Não havia levantado nenhuma suspeita sobre estar tentando me reconectar com minha mãe, falei para meu pai que iria dormir na casa de Jessi e voltaria de manhã cedo e ele só assentiu, sem nem tirar os olhos de seu jornal. Estava com sorte até demais naquela situação toda, mas também, não estava reclamando.
Minha mãe sorriu quando abriu a porta.
— Entra, o jantar está quase pronto!
Adentrei a casa e tirei meu casaco, pendurando-o em umcabideiro, fui me sentar na mesa redonda que ficava perto da cozinha. Ela mexiaem uma panela no fogão, o cabelo pequeno em um rabo de cavalo, um pouco de suorescorrendo pelo seu pescoço
— Aqui! — ela disse, sorrindo e trazendo um prato com vários legumes pra cima da mesa. — Kim chi! Você vai adorar, ainda tem mais um... — ela virou-se pra trás, pegou uma panela de pedra com um pano na mão e trouxe-a à mesa. — Esse aqui é Bimbimap.
Ela pronunciava os nomes com a pronuncia estrangeira, parecia animada, sentou-se na cadeira a minha frente e começou a se servir. Peguei meu prato em seguida e também servi um pouco de cada coisa, ela falava sobre os ingredientes das comidas e que eu devia me preparar pra um gosto meio apimentado, assenti, haviam palitinhos de metal e colheres do lado da mesa já posta, resolvi pegar os talheres por não ser acostumadas àqueles utensílios. Dei a primeira garfada na comida.
Era um gosto forte, uma explosão de sabores: Tinha carne, ovos, legumes, arroz, provavelmente um pouco de gengibre e a mistura era algo diferente de qualquer outra comida que eu já tivesse experimentado.
— Gostou? — ela perguntou, assenti. — Que bom, meus pais me ensinaram a fazer, posso te ensinar também, se você quiser. Como foi pra chegar até aqui? O ônibus demorou muito?
— Ah, nem tanto... — dei de ombros, sem fazer contato visual.
Comemos em silêncio por um momento, um clima desconfortável.
— Eu falei pra meu pai que ia pra casa de minha amiga. — contei, tentando quebrar o gelo. — Jessi, lá da escola.
— Hm. — ela levantou o olhar, ajeitou o óculos no nariz. — Amigos de escola, que bom, eles são sempre marcantes. Conta um pouco sobre eles.
Pigarreei.
— Bem, Jessi é bem carismática e cheia de personalidade, ela gosta de escrever e ela fala bastante. Tem Noah, meu melhor amigo, ele é mais tímido só que comigo ele se solta, ele é super sarcástico e desenha muito bem.
— E esse aí é só amigo mesmo? — sugeriu, um sorriso de canto de boca.
— Claro que sim! — rebati, meio ofendida. — Quer dizer... A gente namorou quando a gente se conheceu, mas a gente só tinha doze anos e terminou uma semana depois por que eu discordei que filmes de super herói eram os melhores, mas aí a gente continuou sentando junto nas aulas e acabou continuando amigos, ele é como um irmão pra mim. — contei. — E tem Rachel, ela... — pigarreei. — É legal, inteligente e atua bem.
— Certo. — ela assentiu, sem desconfiar que Rachel não era só minha amiga como fez com Noah.
— Tem a galera do teatro também, mas a gente se vê bem pouco... E Kevin, minha dupla de matemática.
— Você parece bem popular. — ela sugeriu, dando uma risadinha. — Muito mais do que eu na sua idade. Eu vim pra América quando eu era uma criança ainda, eu não sabia falar inglês... Crianças podem ser bem más as vezes, não tive uma infância muito boa. — ela abriu um sorriso sem graça, remexendo a comida no prato. — Meus pais queriam que eu tivesse uma vida melhor, eles trabalhavam muito pra isso, a pressão era grande. Ser a filha inteligente, aproveitar as oportunidades que os esforços deles geravam pra mim, é aquela história toda da minoria modelo: Asiáticos devem ser gênios para conquistar seu lugar, mediocridade é só para os brancos, pessoas como nós precisam brilhar pra serem razoavelmente respeitadas. Eu costumava tentar disfarçar minhas características físicas, principalmente os olhos, com delineador... Sempre foi difícil. — ela me encarou, resisti ao instinto de tocar meus olhos. Eu estava de delineador naquele exato momento, foi como se um nó se formasse em minha garganta, então era por isso que eu só conseguia me senti bem de maquiagem? — Eu fui pra faculdade de medicina assim, lá eu conheci seu pai e tive você... Bem, meus pais morreram pouco depois de você nascer, eu herdei o restaurante aí na frente.
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Roteirista do Destino
JugendliteraturTW: Bullying, Racismo, Homofobia, Abuso Parental e Alcoolismo. Miranda está no seu último ano do ensino médio e acha que não o aproveitou o suficiente, sempre estudando, preocupada com o futuro... O ambiente escolar nunca foi dos mais agradáveis par...