Capítulo 2

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Uma das vantagens de ser uma pessoa tímida que não se envolve em muitos problemas, é que você acaba sabendo tudo sobre todo mundo da escola.

Não que eu não seja provocada, mas digamos que dos males, o menor, em geral, eu passo despercebida e acabo só observando tudo que acontece. Uma das coisas que eu mais aprendi ao longo dos anos é como a dinâmica da escola funciona: Os bonitos e ricos sempre no topo, os considerados feios e mais pobres sempre na base, podendo ter agravantes: Tira notas altas? Mais um ponto. É geek? Gosta dessas coisas de quadrinhos e super heróis? Mais um ponto contra você. Você não é branco? Pior ainda.

Às vezes eu me perco pensando no quanto minha vida parece irrelevante no meio de todo mundo aqui, todos sempre parecem estar fazendo alguma coisa, vivendo intensamente, enquanto eu era apenas uma observadora. É como se esse fosse um filme escolar sobre amadurecimento muito divertido e eu fosse uma personagem secundária, figurante ou qualquer outra coisa sem muita importância pra narrativa. De todos a minha volta, eu só tenho certeza que eu definitivamente não seria a protagonista.

Nesse exato momento, eu estava esperando o professor de matemática entrar na sala e vendo Nick e Josh – os dois idiotas do time de futebol – rindo alto e comentando alguma coisa nojenta sobre suas namoradas, coisas que eu provavelmente nem ficaria sabendo se tivesse uma vida interessante e não tivesse que ficar prestando atenção na conversa dos outros pra me distrair.

O melhor jeito de sobreviver ao ensino médio é bem simples: Aceite sua posição e não lute contra ela, é como um país com uma hierarquia super bem definida, mobilidade social zero. Aceite que você é nerd, aceite que você nunca vai ter o prestígio deles e ande de cabeça baixa no corredor, não ouse se opor ao sistema de poder. Pelo menos foi assim comigo.

― Bom dia, classe! ― o professor entrou na sala, com duas pastas amarelas debaixo do braço. ― Como vocês estão? Espero que bem. Mas vamos direto ao ponto. ― Ele sentou na cadeira de professor e colocou as duas mãos em cima da mesa. ― Nosso primeiro trabalho aqui em Álgebra II vai ser uma pesquisa, sobre a Teoria das Representações, pra estudar estruturas algébricas abstratas representando-as como simetrias em espaços lineares. ― ele sorriu, percebi os atletas se entreolhando, segurei a risada. Bem, ta aí uma coisa que eu consigo vencer deles: notas. ― E vamos fazer em duplas! Podem começar a se formar, será o primeiro trabalho pontuado do semestre.

Murmurinhos começaram a ecoar pela sala, geralmente eu fazia o trabalho com qualquer outro nerd que não fala muito, mas dessa vez, não estava achando ninguém. Até que avistei Lucy, uma das garotas do teatro, fizemos contato visual e ela se aproximou vindo em minha direção, até que fomos interrompidos pelo ranger da porta de entrada pra sala.

Um garoto entrava, eu conhecia ele, Kevin. Parecia envergonhado.

― Licença. Posso entrar, professor?

― Pode, pode sim, Kevin ― o professor sorriu, chamando-o. Ele colocou a mão no ombro de Kevin quando ele se aproximou, olhou em volta da sala. ― Todas as duplas já formadas? Será que não tem ninguém mais aqui pra fazer dupla com o colega?

Ouvi risadinhas pela sala, pude ver o corpo do garoto se encolher de longe. Ele não era bem do tipo popular, era um dos níveis mais baixos da pirâmide, em minha percepção. Nerd, Geek, esquisito e muito ruivo, mas não ruivo igual os galãs em filmes, seu rosto era todo cheio de sardas e sua armação dos óculos era uma das mais feias que eu já tinha visto. Nick amassou uma bolinha de papel e jogou nele, batendo em sua bochecha.

― Vai fazer dupla com quem, ferrugem? ― ele riu, revirei os olhos. Ah, a criatividade.

— Galerinha, por favor! — o professor reclamou, gesticulando pra eles pararem.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora