A Teia do Destino

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Triiiiiiiiinnn triiiiiiiiinnn triiiiiiiiinnn

Laura bate no despertador que está na mesinha de cabeceira e se espreguiça em sua cama. Capikua dorme tranquilamente aos pés da jovem em sua cama.

"6h30. Da tempo de tomar um banho sem pressa, tomar café sem pressa e sair sem pressa. Por que não me mudei antes?" - a jovem pensava enquanto ia se levantando.

No apartamento ao lado estava Luísa. Elas não sabiam que estavam tão próximas assim. Sabiam sim que moravam agora no mesmo prédio, mas jamais que estavam lado a lado.

Na física a gente consegue saber onde o objeto x estará em determinado tempo e velocidade. Correto? Se seguirmos essa linha de pensamento e trocarmos objetos por pessoas, podemos entender que o destino existe. E se o destino existe, se tudo está predestinado, por que ainda é difícil seguir o fluxo natural das coisas? Se Luísa não fosse Luísa, Laura ainda se apaixonaria por ela? Ainda iria querer a imensidão verde a invadindo? Eu, essa autora, me questiono profundamente sobre livre arbítrio. Se há destino, então não tenho escolha. Nem Laura... Nem Luísa... Elas fazem parte das minúsculas partículas espalhadas pelo Big Bang. Talvez Laura só tenha se perdido no tempo enquanto Luísa foi mais rápida... Elas ainda não sabem disso, mas o tal destino as unia desde que Laura era um neném recém nascido e Luísa tinha apenas 25 anos. Dois anos a mais do que Laura tem hoje!!

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Remember  1997

Luísa estava terminando o último semestre da faculdade.
1997 foi um ano de muitas perdas. Foi o ano da morte do maior educador e pensador de todos os tempos, Paulo Freire. Foi também o ano da morte da princesa dos pobres, Diana.
Naquela época a ruiva namorava Celso, um engenheiro agrônomo. Depois de uma briga com o com o homem - pense num cara ciumento. Tenho um ódio desse Celso - a professora, que ainda não era professora, foi para um bar.

_ Dois shots de tequila e uma cerveja!! - Luísa estava triste. Celso armou um barraco na faculdade porque viu Luísa conversando com um rapaz.

_ Ei, mocinha, vai com calma! - uma moça encostada no balcão falou para Luísa enquanto mastigava uns amendoins que estavam ali como tira gosto de cortesia para os clientes. Luísa fuzilou a mulher com os olhos e fingiu não ouvir.

_ Eu sei que você está me escutando. Mas tudo bem, não tenho nada a ver com a sua vida. Beba até dormir no próprio vômito!! - a morena era muito ousada. Na verdade Luísa a achou deveras intrometida... O ousada fica por conta da autora (deixo registrado meus risos aqui)

_ Quem é você? - Luísa percebeu que a mulher não iria sair dali. Decidiu puxar assunto e talvez desabafar um pouco. Há tempos ela estava tentando terminar com Celso, mas nunca dava certo. Ela não tinha muito jeito nessas coisas.

Parando para olhar o passado e analisar os fatos, Luísa sempre foi covarde na arte de amar. Ela poderia simplesmente ter mandado Celso tomar no cu desde a primeira briga. Do mesmo jeito que manteve um relacionamento falho com Ricardo e se casou com ele por conta de uma gravidez. Isso me revolta porque eu só queria que Luísa tivesse coragem!! Eu queria muito que ela desse dois tapas na cara do Celso e mandasse ele enfiar todo o ciúme dele num lugar bem escuro. Mas ela não era essa pessoa...

_ Meu nome é Rafaela. E o seu? - a moça falou estendendo a mão direita para Luísa.

_ Luísa.

_ Muito prazer, Luísa. Me diz, por que está do dois shots de vodka e uma cerveja aí ?

_ Porque vou beber, oras. - Luísa franziu o cenho e balançou a cabeça negativamente.

_ Que você vai beber eu sei, afinal essa aí é água que passarinho não bebe. Mas qual o motivo? Se não quiser falar tudo bem. Mas falar ajuda a dirigir melhor a situação.

Luísa contou toda a história para Rafaela e as mulheres passaram a tarde inteira e o começo da noite assim, bebendo e rindo e conversando.

Rafaela era muito atraente. Tinha cabelos curtos pouco abaixo da nuca, dois olhos grandes e um sorriso encantador. A jovem usava um blaser vinho meio aveludado com uma regata preta de cetim e uma calça jeans escura. Luísa também não deixou de reparar no cheiro da moça. Ela tinha um cheiro de baunilha. A ruiva detestava baunilha, mas dessa vez estava gostando.

As duas mulheres saíram do bar. Luísa não esperava que aquele dia pudesse render tanto. Quando a ruiva acordou estava em um quarto todo branco, completamente nua - Releia o primeiro capítulo.

E foi isso.. a primeira transa de Luísa com uma morena de arrancar o fôlego.

Luísa saiu da casa da jovem sem nem ao menos se despedir. A cabeça da mulher estava tonta, o estômago levemente embrulhado.. ela lembrava somente de alguns flashs. A morena saindo do banheiro com um robe... Uma escada.. unhas nas costas..  Luísa sentiu um frio na espinha enquanto, aos poucos, ia lembrando.
A ruiva parou em uma padaria e pediu um café bem forte.  De longe Luísa viu uma moça de uns 30 anos, mais ou menos. A moça olhava amorosamente para um carrinho de bebê. Luísa não conteve o riso ao observar aquela cena nada inusitada, decidiu então caminhar até a moça e parabenizar pelo nascimento da criança, pois, pelo tamanho do carrinho, ela identificara ser um recém nascido.

_ Olá, bom dia!! - Luísa cumprimentou a mulher cuidadosamente com o olhar carregado de ternura.

_ Ola, bom dia! Você deseja algo? - a mulher balançava o carrinho levemente ninando a criança.

_ Desculpe. Eu te vi de longe e achei a cena tão bonita que resolvi vir dar os parabéns. - Luísa dizia enquanto olhava a pequena bebezinha cabeluda do carrinho. A menina usava um body rosa bebê com estampa de urso e arco-íris. Olhava atentamente para Luísa enquanto mordia um arco de borracha (vulgo mordedor rs) - Qual o nome dela? - perguntou Luísa sorrindo para a neném.

_ Não sei. Olha para ela e acho que tem cara de Eduarda. Mas depois acho que tem cara de Maria Clara, Brenda, Bianca, Lilian... Realmente não sei - respondeu a mãe num suspiro segurando a mãozinha tão pequenina.

Luísa olhou para a neném ali, tão indefesa e cabeluda. Os olhos pareciam duas jaboticabinhas miúdas.

_ Ela tem cara de Laura. - Luísa disse sorrindo olhando para a mãe que, nesse mesmo instante, mirou a filha e viu a menina sorrir para Luísa.

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Moral da vida: não importa o que você faça. Não importa o caminho que você siga. Quando é pra ser... Aaahh, meu bem.. quando é pra ser...
Já ouviram aquela música "todos os caminhos trilham pra gente se ver. Todas as trilhas caminham pra gente se achar.." ?
Quando eu disse que Laura e Luísa eram átomos espalhados e que Laura estava alguns anos atrasada (ou não) eu não estava divagando ou blefando. É real!

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Luísa foi embora sem perguntar o nome da mãe da neném. Dona Vera até hoje não sabe quem era a moça que deu o nome a sua filha. Mas eu aposto todo meu mísero salário que hoje, se elas se encontrassem, se reconheceriam só pela intimidade que tiveram anos atrás.

A Professora RuivaOnde histórias criam vida. Descubra agora