Capítulo 3

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Havia chegado o dia do meu encontro com o Sam e eu não conseguia fazer nada além de surtar.

Passei o dia inteiro inquieta, sem conseguir fazer nada em especifico, só pensar na noite que viria e tentar matar o tempo, o dia demorou uma eternidade pra passar. Me arrumei num prazo relativamente cedo demais, colocando meu suéter branco, macaquinho com saia preta, além da minha boina francesa preta que estava perdida no meu armário e resolveu aparecer nesse momento oportuno. Claro, e o delineado. Não saio pra lugar nenhum de delineado.

Ele passou na porta de casa uns dez minutos antes do combinado, me levou no seu carro antigo pra o clube que iriamos. Mal conversamos durante o percurso.

― Você tá bonita ― ele sorriu, abrindo a porta do salão.

Senti meu rosto corar, coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

Era um daqueles clubes com uma pista de patins e uma lanchonete do lado, passamos na entrada pra alugarmos os patins, calçamos e fomos patinar.

Minhas mãos suavam frio, e por ser tão ansiosa e não saber andar de patins, eu não tinha a mínima ideia do que fazer com minhas mãos. Ele puxou assunto, mas meio que estava travada demais pra acompanhar.

― Eu estudei na mesma escola que você estudou, sabia? Não gostava muito de lá na época, os caras mais velhos me provocavam, mas acredite, a impressão é que esse sofrimento é eterno, mas não é, as coisas melhoram na faculdade — contou, enquanto patinava ao meu lado — Mas claro, outros problemas também surgem, quando eu falei pra meu pai que queria fazer História da Arte ele pirou total, disse que não dava dinheiro, que eu ia virar hippie fracassado... Ele é desse tipo que só valoriza cursos de exatas, sabe? Ele queria que eu pegasse meu diploma em ciências políticas ou ciências da computação, ele dizia que eram as profissões do futuro, e ele é bem do tipo empreendedor. ― Virou pra mim, olhei de relance, era difícil olhar pra ele enquanto tentava patinar sem cair. ― Mas eventualmente ele aprendeu a aceitar, não tinha jeito. Não vale a pena viver a vida sem fazer o que você ama, você tem muita sorte de seu pai de apoiar no seu sonho de ser cineasta.

Assenti com a cabeça, sem dizer mais nada. Não é que eu não tava prestando atenção, muito pelo contrário, mas é que eu tava com medo de falar alguma coisa errada e, sei lá, cair de cara com os patins e todo mundo a minha volta rir de minha cara. Não que faça sentido, mas era mais ou menos o que eu tava sentindo ali.

Ficamos em silêncio, ele estava super fofo, com sua blusa de manga curta de botão e uma gravata borboleta vermelha. Tentei não surtar, mas tudo piorou quando eu vi uma menina do outro lado da pista que era igualzinha a Rachel – quer dizer, pelo menos de costas ela parecia igualzinha. Não sei o que tinha dado em mim, mas minha mente estava uma bagunça total.

― Ei, encosta aqui. ― Sam falou, deslizando com os patins até a lateral da pista, acompanhei-o. ― Você tá bem? Eu falei alguma coisa que te chateou?

― Não, não é isso! É que... Eu... ― tentei falar, sem encontrar as palavras adequadas. Suspirei. ― Eu sou um desastre total e nunca fui em um encontro antes, não que eu nunca tenha beijado um garoto, mas tipo, eu nunca estive numa situação assim. ― gesticulei, meio que me atropelando nas palavras. ― Me desculpa.

― Ei, ei, calma ― ele colocou as mãos em meus ombros. ― Vamos sair daqui, melhor a gente conversar lá.

Saímos da pista e fomos tirar nossos patins, um silêncio desconfortável. Sentamos em uma das mesas da lanchonete, escondi minhas mãos no meu colo, olhando pro lado.

― Você gosta de milkshake de chocolate? ― ele perguntou, assenti confusa. ― Então você pode me trazer um grande, por gentileza? ― ele virou-se pro garçom, que assentiu. ― O milkshake aqui é enorme, da pra gente dividir.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora