Capítulo 22

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Passei uma semana inteira deprimida pensando em como tudo estava ruim na minha vida, estava vivendo no piloto automático basicamente, meus amigos não tinham forças pra me ajudar psicologicamente, meu pai não era confiável pra falar qualquer coisa e Rachel... Bem, eu havia a perdido  e isso era parte do motivo de eu estar tão mal. Não tinha ninguém pra falar, estava começando a perder meu juízo.

Para ver como a situação estava saindo dos limites: Não tinha visto filme nenhum em tempos, nem sentia vontade de ver, também não fiz questão de me arrumar pra ir pro colégio, só botava qualquer roupa e ia, até meu delineado teve que ficar pra trás nisso tudo, não tinha mais forças pra faze-lo. Pra falar bem da verdade, não senti vontade de fazer mais nada, só queria ficar na minha cama vegetando pelo resto da eternidade, mas como não era possível, levantava todo dia pra ir pra escola, comia, tomava banho e os fins de semana passei todos enfurnadas no meu quarto dormindo o dia todo, só esperando que alguma intervenção divina acontecesse.

Mas obviamente nenhuma intervenção divina ocorreu, nem existe Deus algum, então meu tempo me sentindo mal por mim mesma foi muito além do que era considerável saudável.

Eventualmente eu cansei de me lamentar e resolvi que estava na hora de fazer alguma coisa, me levantei cedo de manhã, vesti minha calça jeans com as barras dobradas, uma blusa cinza desbotada, fiz um rabo de cavalo e fui até o ponto de ônibus. Esperei, a brisa fresca batendo em meus cabelos, subi no ônibus e fui em direção ao meu destino sem tanta pressa, tirando um tempo pra tentar pensar em qualquer outra coisa, se não as que me incomodavam.

Sua expressão parecia surpresa quando abriu a porta.

— Mia, que inesperado. — Minha mãe riu, abrindo mais a porta. — Entra, coloca os sapatos ali no canto.

Assenti, descalçando os tênis e colocando as meias dentro deles. Ela foi até o sofá, segui-a.

— O que te traz aqui? — ela perguntou, sentando de lado e sorrindo. — Eu ia descer agora pra ir ver como tava o restaurante, hoje eu abro.

— Relaxe, acho que não vai demorar muito. — Declarei, me ajeitando no sofá. — Bem, eu vim aqui por que... — suspirei. — Acho que preciso de alguns conselhos de minha mãe.

Sua expressão neutra se desdobrou, um sorriso iluminando seu rosto.

— Claro, pode falar.

Coloquei as duas mãos sobre o colo, respirei fundo, pegando folego.

— Acho que tudo na minha vida começou a desmoronar. — comecei, olhando pra ela. — Pra começar, meu melhor amigo se assumiu assexual e o relacionamento deles começou a decair por que minha outra melhor amiga começou a ficar insegura, eles terminaram e agora meu grupo de amigos meio que se desfez.

— Ah, que pena. — ela apoiou a cabeça na mão, o cotovelo também apoiado no sofá. — Essas coisas acontecem, depois melhora. Mas talvez você possa falar com eles e passar a andar com eles individualmente, ao invés de em grupo.

— Eu sei, mas eles ainda se amam! — rebati, gesticulando. — Tipo, foi só uma complicação que eles resolveram mal. Eu tenho certeza ABSOLUTA que eles ainda se gostam! É muito frustrante, eu queria ajudar mas não sei como, você acha que tem alguma coisa que eu possa fazer pra ajudar eles?

Ela parou por um instante, ajeitando a almofada atrás das costas e virando de novo pra mim.

— Acho que não, filha. — respondeu, colocando a mão sobre meu ombro. Suspirei. — Mas, ei, você disse que eles se gostam, né? Talvez eles percebam isso por si só, pode relaxar que se for pra ser, será.

Assenti, a cabeça baixa.

— Era só isso?

Não. — respondi, soltando uma risadinha pelo nariz. — Teve muita coisa. Tipo, tem um garoto que gostava de mim da minha sala, Kevin... Ele era minha dupla de matemática, ele não é muito popular nem tem muitos amigos, aí eu fui legal com ele. Só que eu não reparei que ele tava se apaixonando por mim. — Olhei pra ela, suas sobrancelhas arquearam, parecendo surpresa.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora