4- É porque eu te quero

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ANDY CADMAN

  O silêncio confortável caiu sobre nós a algum tempo, porque depois dele se confessar apaixonado por mim, eu fiquei pensativo, não de um jeito ruim. Eu não planejava me afastar dele, pelo contrário, eu não tinha tantos amigos, talvez nenhum, mas não posso dizer que o que disse não mexeu comigo, porque mexeu.

Deitados sobre o gramado, rostos próximos, nos encarando tão intensamente como nunca antes. Eu estava extasiado por aquela sensação, seus olhos verdes sendo iluminados pela pouca luz, me deixando vidrado quando por poucos segundos, ele alternava o olhar entre meus lábios entreabertos, e os meus olhos, mas eu não iria ceder, eu não podia, não queria me colocar em um escândalo.

   Foram horas conversando, dançando, eu nem vi o tempo passar, e talvez não fosse tão tarde, ainda podia ouvir a música abafada, por estarmos longe demais daquele salão. Surpreendentemente, o silêncio foi quebrado por ele.

── Vamos embora daqui? ── ele sussurrou, levando uma das mãos até o meu rosto e afastando alguns fios de cabelo.

── Embora? Mas não acabou ainda ── no mesmo tom de voz que ele, mantendo o contato visual.

── A intenção é eu te seduzir até a minha casa ── dessa vez sua fala veio acompanhada de um riso. ── Eu só quero sair daqui, preciso tocar para não fazer nenhuma coisa de que vou me arrepender depois. Então, vem comigo? ──

Era simples, uma única palavra, três letras, eu só precisava dizer que não, que talvez ainda não estivesse pronto para ficar em um lugar sozinho com ele, em uma casa sozinho com ele, mas aquela proposta fez meu coração se acelerar, e um sorriso se esboçou em meus lábios antes da minha resposta.

── Eu quero muito ── me arrependi no mesmo momento, mas não desisti, ele estava tão empolgado.

Nos levantamos, ele pegou seu rádio, e assim saímos em direção as carruagens, mais especificamente para a de sua família, mas ainda não sabíamos como íamos fazer para convencer o boleeiro a nos levar até a casa Mackenzie, felizmente Drake tinha um plano, e eu nem quis saber muito sobre.

  Eu me mantive escorado na carruagem, enquanto ele falava com o homem que ali estava, e por algumas caretas que fazia, deduzi que seu plano não era dos melhores, mas me provou que estava errado ao se virar para mim com um sorriso enorme, e os dois dedões levantados em minha direção.

── Entra, temos que ser rápidos ── Ao que falava, ele abriu a porta para mim, e eu adentrei, ainda hesitando internamente.

Ele entrou logo em seguida, se sentando de frente para mim, e dando dois tapinhas pelo lado de fora para que a carruagem começasse a andar finalmente, causando a sensação de adrenalina em mim.

── O que disse para ele? ── me interessei em saber, ouvindo uma risada vinda dele.

── Nada demais, apenas disse que contaria ao meu pai quem está pegando do estoque de biscoitinhos de canela dele ── ele parecia realmente fazer de tudo para conseguir o que quer. ── E ameacei que ficaria sem emprego se falasse sobre eu estar levando você ──

── Você não existe, Drake ── na verdade, eu o admirava por ter essa coragem.

    Silêncio. Assim fomos o restante do caminho até a casa dos Mackenzie. Vez ou outra eu desviava o meu olhar para Drake, que parecia evitar contato visual comigo, e pela primeira vez desde que nos conhecemos, não tínhamos mais assunto para falar.

Não demorou muito até que a carruagem parasse em frente a casa, que parecia grande demais para a quantidade de pessoas que moravam nela, mas se eu conhecia bem o Charles, ou achava que sim, ele deveria adorar toda mordomia.

Cartas para Andy Cadman [LGBTQIA+]Onde histórias criam vida. Descubra agora