Capítulo 9

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A sensação de encarar os olhos de uma pessoa que você beijou até não poder mais e não poder fazer nada é bem estranha. Foi assim o resto da semana, encontrando Rachel nos corredores, salas, nos ensaios do teatro... Trocas de olhares discretos, acenos, sorrisos de canto de boca. Como se fosse um segredo, algo só nosso, guardado em um cofre com chaves que apenas nos duas tínhamos acesso.

Não tínhamos decidido nada concreto sobre nós duas, só que iriamos continuar nos vendo e ver onde isso iria dar, marcamos de sair na sexta à noite, esperei ansiosa a semana inteira. As únicas pessoas que estavam sabendo eram Noah e Jessi, mas eles continuavam em um clima esquisito, Jessi parecia quase que irritada quando interagia com ele.

— Você leu meu capítulo novo, Mia? — ela me perguntou quando nos três estávamos sentados juntos na hora do almoço. — Eu escrevi uma cena de sexo entre o Mutano e a Ravena! Meu público do Spirit pirou, tá todo mundo me pedindo mais cenas assim!

Ela encarou Noah por um segundo e desviou o olhar, pude perceber a indireta.

— É, eu vi. — Assenti com a cabeça, a cena não era nem um pouco realista, se vocês me perguntam, mas não queria dizer nada pra ela, principalmente quando ela parecia ter gostado tanto da cena.

— Eu detestei — Noah comentou enquanto jogava seu game boy, o cenho franzido e sem sequer tirar os olhos do jogo. — Cenas de sexo assim do nada não acrescentam nada na história, fica parecendo que você tá desesperada por visualizações e tá querendo chocar seu público.

— Ou talvez, quem sabe, eu só tenha escrito uma cena de sexo por que o Mutano e a Ravena são um casal e é normal que casais façam sexo — ela rebateu, irritada. — Eu acho bem machista de sua parte me chamar de desesperada só por que eu sou uma garota que não tem medo de escrever sobre sexualidade.

— Eu não to sendo machista, só to dizendo que é ridículo quando você tá lendo uma história e do nada vem uma cena de sexo longa, explicita e que não acrescenta nada. To falando como uma pessoa de seu público, é só uma crítica construtiva, quero o melhor pra sua história. — Gesticulou com o jogo na mão, ofendido. — E a propósito, não vou desenhar a cena de sexo deles, não adianta insistir. Isso é nojento.

Jessi revirou os olhos e já estava abrindo a boca pra rebater o comentário, mas eu me adiantei:

— Será que vocês poderiam, por favor, falar sobre o que vocês tão sentindo?! — pedi, impaciente. — Eu não aguento mais vocês brigando, só conversem sobre isso e se resolvam!

Os dois me encararam, depois se olharam e bufaram.

— Certo. — Noah falou, derrotado.

— Talvez seja melhor mesmo. — Jessi completou.

Sorri, aliviada, o sinal tocou e seguimos cada um nossos caminhos para aula, já com esperança de um clima melhor e menos hostil entre a gente. Ao contrário deles dois, minha vida amorosa estava ótima e eu não poderia estar melhor com Rachel, passava todas as aulas pensando nela em nosso encontro, estava super animada, não conseguia pensar em mais nada.

Quando a sexta enfim chegou, não podia estar mais nervosa. Coloquei uma blusa branca de manga comprida por debaixo de meu vestido de alcinha quadriculado pra me proteger do frio, estava checando minha maquiagem e arrumando compulsivamente meu cabelo já penteado quando meu pai chegou no quarto:

— Você anda saindo muito. — foi tudo que ele falou, sem nenhum tom de voz denunciando suas intenções.

— É que eu não to falando muito com o Sam. — contei, pensando na primeira coisa que vinha na minha cabeça. — Eu fiquei meio chateada com ele e fiquei de sair com uma amiga pra me distrair, acho que é melhor assim. Até fiz novas amigas! Rachel, você tem que conhecer.

Roteirista do DestinoOnde histórias criam vida. Descubra agora