Capítulo 8

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Não consegui parar de pensar nela o fim de semana inteiro.

Passei as músicas dela pro computador e gravei-as em um CD novo, ouvi todas lembrando dela. Tinha várias e várias músicas dos Beatles, a maioria realmente muito boas, havia um pouco de Chicago, Oasis, Avril Lavigne, e Queen também, mas a música que eu fiquei realmente ouvindo até meus ouvidores estourarem foi a música do nosso primeiro beijo. Era minha música favorita agora.

— Sempre gostei dos Beatles, mas sou mais fã do Queen. — meu pai dizia, dirigindo. Tirei um dos fones pra ouvir. — Freddie Mercury é sensacional, mas acho também que os Beatles tem mais músicas.

Assenti pra tudo que ele falava, meio aérea. O que será que Rachel estava sentindo agora? Será que ela também estava pensando em mim? Sorri, lembrando da textura de seus lábios e o gostinho de morango que sua boca tinha por causa do suco. Já é tarde, talvez ela esteja dormindo... Urgh, ela deve ser tão fofa dormindo. Me imaginei deitada do lado dela, fazendo carinho em sua cabeça, beijando seu pescoço... Só queria vê-la de novo pra poder agarra-la e dar uma overdose de todos aqueles sentimentos bons que estavam presos no meu peito.

Mas realisticamente falando, não era isso que ia acontecer na próxima vez que a gente se visse.

Pensei bastante no que aquele beijo que tínhamos dado significava pra minha sexualidade, eu sabia que não era lésbica porque também tinha sentimentos por garotos, tampouco heterossexual, uma vez que meus sentimentos por ela eram ridículos de tão visíveis. Talvez eu fosse uma pessoa fluída? Tivesse momentos lésbicos e momentos heterossexuais, isso era possível?

Não fazia muito sentindo, mas na minha cabeça aquela era a opção mais plausível. Imagino que se eu fico fluindo entre uma sexualidade e outra, eventualmente eu vou ter que tomar uma decisão, entrei em uma guia anônima do computador de meu pai e comecei a pesquisar como a situação da agenda gay estava no nosso país.

Fiquei assustada com os resultados.

O primeiro casamento gay legalizado tinha acontecido no início desse ano, apenas no estado de Massachusetts o casamento do mesmo sexo havia sido legalizado. Todos os outros estados permaneciam proibindo, incluindo Indiana, minha terra natal.

Muitos protestos aconteceram contra essa legalização, eles haviam irritados vários religiosos conservadores. Mas eu só tinha dezessete anos, não precisava me preocupar em casar. O que mais me assustou foram os índices de violência.

Jovens da comunidade LGBT eram os que mais se suicidavam, sofriam bullying e eram expulsos de suas casas. Eram tantas coisas ruins, mas tantas... Crimes de ódio, estupro corretivo, violência policial, censura. Comecei a entrar em desespero, era esse o destino que estava reservado pra mim se eu escolhesse seguir esse caminho?

Indiana não tinha nada de progressista, eu mal saberia que pessoas que não são hetero existiam se eu não ouvisse por aí as piadas de mal gosto, bullying com meus colegas e notícias trágicas no jornal. Não tinha espaço pra eu ser eu mesma, não havia liberdade pra pessoas como eu, porque parecia tão difícil pra as pessoas aceitarem romance entre pessoas diferentes delas?!

Chorei a noite toda pensando nisso, havia passado a desilusão que eu poderia viver um romance de cinema com Rachel. Não era viável, não era seguro e só ia me atrapalhar. E foi por isso que eu fui até ela na segunda falar sobre como eu me sentia.

— Rachel, eu... — Comecei, sem saber o que fazer com minhas mãos. — É... Aqui seu toca discos! Obrigada pelas músicas, elas são realmente incríveis.

Ela sorriu, pegou o toca discos da minha mão e guardou na mochila.

— De nada. — falou, entrelaçando seu braço com meu e me puxando pelo corredor. — Me acompanha até minha sala? É do lado da sua.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora