Capítulo 10

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Eu estava com a cabeça nas nuvens depois do meu encontro com Rachel.

Acordei de bom humor pra ir pra aula, foi ótimo sair com ela e logo depois me resolver com Sam, estava feliz demais. Me arrumei mais do que o normal, com uma maquiagem leve, uma blusa branca de manga e gola rule com uma saia jeans bege quadriculada, além de minha boina cinza, meias longas e meus sapatos marrons fechados. Confesso que um pouco disso era pelo desejo de ficar atraente ao vê-la e tentar impressiona-la, impressionar minha namorada. Meu Deus, ela é minha namorada, é até loucura pensar isso.

Noah tagarelava alguma coisa ao meu lado, peguei meu ursinho carinhoso cor-de-rosa e guardei-o em meu armário, sorri. Virei o olhar pra ele, ele estava de braços cruzados encostado com as costas no armário parecendo enfezado.

— O que você falou mesmo?  — perguntei, batendo a porta do armário.

— Eu disse que... — ele começou.

— Ei! — Mas foi interrompido pela voz que eu mais queria ouvir naquele momento. Rachel parou na minha frente, usava uma roupa despojada, sua calça jeans clara, uma blusa de estampa de lobo com sua jaqueta verde desbotada. Ela abriu um sorriso pra mim. — Uau, cê tá bonita!

Senti meu rosto corar.

— Obrigada... — coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e abaixei a cabeça, com medo que as pessoas a nossa volta conseguissem ver o quanto eu sorria.

— Noah. — Rachel disse, com um aceno com a cabeça. — E aí?

— E ai. — ele respondeu, neutro.

Ela suspirou, dando uma palma e pegando nas alças de sua mochila. 

— Tenho que ir, minha aula já vai começar. — Declarou. — Vejo vocês no almoço.

Ela virou-se pra ir embora, dando uma última viradinha com a cabeça e dando um sorriso super sutil pra mim.

— Tchau! — acenei, meio entusiasmada demais enquanto observava ela partir.

Percebi que Noah me encarava estranho.

— O que foi?

— Tá vendo? É disso que eu tava falando! — apontou pra mim, bufando. — Eu não sei se é uma boa ideia você começar a... namorar com a Rachel sem pensar antes. — ele sussurrou.

Fiz uma careta, ajeitando minha mochila nas costas e andando pelo corredor.

— Você é o que agora, homofóbico? — perguntei, estressada.

— Não, não é isso! — Ele deu dois passos largos pra me acompanhar. — Eu não sou, mas o resto desse colégio é. Não sei se é a estratégia mais inteligente pra sobrevivência no seu ano de veterana.

— Ela não é uma estratégia, eu não ligo pra essas coisas, ela é importante pra mim. — virei o olhar pra ele, aborrecida. — Ninguém vai perceber, relaxe aí.

— E nem é só isso... Como você pode adicionar ela no nosso grupo como se não fosse nada?! Não me leve a mal, eu gosto dela, mas sempre foi só eu você e Jessi!! — Ele reclamou, e foi aí que eu entendi. Não era sobre minha segurança, ou sobre a viabilidade de namorar uma garota em uma cidade homofóbica, era só meu melhor amigo com ciúmes que ele pudesse ser trocado. — Ela pode ser nossa Yoko, já pensou nisso?!

— Quem é Yoko?

— Quem é Yoko?! — questionou, indignado. — Simplesmente a mulher que separou os Beatles!

Deixei escapar um sorrisinho.

— Ela ama os Beatles...

— Você tá perdendo o ponto!

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora