Cap 54

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Ponto de vista: Manuela

Os dias são solitários aqui nos EUA, mais do que nunca eu me sentia solitária, morando numa quitinete com apenas um quarto, cozinha e banheiro que em nada lembravam a minha vida no Brasil. Aqui eu trabalho de garçonete em um café de beira de estrada, aguentando cantada dos gringos o dia inteiro.

A tarde quando saio do trabalho ando sozinha pelas ruas até meu lar, vejo crianças brincando e os casais passeando e isso deixa a minha vida mais deprimente, me deixa triste saber que eu já provei das melhores coisas da vida. Cresci apenas minha mãe e eu, mas depois me senti parte da família do Eduardo e os natais se tornaram felizes com a sua família gigante.

Já experimentei o amor verdadeiro também, todos os dias lembro do Lucas e os momentos felizes que passamos juntos, eu daria tudo para estar com ele agora, mas sei que o meu amor é perigoso a ele e eu nunca me perdoaria se acontecesse algo com ele.

Caminhando de volta para "casa" nem percebi o caminho, estava perdida em meus pensamentos e de repente eu já estava de volta a solidão do meu quarto. Pendurei na parede uma foto minha de antigamente, eu sinto falta de muitas coisas, mas principalmente de quem eu era.

Fui até o banheiro tirar o cheiro de panquecas e café que eu estava e ri ao olhar no espelho e ver meu cabelo rosa. Não sei se ele aguenta mais uma mudança. Não sei se eu aguento outra também.

Depois do banho longo e quente preparei um macarrão instantâneo, percebi que não faz sentido manter uma alimentação saudável se nada na minha vida é assim. Minha vida está doente.

Olhei para o relógio e percebi que já passa das 20hrs, queria saber o que o Lucas deve estar fazendo essa hora no Brasil, mas é tão perigoso ligar para ele. Nesse momento eu explodi em lágrimas pela vigésima vez na semana, não é justo eu não poder ter ninguém, não é justo eu não poder amar, eu não fiz nada e agora preciso pagar pelo erro dos outros.

As vezes eu odeio o Eduardo, ele quem me meteu nessa e agora não está mais aqui para me ajudar, mas ele não tem culpa também, se aproveitaram dele, da fraqueza dele e no fim tiraram tudo que ele tinha, a própria vida.

Eu já tentei ir para o mesmo lugar que ele, quem me impediu foi o Davi, ele era como um irmão para mim, mas no fundo eu sei que eu não era irmã dele e que sua verdadeira família pesou mais na sua decisão final.

~.~

Acordei no dia seguinte cedo para ir trabalhar, vesti minha roupa de sempre, arrumei meu cabelo como sempre, coloquei meu tênis de sempre e sai com o desânimo de sempre.

Quando cheguei na loja meu chefe já estava a mil, perdido em vários pedidos, ele falava alto comigo na frente dos clientes pedindo para eu ajudá-lo, me dói saber que eu sou pós graduada em gestão de pessoas e que essa não é a forma adequada de motivar o seu empregado. As vezes gostaria de ensinar isso a ele e eu sei que ele gostaria de aprender, mas não quero me apegar a mais uma pessoa que vou precisar abandonar depois.

Coloquei meu avental, peguei minha bandeja e fui entregar o café que estava pronto sob o balcão. Era para a mesa 13, fui até lá me arrastando sabendo que esse seria mais um dia longo. Entreguei o café ao homem de meia idade que estava sentado ali e que me agradeceu, eu já estava virada de costas quando ele me chamou.

- Manuela, gostei do seu cabelo novo. - Ele disse em português e eu gelei porque eu simplesmente não fazia ideia de quem ele era.

Vizinha - T3ddyOnde histórias criam vida. Descubra agora