Roteirista do Destino

Capítulo 1

Olhei concentrada para meu reflexo no espelho, respirei fundo e com um gesto delicado, terminei o outro delineador de gatinho no meu olho. Sorri, satisfeita.

Era o primeiro dia do meu último ano no ensino médio, finalmente eu seria uma formanda, e em breve eu poderia fugir dessa cidade pequena demais e esse estado onde todo mundo é tão atrasado pra ir pra Los Angeles estudar Belas Artes. UCLA era meu sonho, e meu sonho nunca esteve tão perto de se tornar realidade. Só bastava uma carta de aceitação, e enfim eu estaria próxima de ser uma cineasta de sucesso como eu sempre sonhei.

Olhei meu reflexo no espelho, observei minha blusa de manga comprida listrada em preto e branco, minha minissaia preta, as botas pretas até os joelhos com um toque de cor apenas em minha boina vermelha, bem ajeitada em minha cabeça. Os olhos amendoados bem enfeitados com o delineador e só um pouquinho de rímel para completar.

Chequei minha mochila pra ver ser havia esquecido algo, comecei a ficar reflexiva. Meu último ano na escola, depois de tanto tempo nesse inferno de colégio, finalmente estava chegando ao fim, não sabia se realmente sentiria falta de algo dessa época. Nunca foi do tipo popular, que se encaixa entre a nata do colégio, tive sorte de sair viva do processo com minha cabeça sempre abaixada e engolindo sapos. De verdade, eu sinto que eu sempre fui guiada pelo que os outros pensam de mim, o que eu devia fazer, o que eu podia ou não falar... E cara, como a vida na escola é difícil as vezes.

Às vezes, eu só queria que a vida pudesse ser vivida em takes, pra poder ensaiar entre um intervalo e outro e ter um roteiro apontando minhas direções, mas a vida é um constante improviso em plano sequência, e as vezes, eu não sei o que fazer. Mas eu cansei, esse ano vai ser diferente, eu já gastei muito tempo só tentando me encaixar, mas caramba, eu sou uma formanda agora. Cansei de estar sempre nervosa, cansei de fazer tudo que os outros querem que eu faça, esses anos, eu vou ser roteirista do meu próprio destino.

― MIRANDA! ― Meu pai me chamou, aos gritos. ― Desce logo, você vai se atrasar!

Coloquei minha mochila nas costas e desci as escadas às pressas, entrei no Mustang azul bebê de meu pai e ele nem fez os charmes antes de dar partida. Estava realmente atrasada, era melhor não arriscar.

― E aí, filhota, animada pra seu primeiro dia do último ano? ― perguntou, tirando os olhos da pista por apenas um instante.

Assenti, segurando minha mochila no meu colo.

― Que bom que você já tá acabando, um dia você vai ter saudade disso, pode ter certeza. ― Ele sorriu. ― Um ciclo importante em sua vida vai se fechar, novos começos virão...

Ele continuou com um discurso de superação sobre aceitar ciclos de sua vida e as diferenças entra escola e faculdade, esclarecendo também se o mito de que você perde todos os seus amigos da escola quando vai na faculdade era verdade. Fiquei observando pela janela do carro, meio esperançosa de mais, mas não sei explicar, eu só tinha um pressentimento que esse ano seria diferente, que tudo finalmente iria mudar, que...

― Ei, japa! ― fui interrompida de meu devaneio por um grito, havia um carro prateado conversível estacionado ao nosso lado no sinal, e dentro dele, ninguém menos do que Josh com seu olhar condescende e Karen com seu sorriso maldoso. O capitão do time de futebol e a chefe das líderes de torcidas. Alguns dos piores entre os piores da escola. ― Indo pro colégio, hein? Vê se me ajuda na minha lição de matemática, to malzão em álgebra. Falam que seu tipo é bom nessas coisas.

Karen riu como se ele tivesse falado a coisa mais engraçada do mundo e eu virei a cara, girei a manivela de fechar a janela o mais rápido que consegui, o sinal abriu.

― Te vejo na escola, Japa! ― ouvi Josh gritar e fazer um gesto no ar enquanto avançava e alta velocidade. 

Cruzei os braços, irritada. Parece que algumas coisas nunca mudam, e uma delas é os populares do colégio sendo uns racistas metidos a besta.