Capítulo 2 - Abraços

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​HOSEOK ✳ON✳


O táxi que leva a garota embora some no horizonte. Desfaço o sorriso plástico do rosto e finalmente liberto um som áspero de frustração, deixando uma sombra escura e fria velar minha alma machucada.

Enterro as mãos nos bolsos da calça e começo a andar cabisbaixo, revivendo na mente as palavras da Bella. Ela terminou comigo porque a família nunca aceitaria o seu namoro com um órfão. Explicou que a minha vida instável dificultava tudo e que havia um abismo entre mim e o outro rapaz com quem ela também se encontrava. Era melhor eu aceitar que não posso competir com ele, nem com ninguém. 

"Minha vida teria sido diferente se eu tivesse sido adotado..."

Agito a cabeça gravemente, tratando de afastar esse pensamento doloroso que teima em escapar por uma fenda irreparável da consciência.

Um coração partido faz parte da vida, não devo me diminuir por nada. 

Sinto orgulho por ter escolhido o meu próprio caminho até aqui. Sou abençoado e feliz por ter o Suga como meu melhor amigo e apoio. 

Pensar nele sempre melhora o meu humor, somos um único ser dividido em dois corpos. 

Quando dobro uma esquina próxima à estação de metrô, percebo uma movimentação estranha atrás de mim. Assim que eu me viro para ver o que é, sou agarrado pela camisa e surpreendido com um soco no rosto.

Solto um palavrão ao reconhecer o agressor. É o "escolhido" de Bella querendo acertar as contas. Eu e ele nos atracamos na rua até que dois transeuntes separam a briga.

Volto para casa arrasado. Tenho a boca inchada, um dente parcialmente quebrado e o anel de ametista, roubado. O desgraçado deve tê-la seguido e visto TUDO o que rolou no restaurante, inclusive o momento humilhante em que o anel foi recusado porque ela simplesmente não podia aceitar a jóia de alguém ferrado como eu. Isso a mataria de remorso. 

Entro em casa. O ruído do aspirador de pó que vem do quarto toma conta do apartamento, mas não chega a ser um incômodo. Suga precisa desse barulho quando dorme sozinho. 

Pego uma garrafa de vodca e afundo o corpo exausto no velho sofá. Jogo a cabeça para trás e viro a garrafa na boca machucada, fazendo a cascata de fogo líquido chegar o mais rápido possível no estômago.

“Oh, Deus, eu precisava disso!"  - constato com alívio após atacar mais um gole.

-- Hoba! O que houve com seu rosto?

Olho em direção à voz preocupada de Suga. Seu jeito bagunçado e sonolento é adorável. 

-- Nada demais, querido. Lugar errado, hora errada - minimizo, inalando o  cansaço e viro outra dose.

Ele pega um tubo de pomada para hematomas no banheiro e se junta a mim no sofá. A touca dele cai durante o percurso, libertando seus cabelos claros e macios com cheiro de menta. 

Deixo que ele cuide de mim, mas tenho ímpetos de beber mais. Após um tempo, tento erguer os olhos para ele e a sala gira.

-- Como quebrou o dente? - ele inclina sua cabeça para mim com um olhar inquiridor.  

Posso mentir que foi um acidente idiota, mas estou bêbado e prefiro desabafar. 

Ao fim da história, estou aos prantos nos braços consoladores de Suga. Culpo a bebida pelo meu sentimentalismo barato, mas sinto algo intenso transbordando em mim naquela noite.  

Suga drena o resto da garrafa e se levanta. Veste a minha jaqueta, pega as chaves em cima da mesa, guarda a carteira no bolso e anda até a porta com ar decidido.

Por que você complica?💘 [sope/yoonseok]Onde histórias criam vida. Descubra agora