Capítulo 12

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Todo mundo te conta como seu último ano na escola vai ser o melhor de todos, como você vai sentir falta do colégio e dos seus colegas, que é um momento único e que todo mundo ama. Mas se isso é verdade, quem explica a animação quase animalesca de todo mundo quando anunciam as férias de inverno?

A neve começava a surgir, a brisa gélida passando pelo meu cabelo, segurei minha boina pra ela não voar, sorrindo. Gosto muito dessa época do ano, a neve é mágica, as roupas de frio são muito lindas e todo mundo parece feliz – desde as crianças fazendo anjos na neve até as mães apressadas indo comprar presentes naquelas lojas com um milhão de promoções – tudo era perfeito. 

Era véspera de natal, carregava minhas sacolas de papel com os ingredientes pra preparar a ceia e andava até em casa.  Meu pai estava no plantão então eu teria que preparar tudo sozinha, mas não tem problema, por algum motivo meu pai perdeu contato com todo mundo da família dele, agora é sempre só nos dois juntos no natal. É bem legal até, eu adoro tradições, elas são sempre um aviso gentil que dias melhores virão e algumas coisas nunca mudam.

Cheguei em casa apressada e já fui começando a preparar a ceia, recheei o peru, comecei minha salada de batata e um chesscake que nossa vizinha nos deu a receita uns anos atrás, quando a maioria das coisas já estava no fogo, comecei uma super faxina relâmpago pela casa, ajeitei os enfeites que caiam da árvore e fui tentando fazer tudo ao mesmo tempo. Lá pro fim da tarde tudo estava pronto e eu estava uma bagunça, tomei um banho rápido, fiz minha maquiagem clássica e me arrumei de maneira festiva: Calça vermelha quadriculada, blusa preta de manga colada e um chapéu de papai Noel.

Resolvi fazer uma coisa especial, quis registrar tudo daquele natal, então quando tudo estava pronto, peguei minha câmera e filmei as decorações da casa, a mesa com a ceia já posta, e fiquei atenta na janela esperando meu pai chegar. Quando vi seu Mustang azul bebe estacionar na vaga da frente, fui até a porta e preparei a câmera, animada, consegui capturar o exato momento que meu pai abriu a porta e viu tudo.

— Feliz natal! — exclamei, apontando a câmera pra ele.

Só que sua reação não foi tão animada quanto eu esperava.

— Cê já cozinhou tudo que nem eu te pedi? — questionou, muito sério.

— Sim, tá tudo pronto, pai! — declarei, virando a câmera para o outro lado da sala onde estava a mesa de jantar. —  Eu fiz o peru, salada  de batata, o chesscake...

— Cadê a torta de maça? — perguntou, tirando o casaco e pendurando-o perto da porta.

— Ah... Eu não fiz torta de maça esse ano, eu preferi tentar esse chesscake que a vizinha me ensinou. — Sorri. — Foi bem difícil, mas...

— Eu te dei o dinheiro pra fazer torta de maça, por que você não fez o que eu mandei? — perguntou, sério.

— Você não disse torta de maça — rebati, confusa. — Você falou pra eu fazer o peru, a salada e uma sobremesa. 

— Miranda, você sabe que eu detesto chesscake. — Só pra constar, não, eu não sabia. — Mesmo assim você passar por cima de minha vontade e vai lá fazer o que bem entende? Você acha realmente que você manda em alguma coisa por aqui?!

— Mas pai, eu fiz pensando que você ia gostar, eu não sabia! — argumentei. — E eu achei que ia ser melhor a gente testar uma coisa nova!

Sorri, dando um zoom com a filmadora esperando ele me relevar que tudo aquilo era uma grande brincadeira, que ele não realmente ia estragar o natal por que sua filha fez um cheesecake em vez de torta de maça, mas quando aproximei a imagem de seu rosto percebi que ele falava tudo aquilo muito sério, seu cenho estava franzido, sua boca tinha um leve tique nervoso puxando-a pra cima e seus olhos azuis estavam meio avermelhados.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora