Dias Cinzas

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Após o fatídico episódio no resort, Luísa passou a evitar esbarrar com Laura nos corredores da universidade.
A ruiva se sentia deveras incomodada com as lembranças que ainda assolavam sua mente.

Eu, autora desta história, sempre me pergunto o porquê de as pessoas colocarem obstáculos em suas vidas.  As vezes a felicidade está ali acenando na rodoviária parecendo mãe vendo filho entrar no ônibus.  A verdade é que eu, assim como Laura, sigo ao pé da letra a frase 'donde no puedas amar no te demores'.

Laura, por sua vez, aproximava-se cada vez mais de Lana. Não haviam segundas intenções, a jovem apenas gostava da companhia da mais velha. 

_ Vou terminar de fazer minha mudança essa semana e semana que vem já terei um novo lar! - Laura suspirava de cansaço ao contar para Lana seus planos de mudança.

_ Mesmo? E pretende fazer isso que dia?

_ Depois do meu aniversário.  No máximo até dia 25!

_E quando é seu aniversário? 

_ 19 de agosto. 

Lana olhava a jovem como se planejasse algo. 

_ Uma leonina. Onde fui me meter? - Lana dizia em tom brincalhão tentando tirar a jovem do sério. 

_ Leonina bem atípica, por sinal - Laura deu um sorriso tímido de canto de boca - Mas é isso, a mudança será depois do meu aniversário. Vou começar minha vigésima terceira primavera (ou inverno) com várias mudanças.

O signo de fogo regia o inverno agostiano (Não sei se essa palavra existe, mas existe licença poética, então ok) e a mulher do signo de fogo era apaixonada pela mulher do cabelo de fogo. O destino nunca foi tão quente, ao meu ver. 

_ Podíamos comemorar, o que você acha? - Lana disse animada enquanto caminhava ao lado da jovem.

_ Sim, com certeza. Estou com o tempo todo comprimido essa semana, mas eu topo. O que você quer fazer?

_ A aniversariante é você. Pode escolher! Menos balada porque eu não me sentiria a vontade. 

_ Nossa, nem eu. Só vou para onde tem lugar de sentar.

As duas seguiram a conversa animadas e planejando a comemoração até Laura ter que ir para casa. 

Lana permaneceu na universidade por mais algum tempo e encontrou Luísa sentada em sua sala olhando para o nada. 

_ Ei, posso entrar? - Disse Lana batendo na porta de Luísa e já entrando.

_ Acho melhor não! Preciso terminar de corrigir esses textos aqui e não gostaria de ficar papeando. - Luísa falava de forma grosseira com Lana que fitava a imensidão verde raivosa. Lana, nesse momento, entendeu o porquê de Laura ser apaixonada por Luísa. A mulher era linda. Tinha um par de olhos verdes que pareciam duas esmeraldas. No rosto, colo e ombros da raiva haviam sardas que lhe davam um toque charmoso. 

_ Não vou demorar. Dia 19 será aniversário da Laura. Pensei que você fosse gostar de saber!

_ E porque você acha que eu iria querer saber disso, professora Lana? - Luísa encarava Lana com um enorme ponto de interrogação e uma tristeza infinita no peito. 

_ Realmente não tem porque você querer saber. Desculpe, professora Luísa. Bom final de expediente para você!

A morena saiu fechando a porta e deixando uma Luísa pensativa.

"Porque essa mulher veio me falar a data de aniversário da própria namorada?"

Luísa deu de ombros balançando a cabeça e saindo de seus devaneios. A ruiva guardou suas coisas e foi para casa. 

***********************

_ Mãe, ficou sabendo que alugaram o apartamento da Aurora aqui do lado?

Foi a primeira coisa que Luísa ouviu assim que colocou os pés em casa. 

_ Eu não, filha, mas você, pelo visto, está com muito tempo ocioso, não é? Já conhece os novos vizinhos?

A menina bufou e revirou os olhos enquanto se esparramava no sofá.

_ Eu não. Parece que ainda não tem ninguém. Só fiquei sabendo porque ouvi o porteiro comentar com o síndico no elevador. 

_ Sei, mocinha!

Luísa abriu uma garrafa de Bénédictine Dom enquanto ligava o som de seu quarto em volume ambiente. Ali ela ouvia Omara Portuondo e cantarolava abraçada com a garrafa de licor importado. 

Llueve en la calle y dentro de mí
Canta lo sentimental
Todos los días me duelen
La tristeza que me da
Y se me cae del recuerdo
Unido de soledad
Para volar

A ruiva suspirava ao som do bolero enquanto tirava peça por peça de sua roupa se dando conta do quão triste era aquela cantiga. "Laura...". Ela tentava soltar o ar que havia em seus pulmões sussurrando o nome da jovem. 

Luísa cantava alto e rebolava no espelho ao som do bolero. A mulher tinha o espanhol na ponta da língua. Outra coisa que era extremamente encantador na ruiva. 

Nua Luísa foi para o banheiro e tomou seu banho. Enquanto isso, do outro lado da cidade, Laura colocava a sua ultima peça de roupa na enorme mala preta. A morena não queria deixar tudo para cima da hora. Faltava dois dias para seu aniversário e as coisas estavam corridas no trabalho. Laura tomou seu banho contente com a as novidades que o mês de agosto lhe trazia. O inferno astral não lhe foi tão infernal assim. 





A Professora RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora