeça no travesseiro só pude me pensar em como queria Laura ali comigo. Senti uma lágrima tímida escorrer dos meus olhos... certamente minha aluna estava com a outra professora.

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Por hoje é só, amibigos. Boa noite e fiquem com Zeus.

P.S já falei que não tem revisão né ?

A Professora RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora