Ficar longe de Rachel era uma das coisas mais dolorosas que já tinha acontecido comigo, só conseguia pensar nela. Ouvia "Here, There and everywhere" sem parar, usava o quartzo rosa que ela tinha me dado todo dia na esperança que isso me ajudasse a passar aquele sofrimento, peguei meu ursinho carinhoso que ela havia ganhado pra mim no meu armário da escola, abraçava-o na cama e chorava até não poder mais, lembrando dela e sentindo sua falta.
Tinha dado uma desculpa esfarrapada pra meu pai, disse que nós ficamos amigas, mas gostávamos do mesmo garoto, ela descobriu que ele queria ficar comigo e falou que não queria mais ser minha amiga. Ele pareceu engolir, por mais que não fizesse muito sentido, me deu dois tapinhas no ombro e murmurou algo como "Drama feminino, ta aí uma área que eu não posso te ajudar" e me deixou em paz.
Mal tinha forças pra ir pro colégio, mas não tinha manchado meu histórico escolar perfeito com nenhuma falta e não era agora que eu pretendia fazer isso, então fui.
Olhava os corredores procurando por ela, eventualmente achei-a. Ela me olhou, desviou e seguiu em outra direção, senti um aperto no peito e me segurei pra não chorar ali mesmo. Em um dia, ela era uma das pessoas mais próximas a mim do mundo, no outro, era como se nunca tivéssemos nos conhecido. Doía tanto, mas tanto que eu mal tinha palavras pra me expressar.
Fui pra minha aula de matemática e teria assistido a tudo de cabeça baixa, se algo não me chamasse a atenção:
— Professor, eu gostaria de mudar minha dupla. — Kevin pediu, a mão levantada.
O professor fez uma careta confusa, olhou pra mim e depois pra ele.
— Mas por que? Vocês foram tão bem, o trabalho de vocês foi o mais bem pontuado da sala. — Ele deu uma risadinha, sem graça. — Certeza que quer fazer isso?
— Sim, prefiro ficar sozinho. — disse, seco.
— Kevin, por favor... — sussurrei, chateada. — Me desculpa por aquilo, será que a gente não pode ser só amigos? Eu gosto muito de você.
— Eu sempre fui um cara legal com você, te ajudei nesse trabalho, te ajudei a achar sua mãe, te dava atenção... e você fala que simplesmente não quer nada comigo?! — falou, sem nem olhar pra minha cara. — Tudo que eu fiz foi pra nada? O que, sou muito feio pra você sequer considerar namorar comigo?! — ele me olhou, irritado. — Não, obrigado, não tem como sermos amigos depois de você ter me iludido dessa forma — Ele voltou o olhar pro professor. — Faço questão de mudar de dupla, por favor.
Olhei pra Kevin, mas ele já não fazia contato visual comigo, irritado. O professor suspirou e deixou ele ficar sozinho só porque o ano letivo estava acabando, mas disse que nosso projeto junto ainda iria valer, observei-o enquanto pegava sua mochila e ia pra outra mesa sozinho, os atletas murmuravam alguma coisa e riam. Suspirei, eu sei que ele devia ta chateado comigo, mas poxa, o que eu podia ter feito? Eu era obrigada agora a ficar com ele só porque ele gostava de mim?
Naquele momento, nada disso importou, só fiquei chateada de perceber que logo após perder Rachel, eu também estava perdendo um amigo.
• • •
Era o dia da apresentação do teatro, os ânimos estavam agitados entre o pessoal, muitos exercícios de respiração, pessoas recitando suas falas sozinhas e um vai e vem da minha parte constante, consertando pequenos erros e dando as direções de todo mundo. Não há dia que um diretor de um teatro se movimente mais do que o dia da peça em si, as tribulações surgem por brotamento, sempre tem alguém faltando e os pulmões chegam a cansar de tanto insistir pras pessoas irem pro lugar devido.
Todos já estavam vestidos e preparados pra entrar, observei Rachel relendo algumas de suas últimas fala do roteiro sentada em frente a uma penteadeira velha, parecia séria. Pensei em falar com ela, inventar qualquer desculpa teatral, podia ser sobre o figurino, alguma fala ou sei lá, o teto do palco caiu e não ia ter mais peça, qualquer coisa que fosse me fazer poder chegar perto dela e trocar cinco palavras que fossem com ela. Mas não fiz nada disso, ela nem estava olhando na minha cara, não teria essa coragem.
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Roteirista do Destino
Teen FictionTW: Bullying, Racismo, Homofobia, Abuso Parental e Alcoolismo. Miranda está no seu último ano do ensino médio e acha que não o aproveitou o suficiente, sempre estudando, preocupada com o futuro... O ambiente escolar nunca foi dos mais agradáveis par...